Até o dia 15 de agosto, o Pioneiro abre espaço para os jovens de Caxias do Sul debaterem propostas que possam servir de parâmetro para mudanças na educação, saúde, segurança e cultura, entre outros. É pauta inspirada no tema da Conferência Nacional da Juventude sobre as várias formas de mudar o país.
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Você pode participar deixando sua opinião na página do Pioneiro no Facebook, indicando o que falta para melhorar a vida dos jovens caxienses. Algumas sugestões serão usadas em reportagem no próximo final de semana.
A série é produzida em colaboração com rapazes e moças de diferentes segmentos da cidade. Também assinala a Semana Municipal da Juventude, com programação até a próxima segunda-feira, dia 17 de agosto.
Leia também as histórias produzidas por Fernanda, Juliana e Franco.
O texto abaixo é de autoria de Letícia Merlo em colaboração com os colegas Eloisa Onzi, Ramiro Nilson Barros, Larissa Merlo, Guinter Nilson Barros, Jordana Broilo, Ingrid Dartora, Oscar Perottoni, Gabriel Zuccoloto Ramos, Dagoberto Júnior, Thaís Santos, Glaucia de Dordi e Camila Lain. Eles integram o ponto de cultura Costurando Sonhos, de Forqueta.
O início
O ponto de cultura Costurando Sonhos foi criado em 2012, em Forqueta. No momento somos 13 integrantes, todos moradores do bairro. A maioria se conhecia antes da escola, outros da vizinhança. Nossa idade varia dos 13 aos 17 anos, e fazemos teatro.
Antes tudo era diferente, não somente nós, mas o mundo também. Antes as pessoas eram apenas pessoas. Hoje, as pessoas são estereótipos teatrais _ e isso é bom! Para quem não sabe, estereótipo teatral é uma forma de reparar coisas em outras pessoas, como por exemplo manias, jeito de andar e de falar. Depois nós aumentamos isso para deixar a mania engraçada ou dramática. É uma ótima maneira de ver graça no mundo.
Desafios
O teatro nos dá uma carga cultural muito grande, e nos dá certa sabedoria também. Mas tudo isso não vem de graça, quero dizer, não é fácil. No início, até tínhamos o apoio da prefeitura, porém, os pontos de cultura eram um projeto do Governo Federal com duração de três anos. Depois disso, eles deveriam se sustentar sozinhos.
Este é o primeiro ano depois que o projeto terminou.
Manter o ponto em funcionamento é um dos nossos maiores desafios. Contamos com a nossa força de vontade e o apoio da comunidade para fazer com que esse espaço não acabe. Os moradores nos ajudam assistindo as nossas peças, mas o apoio maior vem dos nossos pais, que pagam uma mensalidade para manter o ponto aberto. Na última peça, por exemplo, foi cobrado entrada de R$ 5. Antes, quando tinha o auxílio da prefeitura, não cobrávamos ingresso. Também recebemos doações de figurinos
Satisfação
Fazer teatro aqui é uma experiência maravilhosa, é divertido e diferente. Conseguimos apresentar seis peças até agora. Nós queremos fazer um bom espetáculo, queremos que as pessoas se sintam bem, se sintam acolhidas e saiam daqui com gostinho de quero mais.
Geralmente quem se interessa por arte é quem faz. O fazer arte amplia a visão para o mundo, para as pessoas na rua. A gente começa a ver beleza onde os outros não veem, de acordo com a nossa professora Simone. Antes do ponto de cultura não tínhamos um incentivo direto ao teatro e a cultura aqui no bairro. Havia alguma coisa, mas era voltada a igreja, com a catequese e tudo mais.
Queremos quebrar tabus. Fazer as pessoas desistirem daquele pensamento de que cultura é pra gente grande. Cultura é o que a gente é; ela está em todos os lugares, só basta parar e olhar ao redor.
DA REDAÇÃO
- Há jovens que "baixam" um litro de vodca e quatro latas de suco numa casa noturna no fim de semana a R$ 230. Outros, gastam no máximo R$ 20 na festa se conseguirem entrada liberada. Consumação e condição sócio econômica explicitam o acesso a certas opções de lazer em Caxias.
- Uma ação efetiva de descentralização de ações culturais ainda é frágil. O GentEncena, que teve ação potente nas comunidades, está emperrado na burocracia. Dos oito Pontos de Cultura, cada qual com ações, só dois estão efetivamente implantados na periferia, no Kaiser e Vila Ipê. Ação potente, política cultural e descentralização efetiva são necessidades "da hora".
- A cultura hip hop é agregadora nos bairros. Grafites, MCs, b-girls e b-boys são febre, são fato. Há iniciativas pontuais, alguns projetos via Financiarte, mas a rima ainda é vontade com dificuldade em salões comunitários, escolas, praças.
- "Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci" canta o rap manifesto de Cidinho e Doca. Como dificilmente há um programa para se fazer na quebrada, quando tem passe livre, a moçada vem pro Centro. E vira bonde.
- No Centro, a Batalha da Estação, no último fim de semana do mês, no Largo da Estação, sofre o impasse quer pelo isolamento de seus organizadores, quer pelo estranhamento que causa ao agregar outras camadas da população na área nobre de uma cidade ainda dividida.
- A Conferência da Juventude apontou demandas: continuidade de projetos da prefeitura ou do governo federal, popularização da cultura, menos burocracia nas leis de incentivo e mais pontos de cultura que unam comunidade e poder público.
(Carlinhos Santos, colunista)