Se o diagnóstico de um tumor já é suficiente para tornar angustiante a rotina de uma família, a espera pelo atendimento do sistema público de saúde beira ao insuportável. Desde o fim outubro, a tecelã Lourdes da Silva, 66 anos, peregrina entre consultas, exames e laudos para tentar marcar a remoção de um tumor de quase nove centímetros. Já se somam dois meses da consulta ao especialista até vislumbrar a data possível para uma cirurgia. Dia a dia, a espera se torna mais dolorida.
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– Eu já perdi 10 quilos e não consigo mais comer porque os remédios são fortes_ lamenta Dona Udi, como é conhecida no bairro Marechal Floriano.O entrave agora é a disponibilidade de leito de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) pós-operatório. Ela chegou a ser instruída para levar as roupas ao hospital onde faria a cirurgia na sexta-feira passada, mas precisou retornar para casa. A falta de leitos de UTI é um problema crônico pela demanda represada e que se agrava com as dívidas acumuladas pelos governos junto a instituições de saúde. Tanto no Hospital Geral (HG) quanto no Pompéia, dificilmente há vagas. No caso de Dona Udi, o quadro é considerado como urgente desde o primeiro exame. Além disso, é o segundo tumor que ela trava luta. Há quatro anos, precisou fazer uma intervenção na mama, o que rendeu tratamento com radioterapia em Bento Gonçalves.
– Não sabemos mais o que dizer para ela. Nos sentimos impotentes. Imagina que podemos ir de novo para o hospital pensando em fazer a cirurgia e, talvez, ter que voltar para a casa porque não tem leito. Há quatro anos, o problema do câncer de mama foi resolvido muito mais rápido, tínhamos outro tipo de atendimento – compara a filha Jaqueline.
Dona Udi nem lembra a última vez que deixou a cama para uma atividade que não fosse ir ao banheiro. O tumor alojado no rim esquerdo causa tanta dor que o apetite sumiu e inviabiliza qualquer caminhada. As máquinas de costura estão paradas, e para aplacar a sensação incômoda, somente com remédios fortes.
Cirurgia pode ser realizada em fevereiro
São cinco pacientes em situação de emergência que esperam por um leito em UTI pós-cirúrgico em Caxias do Sul, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde. No Pompéia, a demanda é tanta que há pessoas que chegam a aguardar por uma cirurgia por até 25 dias dentro do hospital. A situação de Dona Udi é imprecisa nos órgãos de saúde. Ainda não há requisição de cirurgia no SUS, conforme a secretaria de Saúde. No dia 13 de janeiro, ela foi encaminhada para cirurgia no HG e o pedido foi autorizado no dia 17. Agora, resta que a papelada seja encaminhada e o médico marque o procedimento, sinalizando que precisa de vaga em UTI. Portanto, a expectativa é que a tecelã seja atendida em fevereiro.
Segundo a assessoria do HG, casos de tumor são prioritários. Um possível desencontro de informações entre paciente, o hospital e a unidade básica de saúde (UBS) pode ter provocado o atraso. Cirurgias eletivas em Caxias, no entanto, não estão represadas, situação frequente no ano passado.
– A fila está andando, não estamos precisando segurar procedimentos. É claro que não é possível realizar todas as cirurgias necessárias imediatamente, é preciso respeitar o teto da secretaria de Saúde. Mas a situação está melhor – avalia a superintendente do Hospital Pompéia, Daniele Meneguzzi.
LEITOS DE UTI
Caxias tem 31 leitos de UTI para adultos em Caxias pelo SUS. Nesta quinta, a maioria estava ocupada.