A Secretaria Municipal de Cultura reuniu representantes de escolas de samba de Caxias do Sul na tarde desta terça-feira para confirmar uma informação que muita gente já esperava: o município não irá disponibilizar recursos para ajudar as agremiações nos desfiles do Carnaval 2017. A secretária municipal de Cultura, Adriana Antunes, também confirmou que não haverá verba para cachês, instalação de arquibancadas, sonorização, Plano de Prevenção e Combate a Incêndios (PPCI) e banheiros químicos.
Em 2016, a prefeitura repassou cerca de R$ 380 mil, R$ 200 mil a menos que em 2015. O valor da premiação para as escolas ficou em R$ 318 mil, divididos entre nove agremiações. A campeã recebeu R$ 57,9 mil, e a vice, R$ 45.400.
– O orçamento vem caindo e o que existe em caixa hoje é um valor muito enxuto, suficiente apenas para as demandas da secretaria – justificou Adriana, citando a manutenção dos serviços e equipamentos já existentes como bibliotecas, museus, Casa da Cultura, e unidades de cultura popular, entre outros.
De concreto, para este ano, a secretaria concorda em ofertar apoio institucional por meio de serviços como fiscalização de trânsito, segurança, distribuição de água, limpeza e ambulâncias.
Integrante do conselho da Associação das Entidades Carnavalescas de Caxias do Sul (Assencar), Cassiano Fontana, também presidente da Escola Unidos do É o Tchan, disse que a oferta era uma "piada".
– Achavámos que seria um valor simbólico, mas não que iriam cortar tudo. Há 20 anos estamos construindo o Carnaval de Caxias do Sul e nenhum dos governos deixou de nos ajudar – criticou, citando as administrações de Pepe Vargas (PT), José Ivo Sartori (PMDB) e Alceu Barbosa Velho (PDT).
O único ano em que não houve ajuda do município foi em 2010, quando uma auditoria da prefeitura apontou problemas na prestação de contas dos R$ 358,7 mil cedidos à antiga Liga Carnavalesca para realização dos desfiles em 2008.
No final da tarde, após a reunião, representantes das escolas Pérola Negra, Unidos do É o Tchan, XV de Novembro, Acadêmicos do Arsenal, São Vicente e Filhos de Jardel reuniram-se e decidiram que vão fazer o Carnaval mesmo sem o incentivo público.
– Já compramos tecidos para fantasias, material para renovar instrumentos. Mesmo que eles (prefeitura) não queiram, não vamos desistir – garantiu o presidente da Acadêmicos do Arsenal, Alexandre Silva.
De acordo com ele, o investimento para garantir a apresentação de quesitos na avenida (comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeiras, passistas e porta-estandarte), muitas vezes contratados de escolas maiores de Porto Alegre, Uruguaiana e até do eixo Rio-São Paulo, custa em torno de R$ 20 mil. Sobram ainda gastos com tecidos, plumas, lantejoulas, transporte e serviços de costura, entre outros. Pequena parte desses recursos vem de festas, rifas e eventos promovidos pelas escolas.
Também ficou definido ontem que as escolas estarão presentes na sessão da Câmara de Vereadores da próxima terça-feira, para protestar e pedir apoio ao Legislativo.
Apoio para capacitação
A ideia da secretária de Cultura a partir de agora é prestar suporte para que as escolas se qualifiquem para o Carnaval do próximo ano, ajudando na capacitação de agentes para a construção de projetos de captação de recursos via leis de incentivo, intermediando parceiras com cursos de Moda e Design de instituições de ensino da cidade para a confecção de fantasias e alegorias e fomentando oficinas de qualificação. A intenção, conforme Adriana, é trabalhar para que o Carnaval caxiense se torne autossustentável daqui para frente.
_ Trata-se de uma nova forma de construção, para que eles possam se tornar mais independentes e o carnaval possa continuar trabalhando com o envolvimento da comunidade _ complementa a secretária.
Presidente da Escola de Samba Acadêmicos do Arsenal, do bairro Reolon, Alexandre Silva critica a falta de apoio do município a projetos inscritos para receber recursos via Financiamento da Arte e Cultura Caxiense (Financiarte).
_ Já estamos cansados de bater na porta da secretaria e não receber nada. Em 2010, inscrevi um projeto para criar uma oficina de percussão musical. Me descartaram alegando que o projeto era muito barato – exemplifica.