Recorrentemente, um italiano, ao passear pela região da Serra gaúcha, é questionado se é "italiano daqui ou da Itália".
Noções de italianidade como essa serão abordadas nos debates desta terça-feira, durante o 4º Simpósio Internacional e 12º Fórum de Estudos Ítalo-Brasileiro - Fontes e Acervos, promovido pela Universidade de Caxias do Sul. A primeira mesa-redonda do dia versa sobre identidade e imigração, assuntos que têm relação direta com os descendentes de italianos que vivem na região.
A professora Maria Catarina Zanini, da Universidade Federal de Santa Maria, realizou uma pesquisa na área da antiga Quarta Colônia (Santa Maria) para entender o processo em que descendentes tornam-se migrantes, ao buscarem experiências novas na Itália, terra dos antepassados.
De acordo com ela, ser ítalo-brasileiro é ter nascido no Brasil, compartilhar de símbolos nacionais brasileiros, mas ter origem distinta do brasileiro genérico. Ou seja, significa sentir-se parte de uma comunidade imaginada italiana que partilha de determinados valores e sentimentos. Na Itália, no entanto, a percepção dos descendentes muda.
- A Itália pela qual têm sentimento é a Itália construída através das memórias em solo brasileiro. Apesar de eles terem uma cidadania de direito, de fato são considerados extracomunitários. Aqui, são italianos, lá são estrangeiros - afirma Maria Catarina.
A italianidade, segundo ela, é criada com base nas percepções individuais, em algo que faça sentido para a pessoa. Citando o sociólogo francês Maurice Halbwachs, Maria Catarina explica que toda a memória faz uma leitura no presente sobre o passado - interpretações que são feitas de formas diferentes, com base em quem as faz: jovem, velho, mulher, homem, etc.
Essa reivindicação da italianidade, para a professora, aplica-se a um contexto mais abrangente do que regiões de imigração italiana.
- A vontade de buscar suas origens, seu vínculo de pertencimento, não é exclusiva dos descendentes de italianos. O mundo todo passa por um processo de etnização - diz.
Nem todas as etnias, ao contrário da italiana, souberam cultivar suas raízes.
- O mais bonito no que diz respeito aos processos identitários é a valorização do conhecimento adquirido pelos imigrantes. Na cidade, eles foram desvalorizados, mas esse conhecimento adquirido é uma riqueza. Os italianos souberam manter uma valorização de si mesmos - destaca.
Reflexão
Italiano daqui ou da Itália?
Nesta terça, simpósio internacional na UCS aborda a identidade dos descendentes de imigrantes
Tríssia Ordovás Sartori
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