Veranear na Serra gaúcha parece fora de cogitação para quem mora por aqui. No entanto, nas décadas de 40 e 50, turistas de todo Estado, especialmente de Porto Alegre, desembarcavam na Serra pelo clima ameno e saudável, que prometia até curar enfermidades. Esta movimentação parece estar voltando com força: cerca de 45 mil turistas visitaram Garibaldi em 2014 na primeira edição do Veraneio da Vindima. Eles conferiram a colheita de quase 50 milhões de quilos do fruto, feita por agricultores que sabem, como poucos, receber turistas de forma exemplar. Neste ano, a programação ocorre de 17 de janeiro a 15 de março.
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As cinco famílias que residem nas comunidades São Jorge, Santo Alexandre e São Gabriel e integram a Estrada do Sabor inovam ano a ano. A grande sacada da Estrada do Sabor é que o turista não sai dali apenas com uvas na bagagem. As famílias abrem as portas de casa e oferecem vivências da vindima.
Bettú te chama para fazer vinho
Uma das experiências mais marcantes é oferecida pelo vinhateiro Vilmar Bettú. Longe do estereótipo de agricultor, com cabelos compridos e trejeitos de engenheiro mecânico e professor de física, na vindima, Bettú mete a mão nos parreirais. Os vinhos finos que elabora são comercializados entre R$ 100 e R$ 1,5 mil. Neste ano, ele oferece nada menos a oportunidade de elaborar a própria bebida. O processo dura aproximadamente um ano.
Neste período, o visitante é "dono da casa": escolhe as uvas no parreiral, faz a centenária pisa, participa do separação do bagaço e acompanha a fermentação e engarrafamento - e, claro, ao lado da agradável e divertida companhia de Bettú, em uma paisagem rural deslumbrante.
- É uma parceria com quem quer comprar meu vinho. Ele não vai pisar na uva só por pisar: vai ter a chance de provar o vinho mês a mês. Pode levar a mãe, a tia, a vó, a família toda - convida.
É claro que a exclusividade tem preço. O visitante deve produzir pelo menos 200 garrafas, com preços que variam entre R$ 32 a R$ 45 por unidade, dependendo da variedade.
- Mas não precisa se assustar: em duas horas ele pisa o suficiente para produzir tudo isso - garante, bem-humorado, Bettú.
A casa de Bettú fica na Estrada Geral São Gabriel e o telefone para agendamentos é (54) 3462.6807.
Agenda cheia para a vindima
A receptividade e criatividade que a família Bettu oferece na Estrada do Sabor também é representada pela força da mulher agricultora. Quem visita a Osteria Della Colombina conhece a simpática Odete Bettú Lazzari. De colona, passou a empreendedora premiada. No ano passado, foi agraciada com o título de Destaque Turismo Rural na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul. Ao lado de quatro filhas, Odete oferece almoços e jantas sob reserva com cardápio italiano que as avós ensinaram há mais de meio século. As refeições são servidas no porão da casa, com chão batido, decoração centenária e um ambiente pra lá de aconchegante. O cheirinho de uva é garantido: os 50 mil quilos da fruta colhidos na propriedade resultam em geleias, vinhos e sucos orgânicos. Tudo é comercializado na casa de dona Odete. Além disso, o visitante pode participar de oficinas para produzir 'colombinas', as pombinhas feitas de massa de pão, e passear pelo parque da família.
- Não temos mais agenda disponível para o carnaval - comemora a filha Raísa Bettú Lazzari, braço direito da mãe no negócio familiar.
As refeições custam R$ 50 por pessoa. Quem deseja apenas visitar o espaço deve pagar R$ 5, mas tem direito a uma colombina. As oficinas custam R$ 10. Reservas pelo telefone (54) 3464.7755 e 9121.1040.
Faça um piquenique entre os parreirais
A uva é mesmo protagonista nesta época, mas divide espaço com as atrações que as criativas famílias de Garibaldi inventam. Nem sempre é necessário almoçar ou jantar por lá para sentir no paladar o gosto da Serra gaúcha. A família Vaccaro, por exemplo, espalha entre os parreirais uma toalha xadrez e oferece um piquenique colonial. A sorridente Natalina Sartori Vaccaro, 54 anos, espera o visitante com a cesta recheada de grostoli, pão colonial quentinho, geleias, copa, queijo, conservas e suco. A uva pode ser colhida diretamente do parreiral. O visitante ainda ganha o abraço caloroso da vó da casa, dona Maria Lazzari Vaccaro, de 77 anos, que prepara o almoço para os dezenas de safristas que aparecem nesta época.
- Nós recebemos como se fosse da nossa casa mesmo. Eles chegam, pegam a cestinha e ficam à vontade no nosso espaço. Podem ficar o tempo que quiser - convida Natalina.
Uma cesta custa R$ 50 e serve duas pessoas, garante a produtora. O visitante pode levar outras bebidas caso deseja - ou comprar os exemplares produzidos pela família Vaccaro. A família também serve refeições de quarta a domingo, para no máximo 45 pessoas. É necessário agendar. Reservas podem ser feitas pelo telefone (54) 3459.1128 e 3464.7888.