De tempos em tempos, começam a pipocar no Facebook fotinhos de balas soft, congas, Biotônico Fontoura, brinquedos antigos e diversos outros itens, sob títulos como "só quem viveu os anos tal conhece". Um dos posts mais recentes que vi era uma lista de coisas que "só as meninas que passaram a adolescência nos anos 90 sabem". Curiosa, cliquei no link e deparei com imagens como o batom 24 horas (era verde, mas pintava a boca de vermelho), os cadernos de enquete que circulavam entre as amigas e a já esquecida brincadeira do "sapino", uma espécie de jogo para adivinhar o que o garoto no qual estávamos de olho pensava de nós.
Com um sorriso saudosista nos lábios, peguei-me a pensa por qual motivo, afinal, todos nós, seres humanos, temos essa nostalgia do que já não existe mais. Racionalmente, sabemos que muitos desses itens foram substituídos por outros melhores (ou alguém quer trocar os tênis de hoje pelo que usava antigamente?). Entretanto, pensar no passado sempre traz uma mistura de bem-estar com uma certa tristeza por aquilo ter passado.
Vejo por mim mesma: ainda lembro exatamente do ronco do velho Fusca vermelho que meu pai comprou quando eu era recém-nascida e que só vendeu poucos anos atrás. Outros carros vieram depois dele, mas ainda lembro com carinho de suas linhas arredondadas, das ventarolas... E, claro, lanço um olhar de cobiça cada uma das raras vezes que vejo por aí um dos "New Beetle", os Fuscas remodelados lançados alguns anos atrás e que nunca chegaram a ser tão populares quanto os antigos, mas que eu acho lindos.
A nostalgia não para aí. Nos meus escritos, vivo revisitando a antiga casa dos meus avós, cujo estilo enxaimel é, para mim, uma das mais lindas arquiteturas. Meus tempos de criança também me deixam sonhadora, embora obviamente não fosse sempre um mar de rosas - o bullying já existia naqueles tempos, embora a palava não fosse conhecida, e ser a magricela da turma dava origem a vários apelidos, digamos, desagradáveis. Por outro lado, eu era sempre a nota 10, e isso, convenhamos, mais do que compensava.
Até a televisão de então deixou saudades. As crianças de hoje têm centenas de opções à disposição, mas para mim o melhor sempre vai ser o Sítio do Picapau Amarelo (lembram da musiquinha de abertura, "marmelada de banana, bananada de goiaba, goiabada de marmelo"?). Na versão original, pois hoje tem desenho animado, que não é a mesma coisa. E as gargalhadas que eu dava vendo Super Vicky? A menina-robozinha era perfeita - ou seria minha nostalgia agindo como filtro? Ao menos dessa série posso tirar a prova, porque acabei de pesquisar e vi que tem episódios no YouTube...
Todos sabemos, as coisas evoluem, os tempos mudam. Mas ser nostálgico de vez em quando não faz mal a ninguém.
Crônica
Maristela Deves: ser nostálgico de vez em quando não faz mal a ninguém
Com um sorriso, peguei-me a pensar por que temos essa saudade do que já não existe mais
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