A reportagem sobre os moradores de rua assinada na edição do fim de semana pelo colega Adriano Duarte é chocante sob todos os pontos de vista.
Lembro perfeitamente de quando cheguei a Caxias, 17 anos atrás.
Nem faz tanto tempo assim, mas a diferença entre as duas épocas é gigantesca.
Naquela época os caxienses se espantavam de verdade ao deparar com um homem dormindo na rua. Logo surgia alguma campanha para ajudar o infeliz.
Morador de rua era coisa rara, problema visto na TV, situação de cidade grande, jamais na paroquial Caxias.
Um ser humano sem teto causava comoção, as autoridades se mobilizavam igual hoje, mas, diferentemente de hoje, ainda obtinham relativo sucesso nas abordagens. O sucesso, claro, era da cidade
Os desgarrados aceitavam passar a noite no albergue, tomavam banho, ganhavam café e cama.
Aqueles moradores de rua geralmente eram andarilhos de passagem em parada estratégica sob uma marquise qualquer. No dia seguinte, ensacavam as tralhas e partiam.
Os moradores de rua daquela época quase nunca eram naturais de Caxias.
Às vezes demorava semanas até vermos novo morador de rua. Invariavelmente, a história se repetia: abordagem-albergue-banho-café-cama e tchau!
Algo mudou nesses 17 anos.
E a mudança é para pior, bem pior.
Não está claro se quem piorou fomos nós, os desgarrados ou a cidade.
***
Nada justifica que a eleição da UAB seja maculada com suspeitas de fraudes. Pressupõe-se que a União das Associações de Bairros, o nome indica, seja um organismo que defende o cidadão.
Qualquer suspeita de fraude põe em xeque a legitimidade da UAB.
Ninguém é tolo de ignorar que a UAB é um trampolim político, mas os envolvidos precisam mostrar a seriedade que se espera de homens e mulheres que se arvoram a representar as comunidades.
Se de fato houve fraude, é preciso esclarecer os fatos, sob pena de a UAB resvalar para a mesma vala que abriga os partidos políticos com que seus dirigentes flertam.
Opinião
Gilberto Blume: um ser humano sem teto causava comoção, mas as autoridades, e a cidade, obtinham algum sucesso
Naquela época os caxienses se espantavam de verdade ao deparar com um homem dormindo na rua
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