Todo político em campanha eleitoral se esforça ao máximo para se aproximar do perfil de seu eleitorado. Orientados pelos assessores de marketing, eles tentam ir aonde o povo está; tentam fazer as coisas que o povo faz; tentam, nesses dias, se assemelhar ao povo, para que o povo os veja como legítimos representantes daquilo que o povo é, de como o povo pensa e age. Depois de eleitos, claro, os políticos podem voltar ao seu estado natural, configurado, na maioria dos casos, em uma postura bem distanciada da realidade do povo que os elegeu, como todos sabemos, fora as raras exceções de praxe.
Na Inglaterra, esta semana, virou meme na internet uma tentativa desastrada nesse sentido empreendida pelo atual primeiro-ministro britânico David Cameron, que está em campanha para as eleições de 7 de maio naquele país. Tentando passar uma imagem de que ele também é gente comum, compareceu a um evento público em que foi servido churrasco e cerveja, alimentos de pessoas normais como eu e você, sejamos nós brasileiros ou britânicos. Até aí, tudo bem. Porém, a maionese desandou na hora do cachorro-quente (não me perguntem o que tem a ver cachorro-quente com churrasco, mas trata-se dos hábitos britânicos e as notícias dizem exatamente isso), que Cameron se botou a comer com garfo e faca!
Mas quem é que, de sã consciência, come cachorro-quente com garfo e faca? Ora, todos sabemos que parte da graça, do sabor e do ritual de devorar um cachorro-quente suculento reside justamente no ato de comê-lo com as mãos, lambuzando os beiços com katchup e mostarda, salpicando a camisa com batata-palha e ervilhas, esparramando ilhas de milho e maionese nas calças, engordurando a ponta dos dedos e também a orelha que resolve coçar bem nessa hora, sujando os dentes com salsicha e limpando o molho vermelho com cebola da boca na manga da cam... ops, no guardanapo de papel, no guardanapo de papel!
Eu, que me conheço e não pretendo concorrer a primeiro-ministro da Inglaterra, costumo só comer cachorro-quente em casa, posicionado próximo do chuveiro, para onde preciso me dirigir sempre depois que devoro corretamente um cachorro-quente, haja vista o estado lamentável em que fico. É exatamente isso o que me impede de concorrer a qualquer cargo eletivo. Tá explicado!
Opinião
Marcos Kirst: mas quem é que, de sã consciência, come cachorro-quente com garfo e faca?
Depois de eleitos, claro, os políticos podem voltar ao seu estado natural, configurado, na maioria dos casos, em uma postura bem distanciada da realidade do povo que os elegeu
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