Ao que tudo indica, os representantes de Caxias do Sul que se encontrarão na quarta-feira de manhã com o Ministro da Aviação, Eliseu Padilha (PMDB), em Brasília, não terão que convencer somente o governo federal da viabilidade de um aeroporto de cargas em Vila Oliva. Ainda que o empresariado da Serra gaúcha concorde que o aeroporto desta modalidade seja útil pelo volume de exportação da região, não há unanimidade quanto ao uso da estrutura.
Poucos empresários afirmam que o seu setor aproveitaria aviões cargueiros para despachar volumes expressivos. O alto custo do frete aéreo seria o maior entrave. Por enquanto, a forma rodoviária e marítima, esta última usada para transportar produtos em maiores escalas e até em distâncias internacionais, seguem liderando a preferência dos empresários. Para o diretor de infraestrutura da Câmara da Indústria e Comércio (CIC) de Caxias, Nelson Sbabo, a falta de entusiasmo dos empresários da cidade é motivada pela precariedade do serviço aéreo do Rio Grande do Sul.
- Paraná tem cinco aeroportos internacionais. Santa Catarina também tem cinco. Nós temos um e não tem capacidade de transporte aéreo de carga. Hoje, o transporte aéreo inexiste aqui no Estado. Por isso os empresários nem sabem como funcionam, não conhecem, não se interessam. Com o tempo, isso muda - acredita.
No entanto, lideranças dos setores moveleiro, plástico e do aço, apontados pelo estudo como principais interessados para a viabilidade do aeroporto, afirmam que a demanda é escassa já que grande parte dos produtos seria de baixo valor agregado. Por isso, o investimento do frete não é recompensado. O preço, de fato, é maior: um caixote pesando cerca de 300 quilos, enviado a São Paulo, custa R$ 232,95 em uma transportadora caxiense. De avião, ultrapassa R$ 600. O que difere é a agilidade do serviço - em alguns casos, um produto chega em algumas horas em clientes do outro lado do país.
- O empresário não faz o cálculo de absorver o valor do frete no produto. Depois, isso acaba acontecendo naturalmente e eles enxergam os benefícios - afirma Sbabo.
José Antônio Fernandes Martins, presidente da Associação do Aço do Rio Grande do Sul e vice-presidente de Relações Institucionais da Marcopolo, está entre as lideranças com receio da viabilidade de um aeroporto de cargas. Para o setor do aço, por exemplo, que movimenta cerca de 67 carretas diárias para todo país, o uso direto é pequeno.
- Eu ouço falar da CIC que tem demanda para este aeroporto. Sinceramente, não tenho certeza: hoje o frete aéreo é muito caro, e como todo mundo está com redução de custo... Quem importa aço de avião é porque está muito rico e em uma situação extraordinária. Produtos pequenos, de valia, são viáveis por vias aéreas, porque você coloca um monte de itens numa caixinha - avalia Martins.
O ESTUDO DA CIC
:: O estudo foi elaborado pelo Comitê Pró-Aeroporto Internacional da Serra Gaúcha CIC/Caxias, e será apresentado ao Ministro da Aviação, Eliseu Padilha (PMDB), na quarta-feira de manhã.
:: De acordo com o documento, Caxias movimenta 3 milhões de toneladas/ano de produtos, desde 2010. Deste total, 30% poderiam ser transportados via aérea, mas não é feito em função das atuais dificuldades de logística.
:: As agências de transporte aéreo da cidade transportam 320 toneladas/mês para outros aeroportos
:: O documento diz que a grande maioria das cargas vai para Porto Alegre via transporte rodoviário e embarca em aviões de passageiros.
:: Diz também que 8% de tudo que é produzido aqui é exportado
:: Outro dado: 65% do que é produzido em Caxias do Sul tem como destino outros estados do Brasil
:: O volume de cargas embarcado em Caxias do Sul representa hoje um faturamento de R$ 20 bilhões de dólares/ano.
Vila Oliva
Alto custo do transporte de cargas aéreas preocupa empresários em Caxias do Sul
Líderes de alguns segmentos fazem ressalvas ao estudo de viabilidade que a CIC apresentará ao Ministro Padilha
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