Uma das regiões mais prósperas do Rio Grande do Sul, responsável por movimentar mais de 70 carretas de aço por dia, tem o desenvolvimento econômico travado por estradas mal conservadas e de sinalização precária. Enquanto isso, um empurrão que falta para alavancar o turismo esbarra em um aeroporto seguro, mas obsoleto e sem possibilidade de expansão e na distante possibilidade de construção de um novo. Esse retrato da Serra Gaúcha foi mostrado pela reportagem entre junho e dezembro.
Esfaceladas pelo grande movimento e pela falta de investimentos no decorrer dos anos, as principais rodovias por onde escoa a produção são cenário de dezenas de mortes nos últimos anos e ainda aguardam investimentos de vulto. Embora o atual governo do Estado enfrente sérios problemas financeiros, a desatenção à ERS-122 e à RSC-453 são históricos. Ao mesmo tempo, uma estrada federal, a BR-470, também amarga sérios problemas desde antes de se tornar responsabilidade nacional, em abril.
Desde junho, a situação desses pontos pouco mudou, mas há indícios de que providências serão tomadas. O Trevo da Telasul, por exemplo, ganhou a promessa de uma rotatória para março. Enquanto isso, a iniciativa privada vai investir para melhorar o Trevo da Tramontina, em Farroupilha. Outro que está em compasso de espera é o aeroporto de Vila Oliva: a prefeitura aguarda outorga para poder assumir a frente do projeto.
Abaixo, confira as principais demandas abordadas nas reportagens e a situação de cada uma delas.
Aeroporto de Vila Oliva
Enquanto o aeroporto Hugo Cantergiani não tem possibilidade de expansão, a expectativa da Serra é por um novo terminal. A luta de lideranças políticas e econômicas ao longo dos anos ainda não conseguiu que o primeiro alicerce fosse construído, mas o aceno do governo federal para a outorga do projeto à prefeitura de Caxias pode significar um passo à frente. No entanto, o prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT) ainda aguarda o encaminhamento da Secretaria de Aviação Civil (SAC), sobretudo depois que o ministro Eliseu Padilha deixou a pasta, em dezembro. Em encontro com Alceu em agosto, Padilha disse que a outorga seria a melhor forma de viabilizar Vila Oliva. No início de dezembro, depois de receber documento que confirmava a saída do Estado da negociação, Alceu entregou a um representante da SAC os documentos necessários para dar andamento ao processo. Se concedida a outorga, a prefeitura poderá licitar a contratação de empresa para elaborar o projeto executivo do aeroporto.
Aeroporto Hugo Cantergiani
Uma das principais demandas de passageiros pode sair do papel. Segundo o administrador do aeroporto, Marcos Argüelles, o Estado deve licitar uma cobertura entre a área de espera para táxis e o ponto onde ônibus estacionam. Além disso, os assentos do saguão e da sala de embarque devem ser substituídos por poltronas com carregador de celular. A ideia é concluir no primeiro semestre, em parceria do Estado com o município. Ainda não há propostas para que os usuários não se molhem no trajeto entre a sala de embarque e os aviões.
Na sala-rádio, equipamentos antigos começam a ser substituídos. Há cerca de três meses, o altímetro (utilizado para medir a altitude em aproximações visuais e por instrumentos) foi trocado por um modelo digital, exigido pela aeronáutica. Até agosto, a MVS, que controla a sala-rádio, também deverá trocar equipamentos meteorológicos, conforme determinação do Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II). Já o estacionamento para veículos, em obras desde 2012, aguarda licitação do Estado para concluir asfaltamento e acabamentos. Outra licitação deve determinar a empresa exploradora do espaço, responsável ainda por instalar cancelas.
ERS-122
Apesar de ter pista simples no sentido Farroupilha - São Vendelino, a ERS-122 ainda é a alternativa preferida por caminhoneiros que seguem em direção a Porto Alegre. A via é a melhor opção diante da BR-116, marcada por perigosas serras.
A duplicação é o grande pedido de motoristas e lideranças econômicas, mas não há previsão para início da obra. Enquanto o governo do Estado esbarra na falta de verba, o governador José Ivo Sartori propôs ao Ministério dos Transportes incluir a ERS-122 em um pacote de concessões federais. A ideia seria formar com a BR-116 um eixo rodoviário entre Porto Alegre e a divisa com Santa Catarina. A continuidade dessa proposta depende, ainda, de estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental do DNIT. Não há prazos para a possível concessão e a consequente duplicação. No ano passado, o governo do Estado chegou a apresentar projeto que previa a duplicação de 20 quilômetros e a eliminação da Curva da Morte, que também não andou.
RSC-453
Ao lado da conservação, a duplicação também é o grande pedido de quem trafega na RSC-453, principalmente no trecho entre Farroupilha e Garibaldi. São 18 quilômetros esburacados e com má sinalização, rota de ligação entre pulmões econômicos da região. O Daer, responsável pelo trecho, não prevê a duplicação por enquanto. O que ameniza são os pontos de terceira faixa, mas também não há projeto para ampliar a quantidade. Para melhorar a situação e diminuir acidentes, controladores de velocidade foram repostos na metade do ano. Eles haviam sido retirados depois que os contratos foram encerrados. Atualmente são cinco lombadas eletrônicas e dois pardais.
BR-470
Quase um ano separa os problemas na BR-470 da possibilidade de melhoria. É que as intervenções no trecho entre Carlos Barbosa e Nova Prata, incluindo a Serra do Rio das Antas, dependem de um Estudo de Viabilidade Técnica, Ambiental e Econômica (EVTEA), lançado pelo DNIT. Esse trabalho, que deve demorar cerca de 10 meses, vai determinar os principais pontos de ataque. A partir disso é que serão elaborados anteprojeto e projeto. A expectativa é que, mesmo com demora, a duplicação entre Carlos Barbosa e Bento Gonçalves entre no pacote. A rodovia é responsabilidade do DNIT desde que foi federalizada, em abril de 2015.
Trevo da Telasul
Uma obra prevista para inicia em março pode amenizar um dos pontos mais conflagrados da região: o entroncamento da RSC-453 com a BR-470, conhecido com o Trevo da Telasul. O DNIT, responsável pela BR-470, planeja construir uma rotatória. Tirar a ideia do papel, no entanto, depende de não aumentar o valor do material utilizado na pavimentação de rodovias. A proposta diverge da linha adotada pelo Ministério dos Transportes, que prefere um viaduto. Lideranças da região concordam que o viaduto seria a única solução definitiva, mas a rotatória é bem-vinda como um paliativo para os cerca de 15 mil motoristas que movimentam o ponto por dia.
Trevo da Tramontina
A entrada da iniciativa privada foi crucial para que melhorias no Trevo da Tramontina (entroncamento da ERS-122 com a RSC-453, em Farroupilha), começassem a sair do papel. A empresa Tramontina, que fica junto ao entroncamento, vai bancar a construção de ruas laterais e a instalação de semáforos. A proposta é semelhante ao acesso ao bairro Desvio Rizzo, em Caxias. O pré-projeto já foi aprovado pelo Daer. A participação da Tramontina foi homologada nesta terça-feira, em um edital de chamada pública. Como contrapartida, a empresa terá 10% de desconto no retorno do ICMS ao município, em parcelas semestrais, por seis anos a partir da conclusão da obra, que deve iniciar no fim de janeiro. A previsão é terminar em setembro. Outras empresas haviam manifestado interesse, mas não prosseguiram na negociação.
O ponto é crítico principalmente porque motoristas que querem ingressar na ERS-122 em direção a Porto Alegre precisam parar no eixo central e aguardar que os motoristas na direção oposta lhes deem passagem para ir à 122.
Trevo do Posto São Luiz
Incrustado na área urbana de Caxias, o Trevo do Posto São Luiz é conhecido pelo perigo. O ponto é acesso aos bairros da região Santa Fé e obriga motoristas a transpor a RSC-453 (Rota do Sol) em ponto com má sinalização. Um projeto elaborado pela prefeitura, que prevê rotatória fechada, foi aprovado pelo Daer, que administra a rodovia. A partir de agora, a empresa contratada pelo município conclui o projeto executivo. A expectativa do secretário municipal de Trânsito, Manoel Marrachinhio, é receber o material no início do ano e encaminhar para execução pela Codeca. A ideia é concluir em quatro meses. O custo previsto é de cerca de R$ 3 milhões. A obra integra o SIM Caxias.
Serra Imobilizada
Ano encerra com poucas promessas para estradas e aeroporto
ERS-122, RSC-453 e BR-470 concentram algumas das principais demandas
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