Qualquer ida ao Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha, mostra que um dos maiores símbolos de devoção e respeito à santa é mantido vivo o ano inteiro. O imponente altar da santa mais querida da Serra está sempre florido. Expostas abaixo dos pés da imagem de Caravaggio, as flores consagram o milagre da aparição. Em 1432, Nossa Senhora teria aparecido diante da camponesa Joaneta Varoli, dando-lhe a missão de divulgar a paz. A história registra que a santa fez nascer no ponto da aparição uma fonte e, para espanto da comunidade da camponesa, lançou no córrego um ramo seco. Ao tocar na água, o galho de pronto floriu.
Até hoje não há consenso sobre a espécie que nasceu na água. Mesmo assim, grande parte das imagens de Caravaggio que circulam pelo mundo exibe uma rosa. Delicada e vermelha, em Farroupilha a flor é encontrada em expressiva quantidade não somente no altar, mas também na Avenida Dom José Barea, conhecida como Caminho do Santuário. Elas estão espalhadas no canteiro central, ao longo de cinco quadras. Há roseiras de diversas cores e tamanhos, tratadas por um único devoto que leva a sério a tarefa que recebeu da prefeitura há pelo menos três anos.
- Levo pelo menos um dia da semana para podar, replantar, dar remédios quando é preciso. Me sinto orgulhoso e vale muito a pena quando alguém vem elogiar e reconhecer o trabalho - confessa Zudi Galafassi, 61 anos.
Galafassi é figurinha conhecida nas romarias. É proprietário do Restaurante e Hotel Bem-Te-Vi, vizinho do templo. Ele adotou o canteiro, que agora leva placas com o nome do restaurante. No ano passado, boa parte das roseiras sofreu com a ação de um fungo. Após aplicar tratamento, o empresário comprou 300 novas mudas de rosas. Viajou até uma floricultura de Montenegro para adquirir espécies mais coloridas. Há amarelas, rosas, vermelhas e brancas. Galafassi quer impressionar o romeiro e, acima de tudo, agradar sua padroeira.
- Faz parte do milagre dela, e é um presente para Nossa Senhora.
Do altar para o jardim
Enquanto Zudi Galafassi é responsável pelo plantio e tratamento de centenas de roseiras dos canteiros próximos ao santuário, é necessário que alguém cuide dos buquês depositados por devotos aos pés da santa, no interior do santuário E quem executa essa tarefa precisa de muita dedicação, pois é comum mais de 200 vasos ocuparem o altar. Faz parte da cerimônia: o devoto deposita a flor, sobe as escadinhas e encosta a mão na imagem de Caravaggio. Esse ritual é acompanhado de perto há 14 anos pela Irmã Teresa Masetto, da Congregação Missionárias Scalabrinianas. Aos 72 anos, ela é quem rega as plantas, move os vasos de lugar e retira o plástico que os envolve.
- Eu me emociono com esse gesto de dar flores a ela, porque tem gente que prefere doar um buquê de flores, por exemplo, no lugar de dinheiro. É delicado, é lindo -pontua.
O tempo máximo que um vaso permanece aos pés de Caravaggio é uma semana.
Algumas espécies murcham, outras permanecem intactas. E engana-se quem imagina que o trajeto dessas flores ainda intactas seja deixar a igreja e parar no lixo. Irmã Teresa separa os exemplares mais bonitos e os entrega para moradores da comunidade.
- Seria um desperdício jogá-las fora, não acha? Os vizinhos chegam aqui de carro, carregam as flores e depois as plantam em casa - explica.
Os Mugnol, que moram a poucos metros do santuário, é uma dessas famílias que proporciona sobrevida às flores. Fazem parte da equipe diretiva e ajudam no preparo de almoços no restaurante do santuário. O jardim da residência do casal de empresários Flávio e Rosane Mugnol é colorido e, afirmam, abençoado.
- Temos crisântemos, begônias, lírios espalhadas nos arredores da casa. Não tem como não trazerem coisas boas para nós, porque são as flores de Caravaggio! - acredita.