O principal evento do calendário vinícola nacional ficou menos conservador em 2014. A inclusão de celebridades entre os jurados e a realização de uma degustação inovadora, em que o público de 850 pessoas teve os olhos vendados, marcaram a 22ª Avaliação Nacional de Vinhos, em Bento Gonçalves.
As ações valorizaram a análise do produto brasileiro, que na taça indicou a boa consistência da última safra. Numa mesa composta em sua maioria por especialistas do Brasil e do Exterior, dois simples apreciadores roubaram as atenções.
O ator e diretor Selton Mello e o apresentador Galvão Bueno fizeram participações menos técnicas, mais próximas da visão do consumidor e que puxaram para a emoção causada pelo evento e pelo vinho. Num tom cômico, Mello foi várias vezes interrompido pelos risos e pelas palmas da audiência.
- Não sei o que estou fazendo aqui. Meus colegas sentem aromas de fruta, de carvalho. Eu não sinto nada disso. Eu entendo é de cinema, e acho que o que liga os dois assuntos é a subjetividade - disse o diretor, que entre março e maio de 2015 deve rodar na Serra a produção O Filme de Minha Vida. Bueno assumiu um discurso mais sentimental quando foi chamado a falar:
- Sou um vendedor de emoções, trabalho com a paixão das pessoas. E minha relação com o vinho é de paixão - falou o narrador, que também é empresário do setor, assinando uma linha de rótulos gaúchos. - O problema maior da indústria brasileira de vinhos não é a qualidade, é o preconceito - completou.
Entre os demais comentaristas, foi mais de uma vez referenciada a rápida evolução do setor no país nos últimos anos, principalmente pelos jurados internacionais. Os vinhos ajudaram a comprovar esse bom momento. Espumantes e brancos mostraram a já esperada qualidade, mas neste ano os tintos não ficaram à sombra.
Além das variedades clássicas, entraram na lista das 16 mais representativas duas amostras da uva italiana Ancellotta.
O evento foi ainda marcado por duas homenagens por meio do troféu Vitis: ao diretor-executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin),Carlos Raimundo Paviani, pelo apoio ao setor, e ao agrônomo Ciro Pavan, na categoria destaque enológico.
Amostras selecionadas para a Avaliação Nacional de Vinhos
:: Vinho base espumante (Chardonnay) - Domno do Brasil
:: Vinho base espumante (Chardonnay/Pinot Noir/Riesling Itálico) - Chandon do Brasil
:: Vinho base espumante (Chardonnay/Pinot Noir) - Vinícola Geisse
:: Riesling Itálico - Vinícola Salton
:: Chardonnay - Vinícola Fazenda Santa Rita
:: Chardonnay - Vinícola Góes & Venturini
:: Chardonnay - Cooperativa Vinícola Nova Aliança
:: Moscato Giallo - Vinícola Giacomin
:: Cabernet Sauvignon - Giacomin Indústria De Bebidas: Vinhos Hortência
:: Cabernet Franc - Vinícola Góes
:: Merlot - Vinícola Perini
:: Merlot - Casa Valduga Vinhos Finos
:: Cabernet Sauvignon - Cooperativa Vinícola Aurora
:: Ancellotta - Vinícola Don Guerino
:: Ancellotta - Vinícola Monte Rosário
:: Tannat -Vinícola Valmarino
Degustação com olhos vendados
Todos os anos, as degustações da Avaliação Nacional de Vinhos são às cegas, ou seja, os participantes só descobrem rótulos estão provando ao final do evento. Neste ano, a expressão "às cegas" ganhou outro significado. A última amostra dos brancos só foi servida depois que todos foram vendados com um lenço negro, uma inovadora experiência sensorial.
Também foram reduzidas as luzes, enquanto o sistema de som combinava trilha e efeitos sonoros com um texto narrado pelo sommelier Vinícius de Miranda Santiago, comentarista desta amostra.
Depois de guiar o público pela análise olfativa e gustativa, Santiago tomou seu lugar entre os jurados e ajudou a revelar mais detalhes sobre o produto. Num ano em que a mesa de avaliação contava com estrelas da televisão, a análise vendada lembrou muito uma cena marcante da minissérie Amores Roubados, exibida pela Rede Globo em janeiro e que tinha um sommelier como protagonista.