O sonho de trocar casas precárias por apartamentos novos começa a se tornar realidade para 360 famílias dos bairros Santa Fé e Industrial, à beira da Rota do Sol. Dias atrás, 80 moradores visitaram a área onde será erguido o residencial Rota Nova, conheceram o projeto e viram prédios no Loteamento Campos da Serra, idênticos aos que serão erguidos para eles.
A mudança será grande. Se hoje vivem em área invadida e sem normas de ocupação, agora estarão sujeitos a regras de condomínio em endereço regularizado no bairro Mattioda.
Para ajudar na adaptação, entram em cena cerca de 30 profissionais do setor de Reassentamentos Sociais da UCS, ligado à Pró-reitoria de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico. Eles ajudam a amenizar o impacto da mudança e a criar ferramentas para a boa convivência, como elaborar normas de condomínio. Oitenta líderes apontados pelos moradores servem como multiplicadores de informações. O trabalho iniciado no ano passado deve continuar até 90 dias após a entrega das moradias
Embora a mudança implique em abandonar casas onde viveram por anos e criaram os filhos, alguns moradores não têm clareza da dor da perda, explica a coordenadora da equipe da UCS, Rosane Nascimento.
- Nós vamos construindo essa percepção junto com eles. Não é só a casa, mas o entorno, os vínculos... Podem ser duas tábuas e um telhado, mas se lá a pessoa sente conforto, está em paz e tem prazer em voltar, não importa se é bonito ou feio, é um lar - analisa.
Rosane acrescenta que riscos como o de que uma criança corra à rodovia e seja atropelada, óbvio para quem vive longe dali, não são claros para parte dos moradores. Segundo ela, a maior resistência para deixar as casas vem do Santa Fé, onde a invasão é mais antiga.
- Isso não é negativo, porque eles constituíram lar, família e amigos - entende.
A experiência é a mesma que deu certo com moradores do loteamento Victório Trez, retirados de área de risco no Fátima Baixo, no extinto Valão dos Braga. A família da dona de casa Beloni Fragoso Teixeira, 49 anos, está entre os beneficiados.
- Morei 23 anos lá (no Fátima Baixo). A UCS ajudou muito, teve reuniões sobre como conviver bem com os vizinhos. Continuamos nos reunindo todos os meses e todo mundo ajuda a cuidar das flores e a manter tudo limpinho - diz Beloni, ocupante de nova casa com o marido e a filha.
Cinco professores mestres e doutores, duas assistentes sociais, seis funcionários da UCS e acadêmicos de diversos cursos realizam o trabalho com os moradores.
Obra está em fase inicial
Burocracias entre a prefeitura e a Caixa Econômica Federal atrasaram a construção do Rota Nova. A ordem de início tinha previsão de ser assinada em abril, mas apenas em setembro foi firmada a parceria entre o banco e o município. A obra está na fase de construção das fundações do prédios.
Além das 360 famílias que sairão da beira da Rota do Sol para o loteamento no Mattioda, outras 41 terão de ser removidas posteriormente. O plano é levá-las ao futuro Loteamento São Gennaro, próximo à Rota do Sol. O Rota Nova terá 360 apartamentos distribuídos em 18 prédios.
Uma escola será erguida na divisa com o São Gennaro, além de centro comunitário e reciclagem. O pavilhão improvisado de recicladores onde parte dos moradores trabalha, na Rua Luiz Covolan, no acesso ao Reolon, será desmanchado.
- A reciclagem está no leito da via e é feita com eucaliptos e tem um telhado bem precário. Queremos montar algo seguro e bom para o nosso clima - explica o secretário da Habitação, Renato Oliveira.
Uma nova UBS atenderá aos dois loteamentos e ao bairro Reolon. O postinho do Reolon, que já sofreu diversas reformas, deve ser desmanchado. A novo posto será erguido num terreno vizinho.
O investimento para o Rota Nova é de R$ 13,25 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e R$ 23 milhões do Minha Casa, Minha Vida, ambos de fundo perdido. Conforme Oliveira, a prefeitura deve entrar com R$ 8 a 9 milhões. As famílias não pagarão pelas moradias.
Entre o Rota Nova e o São Gennaro, a expectativa é investir R$ 70 milhões. Em recente entrevista ao Pioneiro, o prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT) classificou o Rota Nova como a menina dos olhos da sua administração. Questionado sobre quem garantiria que as margens da Rota do Sol não seriam novamente invadidas, declarou:
- Eu garanto.
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