O Inventário Municipal de Arborização Urbana de Caxias do Sul 2016, cujo resultado foi apresentado ontem pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, provocará uma mudança que pode levar pelo menos 20 anos para ser sentida. Depois do mapeamento dos pontos de preservação e das espécies encontradas na cidade _ e as que merecem mais atenção por estarem em extinção _, um trabalho minucioso terá como missão ampliar a biodiversidade e cuidar da vegetação existente. Foram contabilizadas 463.982 árvores em áreas verdes do perímetro urbano.
Por meio do estudo, que levou 14 meses para ficar pronto, chegou-se à conclusão de que o índice de área verde (IAV) é de 14,22 metros quadrados por habitante, próximo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 15 metros quadrados por habitante. O inventário foi elaborado por uma empresa terceirizada, custou R$ 600 mil, e está dividido em duas linhas de ação. A primeira elencou 45 áreas consideradas como prioritárias para conservação da Mata Atlântica, em espaços públicos, de uso da sociedade. Um dos exemplos mais comuns destes espaços é o Parque dos Macaquinhos, segundo a bióloga Vanise Sebben.
– Ele se torna prioritário por várias razões. Além de ter espécies preservadas, imunes ao corte, há espécies em extinção, além dos plátanos tombados pelo município. Estes apresentam a presença de erva de passarinho e precisam de manejo – explica Vanise, descartando o corte das espécies.
Enquanto uma área no bairro Sanvitto impressionou pela quantidade de lixo acumulado, um espaço no bairro Charqueadas é um exemplo de árvores preciosas: foi catalogado um ipê de pelo menos 600 anos dividindo espaço com uma invasão, o que ilustra a necessidade de mais atenção nestes espaços públicos.
– Não esperávamos encontrar este material na área urbana. Foi uma grata surpresa. Mas entendemos que apesar de Caxias ter um alto número de árvores, há pouca variação de biodiversidade. Isto será trabalhado – afirma a bióloga.
A segunda linha de trabalho identificou a presença de 553 árvores em extinção, e também situações em que há conflito entre as espécies e passeios públicos, prédios, rede elétrica ou placas de sinalização, por exemplo. A secretaria deverá encaminhar as adequações para esta situação.
– Há situações em que a árvore não tem que sair, quem sai é a placa –exemplifica Vanise.
OS DADOS
:: Foram estimadas 463.982 árvores nas áreas verdes da cidade, de 130 famílias botânicas e 647 espécies.
:: Das 151 espécies exóticas, 41 são invasoras, 9 são invasoras agressivas e 4 são invasoras extremamente agressivas.
:: 147 áreas verdes apresentam 51% de sua área ocupada por espécie exótica.
:: 593 hectares da área urbana são florestados.
:: 25.888 árvores são de espécies nativas do Rio Grande do Sul e a mais frequente é a pitangueira, com 3.988 exemplares.
:: 35.713 árvores são de espécies exóticas, e a mais frequente é o ligustro, com 5.626 exemplares.
:: Foram inventariadas 64.122 árvores em calçadas e canteiros públicos.
:: 55.829 árvores apresentam algum tipo de conflito com equipamento público: fiação (9.351), pista de rolamento (3.725), proximidade com esquina (3.100), com outro indivíduo (2.564), passeio público (30.306), edificação (2.293), placas de sinalização (769), rede elétrica ou iluminação (1.660), proximidade com boca de lobo e hidrante (1.881) e semáforo (52).
O estado fitossanitário das árvores é dividido em:
:: 30.222 exemplares considerados bons.
:: 1.496 exemplares ruins.
:: 26.777 exemplares em estado regular com avarias.
:: 2.411 em estado regular com parasitas.
:: 719 velhas.
:: 530 mortas.
:: 553 árvores são ameaçadas de extinção ou imunes ao corte.
:: A biodiversidade das espécies arbóreas das vias e canteiros públicos é mínima. Enquanto o coeficiente de mistura de Jentsch deveria ser próximo de 1, o encontrado em Caxias é de 0,006.
Árvores em extinção*
Dicksonia sellowiana - Xaxim
Araucaria angustifolia - araucáriaFicus cestrifolia - Figueira
Myrocarpus frondosus - Cabreuva
ErythrinafFalcata - Corticeira da serra
*Cinco espécies em extinção mais comuns em Caxias do Sul