Fazendo um cálculo por alto, baseado tão-somente na lembrança remota (a lembrança não é uma ferramenta das mais calibradas para fornecer dados precisos sobre os fatos do passado), eu poderia afirmar que, a cada trinta vezes, ganho uma estrelinha. Analisado assim friamente e levando-se em conta apenas a crueza dos números, o estimado leitor e a valorosa leitora poderão sucumbir à tentação de achar que minha performance é sofrível. Mas não, e explico por quê.
Conquistar uma estrelinha a cada conjunto de cerca de trinta crônicas pode ser considerado uma atuação até que regular. Bom mesmo seria conseguir uma estrelinha a cada quinze textos, mas para isso as condições deveriam ser outras, que não as de um colaborador externo que produz seus escritos em seu próprio escritório e os envia para a diagramação do jornal por e-mail, como é o caso no qual me enquadro. À distância, obedeço ao preceito estabelecido de que os textos precisam ter determinado número de caracteres e meto-lhe os dedos ao teclado diariamente, vergado ao desafio de cronicar mundanamente a existência, conforme bem sabem a estimada leitora e o leitor, prezado.
Mas nem sempre o texto entra redondinho dentro do espaço físico da página ao qual é predestinado. Às vezes, quer dizer, quase sempre, se fazem necessários alguns ajustes de sintonia fina provenientes do ofício dos diagramadores. E quando encaixa feito luva de seda em mão de fada, como tampinha em gargalo de garrafa long-neck, uma em cada trinta vezes, ganho estrelinha da Márcia, a diagramadora detentora do saquinho de estrelinhas para colunistas externos. Não sei qual a performance de estrelinhas do Gilmar Marcílio e do Frei Jaime, colegas de desafio escritural. Mas sei que, quando ganho as minhas, fico faceiro e meu céu autoral se ilumina.
Se eu fosse um cronista melhor constelado, poderia tecer uma ligação metafórica entre o ato de ganhar estrelinhas da diagramadora e o sentido da vida, que pode ser descrito como uma constante busca por estrelinhas nas mais variadas esferas de nossas performances vitais: como pais, como filhos, como companheiros (as), como profissionais, como cidadãos, como amigos, como eleitores, como motoristas... Mas deixo isso para os leitores, tão bem estrelados na arte de decifrar estas crônicas mundanas (extenso como está, este texto não ganhará estrelinha da diagramadora; quanto ao conteúdo, cabe aos estimados e às prezadas).
Opinião
Marcos Kirst: nem sempre o texto entra redondinho dentro do espaço físico da página ao qual é predestinado
Conquistar uma estrelinha a cada conjunto de cerca de trinta crônicas pode ser considerado uma atuação até que regular
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