Gilberto Blume: Ética pública é atropelada valendo, mas sigo encharcando o leitor com dicas caseiras de bem viver

Ontem os 17 leitores da coluna foram encharcados com o discurso de que nós, cá no mundo real, precisamos respeitar as regras de convivência para que nossas relações preservem alguma qualidade. O discurso segue de pé, pois o que somos cá no mundo real seríamos também na esfera pública caso estivéssemos lá. A falta de ética é mais vistosa no setor público, mas.

Mas é preciso confessar que é complicado, senão hipócrita, cobrar ética do cidadão destituído de cargos públicos enquanto:

- Enquanto os deputados federais e estaduais vão aprovar reajustes salariais a si e a um sem fim de gente pública com índices bem acima dos índices aplicados aos salários da iniciativa privada;

- Enquanto funcionários da prefeitura de Bom Jesus envenenam cães e gatos;

- Enquanto há corrupção;

- Enquanto o Pezão se diverte na internet sem que alguém contenha o ingresso de celulares, armas e drogas nas cadeias;

- Enquanto Washington mente, mais uma vez;

- Enquanto.

Enquanto a ética pública é atropelada valendo, insisto em encharcar o leitor com dicas caseiras de bem viver. Fabiano Picolli traz contribuição valiosa de Farroupilha. Eis:

"Compartilho um pequeno exemplo que comprova a difícil era que vivemos, que considero um período de retrocesso nas relações, na percepção do outro enquanto ser humano que compartilha este mundo. Minha esposa está grávida, com um barrigão daqueles. Fomos jantar e ficamos 30 minutos na espera no hall do restaurante. Havia cadeiras, mas sabe quantas pessoas (a maioria de 25 a 35 anos) se ofereceram a ceder lugar para minha esposa? NENHUMA.

Isso sem falar da falta de treinamento da equipe do restaurante em ofertar uma cadeira ou priorizar o atendimento. É assim por tudo, nos mercados, na fila do banco, enfim, as pessoas não querem nem saber. A única preocupação é com o próprio umbigo. O que mais sinto falta no dia a dia é a educação, que poderíamos simplificar pela palavra gentileza.

Estivemos em Buenos Aires em outubro, e em todos os lugares (ônibus, metrô, restaurante) o argentino, ao perceber a gravidez, prontamente oferecia lugar. Para os idosos também."

Sem mais, boa quarta!