Deitada em sua cama na Congregação das Irmãs Murialdinas em Fazenda Souza, interior de Caxias do Sul, Elisa Anna Rigon esperou, lúcida e com serenidade, que as palavras escritas por ela em um poema se confirmassem nesta quinta-feira, às 5h20min. "Para quando Senhor? Já não é comum a idade que hoje tenho, passei dos 80, idade na Bíblia indicada como limite normal, por isto eu venho dizer-te que me sinto já no fim da escada".
Poeta, líder religiosa, professora, tradutora, administradora e conselheira, irmã Elisa morreu aos 97 anos em decorrência de um câncer, descoberto em 2015. Seguidora fiel do padre João Schiavo, ela impulsionou o movimento que deve culminar na beatificação do italiano radicado na Serra neste ano. Foi graças ao seu trabalho que o Papa Francisco considerou Schiavo venerável, o penúltimo passo antes de torná-lo santo.
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- O padre João (Schiavo) era seu diretor espiritual. Ela foi uma pedra importante em todo o trabalho das Murialdinas e provocou a causa da beatificação. Ela tinha muitos escritos sobre ele, recolheu tudo e motivou o povo na confiança - relata a colega Enedina Smiderle, 70 anos.
Velório ocorreu na capela da Congregação (Foto: Jonas Ramos/Agência RBS)
Natural de Garibaldi, irmã Elisa foi para Fazenda Souza em janeiro de 1957 e, sete anos depois, fez o voto para tornar-se Murialdina. Quando Schiavo morreu, em 1967, assumiu suas funções religiosas e administrativas e ajudou na formação de dezenas de mulheres.
Além disso, foi a primeira diretora da então escola Santa Maria Goretti - que hoje leva o nome do futuro santo -, ocupou a coordenação de toda a congregação por mais de uma década e formou-se em Letras. No velório, diversos ex-alunos prestaram as últimas homenagens.
Ousada e participativa, a irmã morou 12 anos na Itália e viajou por diversos países. Em 2002, recebeu da Câmara de Vereadores o título de Cidadã Caxiense. Mesmo com a saúde debilitada e frágil, ela se manteve ativa até o fim.
- Isso é invejável para todos nós, num momento em que a vida é tão roubada. Apesar de doente e necessitada, ela queria repartir tudo que recebia - conta a irmã Cecília Inês Ferrazza, 63 anos.
Sem um cargo fixo dentro da congregação devido à fragilidade física, a devota passou os últimos anos aconselhando quem a procurava, lendo em francês, fazendo palavras cruzadas e compondo poesias. Numa delas, recebia a morte com tranquilidade, a mesma demonstrada quando ela se confirmou: "Que eu chegue, enfim, à feliz eternidade sempre repetindo ao Senhor o meu sim".