Antes relegado a becos e lugares escondidos, o consumo de crack à luz do dia chegou a grandes ruas de Caxias do Sul. Na Bento Gonçalves, em São Pelegrino, não há qualquer intimidação para consumir a droga. A comunidade aponta que a situação piorou no último ano e, ao lado de furtos e roubos, assusta moradores e comerciantes de um dos mais tradicionais bairros da cidade.
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O vaivém de usuários pelas ruas do São Pelegrino é constante. O bairro faz divisa com o Euzébio Beltrão de Queiroz, conhecido por abrigar pontos de tráfico. Em consequência, é grande o número de usuários que perambulam pelas proximidades.
Na última quinta-feira, a reportagem flagrou o momento em que dois homens fumavam crack em plena luz do dia. Para tentar disfarçar, eles usaram um artifício conhecido nas proximidades: abriram a tampa de um contêiner de lixo orgânico e consumiram a droga camuflados, como se remexessem nos resíduos. Os viciados costumam usar os contêineres verde e amarelo da Bento Gonçalves, quase esquina com a La Salle. Como o ponto já é popular entre os drogados, eles dificilmente procuram outros contêineres. Isqueiros jogados no chão confirmam que a prática é recorrente. Alguns entram na lixeira para consumir a droga.
Às 18h30min de quinta-feira, a reportagem viu dois homens que compartilhavam o cachimbo de crack. Cerca de uma hora antes, um deles passou pelo local, revirou o recipiente de lixo seletivo e foi embora, já carregando na mão um pequeno pote plástico com a pedra. Ele retornou depois, acompanhado. Pedestres passavam pela calçada enquanto a dupla consumia a droga, inclusive duas meninas que voltavam da escola. A dupla fumou o crack e foi embora.
O consumo na rua costuma ser mais frequente a partir da tarde e durante a noite, quando a circulação dos viciados é maior. Moradores também têm medo de entrar em casa quando chegam tarde da noite e encontram pessoas perambulando pela rua. O receio é de assaltos. A atuação de receptadores de produtos roubados também contribui para a insegurança.
- Está um horror. Eu nem durmo direito à noite, já vi pelas câmeras gente fazendo até roleta russa sentados na calçada - desabafa Ademar Tomasi, que tem empresa e mora em São Pelegrino.
INSS ainda é ponto de encontro de usuários
Sem uso desde 2011, o prédio do antigo INSS, no fim da Pinheiro Machado, voltou a ser usado como ponto de encontro de viciados. A prefeitura havia fechado a área frontal, mas homens e mulheres entram pelos fundos. Uma moradora de 64 anos que prefere não se identificar conta que escadas são colocadas para pular janelas. Outros acessam por uma escadaria nos fundos. Lá dentro, usam drogas e costumam até se prostituir.
- Eles fazem uma gritaria, às vezes não conseguimos dormir. A Brigada vem quando chamamos, mas não sabemos mais o que fazer. Antes podíamos ficar conversando na frente de casa, hoje temos medo. Todos os dias busco minha filha porque ela tem medo de vir sozinha - diz a mulher, que mora há 40 anos nas proximidades.
Segundo o titular em exercício da Secretaria de Segurança Pública e Proteção Social, José Francisco Barden da Rosa, a Guarda Municipal tem feito rondas pelo local. Conforme Barden, um relatório deve ser encaminhado à Secretaria de Obras para verificar a viabilidade de fechar a área dos fundos.
Barden acrescenta que a prefeitura mantém o consultório de rua, com trabalho voltado a acolher o usuário e oferecer o suporte público.
- O consumo de crack é preocupação do município, do Estado e da União - garante.
O consultório de rua atua quatro vezes por semana, em locais mapeados pela Secretaria da Saúde, incluindo São Pelegrino.
- Nós não atuamos no sentido higienista, de limpar a rua tirando as pessoas. Oferecemos cuidados em saúde -esclarece a diretora da Política de Saúde Mental do município, Vanice Fontanella.
Atualmente, são 180 pessoas com cadastro ativo no consultório de rua, monitoradas pelo serviço. Por enquanto não há previsão de incrementar a ação especificamente em São Pelegrino.