Durante a Semana Municipal da Juventude em Caxias do Sul, jovens escreveram reportagens sobre suas relações com temas como educação, segurança, cultura, diversidade e emprego. Nesta sexta-feira, o espaço é do titular da Coordenadoria da Juventude do município, Vinicius Iraí Nascimento, 28 anos.
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A pasta é responsável por aproximar as novas gerações do poder público e de instituições. Também articula projetos com a rede de serviços e promove atividades como a Conferência Municipal da Juventude, além de estimular ações como o Primeiro Emprego, que facilita a entrada no mercado de trabalho.
Na entrevista abaixo, Vinicius resume o trabalho da Coordenadoria e indica quais os caminhos para a juventude caxiense tirar projetos do papel.
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Pioneiro: O que os jovens caxienses querem?
Vinicius Iraí Nascimento: Os grupos que vêm até nós querem parcerias para usufruir o que o município oferece, seja para a realização de um evento, seja para levar um empreendimento para algum local, seja para pedir dicas de como funciona o sistema público, seja para entrar na Secretaria de Esportes, na Cultura, solicitando diversas palestras, atividades.
E o poder público consegue oferecer?
De todos os grupos que vieram até nós, conseguimos construir alguma coisa. Às vezes não 100% do que queriam. Posso citar o pessoal do slackline (esporte de equilíbrio sobre uma fita de nylon): queriam praticar o esporte no Parque dos Macaquinhos, mas a Secretaria do Meio Ambiente não queria que eles usassem as árvores para amarrar as fitas. Conversando na prefeitura, na Secretaria do Esporte, na Coordenadoria da Juventude, a galera conseguiu criar um parque de slackline. O pessoal do movimento hip hop quer fazer atividades na cidade, querem que a gente consiga liberação, o som, querem articular com a Guarda, com a Brigada Militar, querem que a gente dê suporte, algum tema para debate. Temos feito isso. O som automotivo é uma grande briga em Caxias. A comunidade reclama que os jovens vão nas ruas centrais, em posto de gasolina e fazem baderna, botam som alto. Quem gosta de ter paredes de som e quer investir em equipamentos, estava se sentindo desprezado. Queriam que o poder público fizesse algo. Articulamos com as secretarias e hoje se realiza de dois a três eventos em locais afastados, onde esses grupos podem ser reunir.
A juventude está mobilizada?
A juventude participa, mas com dificuldade. Na época da Copa do Mundo, Caxias tentava ser uma subsede e tentamos criar o projeto Jovem Voluntário. Caso Caxias recebesse uma seleção, esse voluntário poderia dar todo o apoio. Fizemos uma campanha, colocamos na mídia, divulgamos nas escolas, em faculdades. Quando a gente trouxe a secretaria responsável pelo voluntariado, apareceram 60 pessoas. Então vejo que o jovem sabe que está acontecendo mas não quer ir, acha que não é importante. Pensam: ah, tá na internet, isso não é comigo. Vejo a juventude não participando da política também. Na conferência liguei para vários partidos políticos e havia pouca representação da juventude. Os jovens alegam muita coisa para não participar, tem a corrupção, tem a burocracia. Há ideias e muita vontade de fazer, e o resultado final não é o esperado e acabam desistindo. Só que política, na minha opinião, é coisa que se planta agora para colher lá na frente. Mas, por outro lado, vejo hoje uma juventude que está voltando a cobrar, a participar de protestos. É diferente do que antes. O jovem que brigava para ter acesso a faculdade agora briga para ter acesso as outras coisas porque isso já foi conquistado. É um processo lento, que a gente vê. Acaba tendo milhões de grupos, e temos que trabalhar com todos eles no menor denominador comum.
O que vai acontecer com as demandas da Conferência da Juventude?
Nossa intenção é encaminhar para todas as secretarias, falta alguns detalhes. Lá poderão ver se há condições de atender às solicitações. Posteriormente, vamos fazer uma cartilha, é um documento que mostra o que foi tirado da Conferência da Juventude, e também para ter a cobrança.
Cite uma reivindicação de conferências anteriores que saiu do papel?
Um item saiu nesta semana, que é o wi-fi (internet) em praças públicas. Isso era demanda da última conferência, de quatro anos atrás. Agora, está se colocando em prática, e a primeira é na Praça do Trem.
Que recado você deixa para a gurizada, para que se sintam acolhidos?
Para participarem, para conhecerem o poder público, a prefeitura, o deputado, o vereador, os secretários. Todos vão te receber. Tem que entender como funciona, tem que parar de pensar no que se lê na internet, no que teu pai falou e tá falado. Tem que ir atrás das coisas para saber de fato como acontecem. Comigo foi assim: uma das maiores lutas para mim foi para a construção de uma pista de skate. Eu tinha medo, mas não sabia porque não saía uma pista em Caxias. Não sabia onde procurar na prefeitura. As pessoas diziam: isso não vai sair, o prefeito não prometeu. Um certo dia fui atrás e num lugar me enrolaram, não gostei da resposta. Fui em outra secretaria, e nada, até que um cara explanou a situação, como funcionava, avisou que era demorado, tinha licitação, tinha que ter licenças, recursos. Explanei pro grupo que estava comigo e a gente começou a fazer o caminho desde o início, fizemos reuniões do orçamento comunitário, fomos na secretaria de esporte, fomos atrás de uma área, não deu, fomos em outra, indicamos, fomos atrás de empresas para participar da licitação, um processo que demorou quatro anos. Parecia que não ia sair e acabou saindo. Hoje é o que falo para um grupo de BMX, roller, skate que querem o parque radical nos Macaquinhos, me cobram mensalmente e explico: não desistam, se fizermos a coisa certa, demonstrar com argumentos que precisamos, no futuro vai sair.