Embora diagnosticado com leucemia no dia 23 de agosto, somente mais de dois meses depois Pedro Henrique Sott Tecchio, o Pedrinho, cinco anos, teve o nome inserido no sistema de pessoas que buscam um transplante de medula, o Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (Rereme). Ao mesmo tempo, o cadastro de doadores feito pelo Hemocentro de Caxias do Sul (Hemocs) está suspenso há quase duas semanas, porque o teto anual de novos candidatos a doar já foi alcançado. A demora para incluir o menino na busca por uma medula saudável e a impossibilidade de captar mais pessoas na cidade ainda neste ano preocupa ainda mais a mãe dele, Izane Sott, 38, a Iza.
Ela imaginava que a busca pelo doador para o filho fosse feita desde setembro, quando a coleta do material genético foi realizada em Porto Alegre. Em consulta médica há duas semanas, no entanto, ela soube pelo médico que Pedrinho não estava no sistema, o que impossibilita a busca pelo doador dentre os 3,5 milhões de cadastros no mundo todo.
- Eu estou perdida, não sei se eles realmente estão procurando. E agora eu soube que nem estão mais cadastrando - desabafa a mãe, moradora de Farroupilha.
Desde a metade de novembro, o Hemocs não tem autorização para cadastrar novos doadores de medula, porque superou o teto anual, de 1,6 mil coletas. Conforme Cristiano Franke, coordenador da Central de Transplantes do RS, o Ministério da Saúde estabeleceu a meta anual de 21.860 coletas para o Estado, que distribui entre os hemocentros. O limite foi estabelecido em 2012, pela portaria número 844.
- Essa portaria do Ministério foi baseada em orientação de técnicos, considerando o número de cadastros que temos no país. Somos o terceiro banco de medula no mundo, atrás dos Estados Unidos e da Alemanha. Foi uma avaliação técnica deles, de que esse teto estaria bom. Além disso, estavam preocupados com a qualidade dos cadastros. Quando um doador é identificado, ele precisa ser localizado e muitos não eram encontrados. A qualidade desse banco de dados precisou ser melhorada e uma das justificativas foi limitar - explica Cristiano.
Cristiano prefere não comentar o caso de Pedrinho, por desconhecer detalhes. No entanto ele reconhece que, em geral, o tempo para a inserção de dados no sistema é de menos de um mês.
Questionada sobre a demora para cadastrar os dados do menino no Rereme, a Secretaria Estadual da Saúde diz que por ética médica não fornece informações de pacientes. A Secretaria apenas explica, via assessoria de imprensa, que a inscrição é feita por um médico.
Coleta pode ser retomada só ano que vem
Superados os 1,6 mil novos cadastros anuais do Hemocs, a Central de Transplantes disponibilizou a Caxias outros 1 mil, realocados de outros hemocentros. Esse montante também já foi suprido. Se o Hemocs não obtiver autorização para voltar a coletar, novos doadores só poderão ser incluídos no ano que vem.
A diretora-geral do Hemocs, Cristina Lizot, acredita que a cota foi atingida por causa de campanhas organizadas por conhecidos de pessoas que buscam medula e em função da lei municipal que isenta inscritos no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) do pagamento da taxa de inscrição em concursos públicos do município. Um corre-corre foi gerado nas últimas semanas, em função de inscrições para provas da prefeitura e da Fundação de Assistência Social (FAS).
- Existe essa gestão estatística do perfil genético da população brasileira, que coloca o teto, e por outro lado, as pessoas que querem se cadastrar. Nós ficamos entre esses dois polos - lamenta Cristina.
O coordenador da Central de Transplantes do RS, Cristiano Franke, ainda explica que o ministério estabelece o número de coletas por Estado baseado na identificação de tipos genéticos mais necessários para o banco.
- Pode ser que tenha muitos cadastros da tipagem genética do Rio Grande do Sul e não de outras regiões. Nó obedecemos aos critérios técnicos - esclarece.