A avenida mais importante de Caxias do Sul cada vez mais expõe chagas sociais. Durante o dia, a Júlio de Castilhos é disputada palmo a palmo por ambulantes que buscam as calçadas para sobreviver e travam conflito diariamente com comerciantes legalizados e a fiscalização. À noite, o cenário muda: vitrines de lojas cerradas logo no fim da tarde atraem um público marginalizado.
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Entram em cena ladrões e viciados em drogas, que afugentam famílias que poderiam ter na avenida uma opção para passeios a pé, por exemplo. É um cenário que migra para a Praça Dante Alighieri, outro ponto temido quando o movimento de público baixa depois das 20h. O medo faz com que lojistas e moradores do entorno da praça e da Júlio evitem circular à noite para não correr risco de assalto ou agressão.
Apesar dos sinais de que esses espaços perderam o caráter de convivência, sequer há projeto ou debate para reverter o quadro. Áreas semelhantes em outras cidades do país também enfrentaram problemas graves por falta de atenção ao longo de anos: a temida cracolândia no centro de São Paulo só surgiu por falta de investimentos e ações em ruas específicas.
Além de restaurantes e bares de São Pelegrino e parte de Lourdes, que possuem vigilância privada, não há atrativos para que a população ocupe os demais pontos da avenida.A Júlio também é prostíbulo para mulheres e travestis, que entram em cena nas esquinas no início da noite, provocando constrangimento. Há também um problema social: marquises e entradas de lojas e prédios se transformaram em dormitório de moradores de rua.
– Os moradores de rua não são incômodo. Eles até garantem que a loja não vai ser assaltada. O problema é o consumo de drogas e a sujeira dos que se drogam. Esses dias, tinha uma cena tão deplorável que minha colega vomitou. Sobrou pra mim limpar – afirma uma atendente de loja próximo da Praça Dante Alighieri.
Não há pudor no consumo de drogas pesadas como crack. Um comerciante relata que gravou em vídeo um homem acendendo um cachimbo de crack no degrau de uma das lojas há cerca de duas semanas, a menos de uma quadra da Praça Dante. Detalhe: era final de tarde.
O empreendedor convive com outra situação difícil: debaixo do seu comércio, onde funciona um estacionamento durante o dia, uma rampa inclinada e sem luminosidade virou um ponto para encontros sexuais e consumo de drogas. Camisinhas e cachimbos de crack ficam esparramados pelo caminho.
– As crianças passam e enxergam tudo. É revoltante ter que lidar com isso – desabafa.
A mudança de perfil da Júlio pode parecer pequena, mas impacta na qualidade de vida de quem vive ao longo da Júlio ou próximo da Praça Dante. Por medo de assaltos, uma aposentada de 85 anos diz que só aconselha a filha a visitá-la até as 17h. A idosa mora num prédio na frente da Praça Dante Alighieri. Vítima de um roubo a residência há cerca de três anos, a idosa perdeu joias e cerca de R$ 65 mil do cofre.
– Evito usar a Praça durante o dia, que dirá pela noite. Sem sol, é impossível – define a mulher.
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