Nem o risco de um câncer de pele impede uma prática proibida no Brasil desde 2009: o uso de câmaras de bronzeamento artificial. Em Caxias do Sul, a maior parte dos estabelecimentos que oferece o serviço age discretamente, em salas isoladas, mas há locais que informam na placa ou em cartões de visita.
De 25 salões consultados pela reportagem, sete admitiram oferecer pacotes de até 12 sessões por preços que variam de R$ 150 a R$ 280. Na semana passada, a reportagem visitou sem se identificar dois estabelecimentos que oferecem o tratamento estético e ainda negociou a compra de uma câmara que era oferecida no Facebook, indicativos de que a irregularidade é comum. O procedimento é proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
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Para tentar convencer a repórter a comprar a máquina, uma mulher chegou a afirmar que o equipamento pode curar a asma, o que é desmentido por médicos. Embora a fiscalização seja praticamente inexistente, há quem prefira manter o negócio apenas para conhecidos ou com indicação.
Em uma loja de roupas que oferece o serviço no segundo piso, no bairro Lourdes, a atendente só confirmou o serviço após insistência. Nos dois salões visitados, que oferecem serviços como manicure, a reportagem tentou negociar pacotes de 200 minutos de bronze por R$ 150 ou R$ 200. As sessões iniciais duram 15 minutos cada.
Em um deles, a atendente admitiu, no final da conversa, sobre os riscos. Os dois pontos ficam em galerias do bairro São Pelegrino.
– É que não faz bem para a pele. É o acúmulo do que tu vai fazer. É isso que tem que cuidar sempre – disse a mulher.
No outro salão, a atendente respondeu diferente quando questionada se há riscos para a saúde:
– Não, bem pelo contrário.
Como a prática é camuflada na maior parte dos estabelecimentos, internautas usam grupos de classificados no Facebook para trocar informações sobre onde fazer o bronze. Em 2013, a reportagem do Pioneiro constatou que a prática persistia na cidade.
A fiscalização cabe à vigilância sanitária de cada município. Na época, a prefeitura disse que não costumava organizar força-tarefa para identificar a irregularidade mas que, ao encontrar máquinas, agentes as lacravam. Quem mantiver o serviço pode ser multado.
Risco de câncer e envelhecimento da pele
Segundo a dermatologista Sabrina Kahler, o método de bronzeamento artificial causa envelhecimento precoce da pele e traz risco de câncer. Os problemas podem não ser imediatos, mas se manifestam a médio e longo prazos.
– Os malefícios são irreversíveis. Oriento meus pacientes a não fazer, da mesma forma que digo para não pegar sol em horários críticos – aponta.
Segundo a dermatologista, existe um tratamento médico chamado de fototerapia, utilizado para casos como psoríase e amarelão. Porém, nestes casos o procedimento é realizado em clínicas especializadas.
– É diferente do bronzeamento artificial. Depende do tipo de lâmpada, do tempo de exposição. Aí, sim, beneficia para algumas doenças, mas é sempre com acompanhamento médico – esclarece.
Ainda segundo a médica, o uso de protetor solar não é suficiente para evitar o dano na câmara:
– Não faça porque não existe comprovação de que a pessoa vá deixar de ter um câncer porque passou protetor (antes do bronzeamento artificial).
Quanto ao método de bronzeamento a jato, segundo Sabrina, não há restrições médicas, porque na verdade o procedimento funciona como se fosse uma maquiagem.
CONTRAPONTO
O que diz a Vigilância Sanitária de Caxias do Sul
A fiscalização ocorre por meio de denúncias ou nas vistorias de rotina. Conforme Rochele Biasus, da Vigilância Sanitária, as vistorias de rotina visam a averiguar todas as condições sanitárias do estabelecimento e ocorrem conforme a demanda.
Segundo ela, a periodicidade ideal seria a cada dois anos, mas nem sempre a equipe consegue cumprir, já que são quatro fiscais responsáveis por salões de beleza, escolas, asilos, academias, hospitais e outros estabelecimentos.
Ela estima que, no ano passado, tenham sido recebidas cerca de 10 denúncias a respeito das câmaras de bronzeamento.Rochele explica que a máquina é interditada e não o estabelecimento – os fios que a ligam à tomada são lacrados. A vistoria é refeita também de acordo com a demanda. O valor da multa é definido pela vigilância conforme o caso e não há uma estimativa média para os flagrantes de câmaras de bronzeamento.
As multas para infrações sanitárias em geral variam entre R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão, conforme o caso e o porte do estabelecimento.