Elas são articuladas, voluntárias, dedicadas, carinhosas e preocupadas. Dedicaram boa parte da vida a cuidar da casa e da família, principalmente dos filhos. Quando se deram conta que já tinham ensinado aos herdeiros tudo o que estava ao seu alcance, perceberam que a vida precisava ir muito além. Por isso, nesse fim de semana, as cerca de duas mil mulheres de Caxias que integram clubes de mães merecem parabéns em dose dupla, já que foram capazes de dividir seu amor materno com a comunidade caxiense, distribuindo gestos de solidariedade por aí.
A história dos clubes de mães está enraizada com a trajetória da sociedade caxiense. Há 40 anos, quando nascia na cidade a Associação de Clube de Mães de Caxias do Sul, reforçava-se a força feminina. Bastante engajadas na comunidade, elas se preocupavam em ocupar as tardes livres de uma maneira nobre. Além disso, queriam promover a integração de amigas de outros bairros à sociedade, fazendo com que se sentissem úteis, mesmo quando já tinham cumprido seu papel de mãe de família.
- Queríamos sociabilizar, tirar as mulheres do seu cantinho, excluídas, e levá-las para o Centro. Assim, elas se sentiam bem melhor - conta a fundadora da associação, Ali Chaves, aos 78 anos.
Desde 1975, os clubes de mães seguem com sucesso e mais e mais adeptas, garante Ali. A atual presidente da associação, Roseli Trevizan, 70 anos, confirma o crescimento. Hoje, são quase 90 clubes associados, espalhados pelos bairros e interior, que reúnem mais de duas mil mulheres. Grande parte delas tem mais de 40 anos, estão próximas da aposentadoria e são mães. Quando são apresentadas a esses clubes, ganham novas amigas e compromissos comunitários.
- Os clubes de mães são uma medicina preventiva. É uma escola com mil ensinamentos para a vida - define Roseli.
O sustento destes grupos é baseado no próprio trabalho. As voluntárias confeccionam roupas, organizam jantares, vendem comidas e levantam dinheiro para as próximas ações, além de destinar roupas e abraços para pessoas carentes.
Engana-se, porém, quem acredita que elas cuidam, somente, de preparar comes e bebes ou ensaiar cantos: de fato, elas interferem no caminho da sociedade caxiense.
- Os clubes de mães iniciaram o plantio de flores e mudas pelas ruas do Centro de Caxias, há mais de 30 anos. Cansei de ficar ajoelhada no paralelepípedo para plantar. Mas sempre valeu a pena - garante Roseli.
No bairro Madureira, as mães aquecem o inverno
Cada um dos quase 90 clubes de mães da cidade trabalha de forma diferente. As mães do bairro Tijuca, por exemplo, preparam almoço para pessoas carentes do lugar. As do Rio Branco se responsabilizam pela elaboração do bolo de aniversário de Caxias do Sul, aquele, com mais de 100 metros. No Madureira, as 25 simpáticas mães do Clube São João Bosco fazem dos encontros semanais uma sessão de terapia. Conversam, riem, falam dos filhos, do marido, do trabalho, das missas da comunidade, dos amigos.
Fazem um belo chá da tarde e consolam aquela que aparece mais triste por lá.
O João Bosco é um dos mais antigos da cidade, com meio século de história, e continua em ação. Suas integrantes unem a destreza com linhas e lãs para tecer roupas elaboradas com carinho materno: costuram cobertores, lençóis e roupas. Esse material chega à hospitais, maternidades, asilos e casas de passagens. Uma das integrantes até transita com cobertas no porta-malas.
- Vá que ela encontre alguém passando frio nas noites do inverno, na rua. Então, é só distribuir - justifica Beatriz Zietolie, integrante do clube há 50 anos.