Na hora que o primeiro chocolate emergiu da caixa de papelão, o refeitório da Entidade de Assistência a Criança e Adolescente de Caxias do Sul (Enca) passou por um princípio de caos ensurdecedor. A criançada da sede da entidade no bairro Belo Horizonte, que todos os sábados se reúnem para atividades lúdicas enquanto as mães assistem a reuniões temáticas, levou os bracinhos de encontro aos kits de Páscoa como um gato captura um peixe no aquário. Afinal, algum dia já aprendeu como se convence uma criança de que tem presente para todo mundo?
Para receber o kit preparado pelos voluntários que auxiliam a entidade, com chocolate adquirido através de campanhas no Facebook, as cerca de 150 crianças tiveram primeiro de pintar suas máscaras de coelhinho de papel. Depois, já devidamente caracterizadas para a ocasião, fizeram a oração e sentaram em banquinhos para assistir a um desenho animado bíblico. Foi o último momento de silêncio da divertida tarde oferecida para os meninos e meninas cujas famílias se encontram em vulnerabilidade social e frequentam os programas de convivência do Enca.
- A cada sábado nós recebemos aqui cerca de 70 crianças, mas em dias de festa o número aumenta. Como é aberto, vem quem quer. Mas a maioria é das famílias dos nossos programas, que vêm do Belo Horizonte e adjacências como Canyon, Vila Maestra, Vila Ipê e Santa Fé _ explica a presidente da entidade, Marivete Salatino.
Além do grupo religioso Cenáculo de Maria, que a cada fim de semana leva seis ou sete integrantes para ajudar no cuidado, o Enca recebe a ajuda de abnegados que vão por conta própria oferecer atenção e carinho aos pequenos. É o caso da bancária Caroline Zardo, 27 anos, que há cinco anos faz parte do time como voluntária. Moradora do bairro Santa Catarina, a aproximação com o Belo Horizonte começou quando ela trabalhava em um escritório de advocacia que ajudava a entidade. Hoje ela mudou de emprego, mas não perdeu o vínculo.
- O sorriso e o abraço das crianças nos dá a certeza de que a gente recebe muito mais do que dá - descreve Caroline, enquanto é abraçada com força por uma coelhinha.
Ano de poucas festas
Ao contrário de anos anteriores, 2016 é um ano de poucas festas de bairro no período de Páscoa. A reportagem do Pioneiro consultou diversas Amobs e entidades assistenciais no fim de semana e a resposta foi quase padrão: Houve intenção de fazer festa, mas faltou patrocínio. A maioria dos bairros, ainda segundo os relatos de líderes comunitários, irá privilegiar o Dia das Crianças e o Natal.