Desde o início do ano, 171 vagas de estacionamento foram retiradas das vias públicas da área central para viabilizar a operação do Sistema Integrado de Mobilidade (SIM Caxias). A medida desagradou comerciantes, que temem a redução da clientela e organizaram um abaixo-assinado para solicitar a volta dos espaços.
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Uma das queixas é a suposta falta de debate para a retirada do estacionamento. Ou seja, os lojistas afirmam que não foram ouvidos para opinar sobre a mudança. A medida afeta especialmente o comércio da Avenida Júlio de Castilhos, no bairro Lourdes, e da Avenida Rio Branco, em São Pelegrino. Está nos planos a remoção de vagas das Rua Os 18 do Forte, entre o Centro e Lourdes.
Funcionária de uma loja em Lourdes, Rosana Scopel de Lima afirma que a situação está complicada tanto para os clientes como para os fornecedores, que não encontram local para descarregar as mercadorias. Sem alternativa, muitos motoristas cometem infrações de trânsito: param sobre calçadas ou entre os canteiros da avenida.
Beatriz Bachi Marchett, sócia de uma loja de aluguel de roupas para festas, diz que precisou modificar o sistema de atendimento. Agora, o cliente que vai retirar ou devolver a roupa é orientado a telefonar antes para avisar se está próximo. Beatriz, por sua vez, espera em frente à loja para agilizar a entrega e recolhimento das peças.
- Sempre houve dificuldades e agora só intensificou. Tivemos que nos adaptar, às vezes não dá nem tempo de conferir a roupa, mas temos que dar essa oportunidade ao cliente - explica a lojista, que tinha uma vaga extra de garagem e colocou à disposição para alugar.
VAGAS SUPRIMIDAS
45 - Avenida Júlio de Castilhos, entre as ruas Teixeira Mendes e Doutor Antônio Casagrande, no bairro Cinquentenário.
86 - Avenida Júlio de Castilhos, entre a BR-116 e a Rua Treze de Maio, no bairro Lourdes.
40 - Avenida Rio Branco, entre as ruas Machados de Assis e Feijó Júnior, no bairro São Pelegrino.
CDL diz que medida já havia sido anunciada
Desde que a prefeitura começou a retirar vagas de estacionamento em 2011, o comércio se mostra insatisfeito. Foi assim com as intervenções na Moreira César, na Marechal Floriano, na Sinimbu e na Pinheiro Machado. Recentemente, houve mobilização entre empresários da Avenida Arthur Perottoni, no bairro Forqueta.
Mas ao contrário do que afirmam alguns comerciantes, a presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Analice Carrer, garante que o projeto do SIM Caxias foi apresentado para a entidade e que o desenvolvimento das grandes cidades tem consequências, o que inclui a perda do estacionamento nas ruas.
- Para que o cliente venha até nós é preciso ter um transporte público de qualidade, mas o que mais impede as pessoas de irem ao centro é a falta de segurança. Então, temos outros fatores a serem trabalhados. Enquanto isso, o lojista precisa ser criativo, buscar a fidelização do cliente, treinar as equipes de atendimento e focar no profissionalismo e gestão - destaca a empreendedora.
O secretário de Trânsito, Manoel Marrachinho, afirma que não há possibilidade de retorno das vagas. No entanto, uma alternativa a ser avaliada é a criação de horários onde seja permitido utilizar o estacionamento, fora do horário de pico. Ele sugere também aos empreendedores que busquem alternativas como áreas de estacionamento próprias, áreas locadas ou convênios com estacionamentos rotativos.
- É preciso levar em consideração que todas as intervenções que se faz em mobilidade, em qualquer lugar do mundo, a que causa mais reclamação é a retirada do estacionamento, porque temos um apego ao veículo. Só faremos remoção onde for necessário, pois nosso objetivo é melhorar a mobilidade e não inviabilizar o comércio - justifica o secretário.
Mobilização por meio de abaixo-assinado
Donas de um restaurante na Avenida Júlio de Castilhos quase na esquina Rua Treze de Maio, as irmãs Eliana Maria Scopel de Souza, 55, e Sandra Maria Scopel Franzoi, 62, estão preocupadas com o futuro do negócio.
Mesmo que a supressão de estacionamento tenha afetado apenas um lado da via, elas e outros comerciantes vizinhos se sentem prejudicados. Tanto que a alternativa que encontraram para chamar a atenção das autoridades foi organizar um abaixo-assinado. Já foram coletadas dezenas de assinaturas. Agora, tentam marcar uma reunião com o prefeito Alceu Barbosa Velho.
- Das 11h às 13h30min os estacionamentos e as vagas dos dois lados da rua ficam cheios. Os nossos clientes já estão anunciando que se chegarem e não tiver onde estacionar, vão embora. Temos convênio com o estacionamento ao lado, mas não é suficiente. Quem vai pagar a minha despesa fixa se o cliente não entrar no meu estabelecimento? - questiona Eliana.
Também participam do abaixo-assinado as professoras e os pais das crianças que frequentam a escola infantil Pintando o 7. Com 80 alunos, a alternativa encontrada para que os pais tenham como largar as crianças foi reduzir o pátio cerca de três metros e construir um recuo que deve abrigar cerca de nove carros.
Comerciantes da Avenida Rio Branco, em São Pelegrino, também estão apelando a um abaixo-assinado para sensibilizar a prefeitura. As vagas foram retiradas no início de janeiro. Segundo Cláudia Boeira Toigo, dona de uma lavanderia, os clientes dela e de vizinhos agora se obrigam a usar estacionamento pago, o que estaria impactando no movimento.
- Haviam nos prometido um recuo na calçada, mas informaram que não vai ter mais. Estamos tentando obter horários alternativos para estacionamento - diz Cláudia.