Cercado por mais de 30 policiais armados, cachorros e dois helicópteros, o cânion Itaimbezinho, no Parque Nacional Aparados da Serra, em Cambará do Sul, parecia um cenário de guerrilha durante a última semana. No interior dos milhares de hectares de um dos pontos turísticos mais conhecidos do Rio Grande do Sul, três assaltantes de banco escondiam-se após atacar duas agências em Praia Grande (SC) no dia 2 de maio. Os criminosos, de Caxias do Sul, se organizavam para escapar com a ajuda de três mulheres. Porém, foram enganados pela polícia. Um ainda tentou resistir e morreu em tiroteio.
Ao anunciar na noite de domingo que tinha desistido da caçada aos bandidos, a Brigada Militar, com reforço das polícias Civil e Militar de Santa Catarina, utilizou uma estratégia que deu certo. A suposta retirada motivou os criminosos a deixarem o esconderijo, cientes de que iriam embora já na madrugada desta segunda-feira sem resistência. Sergio da Silva Rodrigues, 33 anos, e Odon Luiz de Souza Neto, 23 anos, foram então até o centro de Cambará do Sul para comprar comida, enquanto Gelson Goulart, 42 anos, guardava dentro do parque cinco armas, munições e os R$ 81 mil roubados dos bancos.
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O trio seria resgatado pelas mulheres, que iriam buscá-los na cidade com um Hiunday i30. Desarmados, Rodrigues e Neto acabaram surpreendidos pelos policiais por volta das 21h em uma tenda de cachorro-quente. Rendidos em flagrante, eles apontaram onde estava o comparsa e confirmaram que as mulheres chegariam em seguida. Assim que entraram em Cambará, elas também foram presas.
– A gente tem de saber a hora de recuar para ter êxito no final. Isso é trabalhar com inteligência, para evitar o desgaste da tropa de maneira desnecessária. Fizemos o recuo, mas nunca deixamos todo o terreno descoberto. É uma região extensa, somente uma fazenda vigiada tinha 23 mil hectares – relata o tenente-coronel Glauco Alexandre Braga, comandante do 1º Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas de Gramado, que liderou a captura.
Medo e parque fechado para visitação
De acordo com Braga, a quadrilha é conhecida na região e teria sido responsável por atacar uma agência do Banrisul em Cambará no dia 6 de novembro de 2015. Com medo, a administração do parque onde está situado o cânion Itaimbezinho fechou o local por três dias e cedeu todo o espaço para o cerco policial.
Foram deslocados oficiais do Pelotão de Operações Especiais (POE) de Gramado, treinados para atuar em mata fechada, e agentes especializados de Santa Catarina. Eles montaram diversas barreiras e fizeram guarda em tempo integral. Braga ressalta que nenhuma residência da área do Itaimbezinho e de Cambará do Sul foi invadida:
– As informações que temos é que eles levaram mantimentos para passar alguns dias no mato. Água tem em abundância nos cânions. Eles conhecem as encostas, andaram bastante pela região e dormiram próximo a estradas, linhas de alta tensão e córregos, para não perderem as referências.
A polícia estava preparada para o confronto. Na quinta-feira, dia 5 de maio, um dos membros do bando foi morto em troca de tiros na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul. Os outros três conseguiram fugir e se esconderam nos Aparados. Com a prisão de Rodrigues e Neto e a morte de Goulart, a polícia garante a tranquilidade para os frequentadores dos cânions e para a população da região de Cambará do Sul.
– São "clientes antigos". Com o fim desta quadrilha, devolvemos o lugar com segurança – afirma Braga.