O aumento do número de mortes em acidentes de trânsito no Estado em 2024 exige um esforço dos órgãos vinculados à área para compreender melhor as razões e combatê-las. Até a pandemia, em 2020, o Rio Grande do Sul demonstrava uma tendência de redução da quantidade de vítimas fatais. Ainda eram altas as taxas, mas ao menos mostravam uma trajetória de declínio. Em 2010, conforme o Detran-RS, foram 2.194 vítimas fatais em rodovias e vias urbanas. Em 2019, um ano antes da covid-19, chegaram a 1.617. As mortes caíram mais em 2020 devido às restrições de mobilidade, voltaram a subir nos dois anos seguintes para níveis até superiores ao período anterior à crise sanitária, mas recuaram em 2023. Agora, tornam a preocupar.
Órgãos públicos e entidades que lidam com o tema têm de analisar as estatísticas em busca de respostas mais precisas e agir
De acordo com o Detran-RS, de janeiro a setembro 1.257 pessoas perderam a vida no trânsito gaúcho, alta de 7,9% sobre igual período do ano passado, mostra reportagem de Leticia Mendes publicada na sexta-feira em GZH. Inquieta o fato de o recrudescimento ocorrer a despeito das limitações de circulação ocasionadas pela enchente de maio. As estatísticas da Polícia Rodoviária Federal (PRF) são ilustrativas. Em junho e julho, foram 38 mortes, o dobro desses dois meses em 2023. É preciso entender se algo mudou no comportamento dos motoristas e se as condições mais precárias das estradas contribuíram para as fatalidades. De janeiro a outubro, os óbitos por acidentes em vias federais no território gaúcho subiram 14%. Nas estradas estaduais, o avanço foi mais significativo, de 24%. Em Porto Alegre, não foi diferente. De janeiro a outubro, 69 pessoas perderam a vida no trânsito, ante 51 no mesmo acumulado de 2023. Motociclistas e pedestres são as principais vítimas. Existe uma maior circulação de motos nas ruas e as blitze costumam flagrar um grande número de pilotos sem habilitação. O desrespeito a regras e sinais de trânsito por parte dos motociclistas também se tornou corriqueiro.
As razões para o aumento dos acidentes fatais parecem ser múltiplas. Os casos que acontecem aos finais de semana, à noite e de madrugada indicam que a mistura explosiva de álcool e direção está associada. As colisões frontais, maiores causadoras de mortes, apontam para ultrapassagens arriscadas ou em locais proibidos. Chama atenção também o aumento dos casos de atropelamento. As mortes por esse motivo subiram de 188 para 244 no Estado. Além do excesso de velocidade, há casos que ocorrem por distração de motoristas ou mesmo pedestres. Deve-se verificar a fundo o quanto essas situações estão vinculadas ao uso do celular. A Associação Brasileira de Medicina do Tráfego tem alertado para essa circunstância.
Órgãos públicos e entidades que lidam com o tema têm de analisar as estatísticas em busca de respostas mais precisas e agir em cada dimensão para frear essa tendência. Desde a maior conscientização e educação de condutores e pedestres, até o aperto na fiscalização, passando pela análise dos pontos que precisam de controladores de velocidade e das condições de estradas e vias urbanas. A frota circulante só cresce, para uma infraestrutura que não evolui na mesma medida. Só não é possível assistir passivamente ao aumento da carnificina nas rodovias e ruas do Estado.