Sorrisos trocados: voluntários doam próteses dentárias a pessoas de baixa renda em Caxias do Sul

Muito além do que diz o ditado, não apenas a saúde começa pela boca. Também a autoestima pode ter início por um sorriso saudável e cheio de dentes, conforme os participantes do Projeto Sorriso puderam experimentar numa tarde de atendimentos no consultório popular do bairro Bom Pastor. Eles são os primeiros beneficiados de uma parceria entre a Legião Franciscana de Assistência aos Necessitados (Lefan) e dentistas e protéticos voluntários, que oferecerá próteses dentárias para pessoas de baixa renda.

Escolhidas entre as turmas de alfabetização para adultos da Lefan, são pessoas que, por diversos motivos, precisavam reencontrar o sorriso que a vida tirou. A pensionista Maria Conceição, 64 anos, arrancou os últimos dentes estragados há cerca de 20 anos, porque doíam mais do que ajudavam. Quando chegou aos 60 anos, o mesmo impulso que a fez querer aprender a ler e escrever também a fez querer arrumar os dentes. Mas como suas gengivas já não seguram uma dentadura, esbarrou no custo de aproximadamente R$ 3 mil para fazer implantes e colocar pontes. Agora, por meio do projeto da Lefan, não irá pagar nada. 

- Com os dentes, a gente come melhor, pode mastigar bem a comida. Hoje, eu preciso engolir tudo inteiro ou comer coisas mais moles. Agora estou esperando que tragam um osso para eu experimentar meus dentes. E se eu já sorria bastante sem os dentes, agora vou sorrir bem mais _ diz Maria Conceição, sorridente.

Além de Conceição, outros três atendimentos foram feitos na primeira leva do projeto, que já tem 15 pessoas na fila. Eles experimentaram o primeiro molde em novembro e na semana passada fizeram os últimos ajustes. As próteses seriam entregues nesta sexta-feira.

A primeira a ficar pronta foi a de Gabriel dos Santos Pereira, 53 anos, que faz bicos de pedreiro e participa dos cursos de eletricista e alfabetização na Lefan. Há cerca de dois anos, os dentes desgastados por anos de pouco cuidado e abuso com cigarro começaram a cair. Para Pereira, perder o prazer de comer foi o pior:

- Eu era muito relaxado, não cuidava. Sinto saudade de comer um churrasquinho com gosto. E com essa falha nos dentes da frente, tem umas palavras que eu não consigo dizer. Como aquela coisa de secar roupa...É centrífuga que fala? Muito difícil.

Resgate de valores da profissão

A rede solidária em prol do sorriso conta com oito dentistas e quatro protéticos que atuam ao lado da Lefan, de forma autônoma ou representando empresas parceiras. Antes do projeto idealizado pelo frei Jaime Bettega, o trabalho oferecia obturações e reparações gratuitas ou com valor simbólico, dependendo das condições do paciente.

Para a dentista Sabrina Bertamoni, 36, responsável pelos primeiros moldes, o prazer em ver brotar o sorriso em quem havia perdido a naturalidade de abrir a boca é o mais compensador.

- Como dentista, a satisfação é saber que estou contribuindo para a melhora de qualidade de vida das pessoas, que irão poder mastigar melhor e evitar problemas de estômago, além de ter um sorriso mais bonito e poder ser inseridas no mercado de trabalho. No dia a dia da profissão, a gente acaba esquecendo um pouco o quanto isso é importante. No trabalho voluntário, a gente certamente resgata isso - acredita.