Até a década de 1980, o Centro de Caxias do Sul era um local badalado de lazer, onde pessoas de todos os bairros e níveis sociais se encontravam. Com o tempo, foram desaparecendo as diversas atrações que levavam a população à área central. Cinemas deram lugar ao comércio e, em uma ação emblemática da postura descentralizadora do município, o calçadão foi demolido em nome da circulação de carros na Avenida Júlio de Castilhos.
No projeto Caxias 2030, há referências à descentralização das atividades e em nenhuma das 92 páginas do relatório o Centro é citado. Segundo o secretário de Planejamento, Gilberto Boschetti, isso acontece porque, na época, se falava em descentralização de serviços. No entanto, ela aparece tanto no tópico "Cultura" quanto no "Esporte e Lazer".
Atualmente, o Centro é uma área de negócios. Justamente por isso, quando acaba o horário comercial, as grades das vitrinas baixam e as "atrações" desaparecem. Ou seja, há vida apenas de dia.
- Uma das características importantes dos centros urbanos é a diversidade: é necessário que tenhamos atividades diversas para ter vida em vários horários com vários públicos. O que tem havido em Caxias do Sul é atividade intensa do comércio em detrimento de outras atividades - aconselha Carlos Eduardo Mesquita Pedone, professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e presidente do Conselho Municipal de Planejamento e Gestão Territorial.
Movimento parecido aconteceu em diversas grandes cidades do país. A diferença é que, em locais como Recife (PE) e Curitiba (PR), um grande projeto de revitalização reverteu o processo de abandono do Centro. Caxias pode seguir o mesmo caminho, mas é preciso agir.
O que podemos construir
Atrações noturnas são praticamente inexistentes no Centro, mas é preciso pensar também nos finais de semana. Para o integrante do movimento Viva o Centro - grupo de pessoas preocupadas com a humanização do Centro, mas sem organização formal -, o empresário André Magnabosco, uma saída pode ser promover eventos para atrair a população de volta à área.
Com poucas opções no coração da cidade, a população se voltou à atraente área verde do bairro Exposição. O problema é que o Parque dos Macaquinhos não dispõe de muitas alternativas, se tornando essencialmente um local para a realização de exercícios. Ali é preciso investir em segurança e na infraestrutura.
A preocupação com o ambiente também é importante quando se fala em revitalização do Centro. Ruas com cabeamento subterrâneo, recuperação de prédios históricos e mais árvores seriam bem-vindas.
Hoje, Caxias do Sul não tem calçadão. Até 2004, em toda a extensão da Praça Dante Alighieri, a Rua Júlio de Castilhos abrigava bancos, árvores e até brinquedos para as crianças. O arquiteto Carlos Eduardo Pedone lembra que os calçadões incentivam outras atividades.
Se alguns alegam que a reconstrução do calçadão atrapalharia o comércio e a circulação de veículos, uma alternativa pode ser fechar algumas ruas apenas nos domingos. Hoje Porto Alegre faz isso em alguns corredores de ônibus, o que cria um espaço para correr, andar de bicicleta ou simplesmente passear ao ar livre.
Revitalização
Em três décadas: o que se pode ser resgatado no Centro de Caxias do Sul
Nos últimos 30 anos, a área deixou de ser ponto de encontro para se tornar uma área essencialmente comercial
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