A Copa do Mundo no Brasil tem provocado um movimento diferente em Caxias do Sul, um movimento que o poder público não está sabendo bem como lidar. Trata-se da chegada de levas de migrantes oriundos de Gana, país com cerca de 25 milhões de habitantes ao leste da África.
Desde a terça-feira passada, pelo 154 ganeses desembarcaram em Caxias, todos com visto de turista e para quem a saída do país teria sido motivada pelo Copa - o grupo mais recente, de 40 homens, chegou na manhã de ontem. Esses visitantes, no entanto, não têm o perfil do turista tradicional. Nenhum deles assistiu sequer a um jogo do mundial.
Os ganeses vieram em busca de trabalho, dando continuidade a um fenômeno migratório que ganhou força há cerca de um ano, com a chegada de haitianos e senegaleses na cidade. Enquanto a Polícia Federal trata de investigar quem está apontando Caxias do Sul como terra promissora a esses africanos, a prefeitura tentar achar uma solução temporária, apesar de admitir que albergues e instituições públicas para esses fins estão com vagas esgotadas.
Até hoje à tarde eram 100 ganeses na cidade, vindos duas cidades mais populosas do país, Acra (capital) e Kumasi. Os demais passaram pela cidade, encaminharam documentação de refúgio junto à Polícia Federal, e ou retornaram a São Paulo, primeiro destino no país, ou foram para a região de Criciúma (SC), onde disputam vagas em frigoríficos. O protocolo emitido pela Polícia Federal lhes dá o direito de permanecer no Brasil por um ano - uma vantagem e tanto diante do visto de turista, que expira no próximo dia 27 de julho.
A Câmara se tornou, desde sexta-feira passada, uma espécie de QG, onde estão concentrados os trabalhos de preenchimento do formulário do Comitê Nacional para os Refugiados (cerca de cinco páginas de entrevistas que devem ser transcritas em português) e de organização para encaminhamento dos ganeses. Até agora, a Comissão e entidades ligadas à Igreja Católica, como o Centro de Atendimento ao Migrante, têm tomado a frente dessas tarefas.
Desde sexta-feira, um grupo de ganeses dorme junto à sala de jogos do ginásio de esportes do Seminário Nossa Senhora Aparecida, e recebe alimentação por meio de doações.
Vinícius Possamai Della, delegado da Polícia Federal em Caxias do Sul que atende a migração, diz que os ganeses estão amparados pela Lei 9.474/97, que regula a situação de refugiados no Brasil. Segundo ele, não há informações de que haja alguém ou algum grupo coordenando a vindas desses migrantes a Caxias. A Fundação de Assistência Social (FAS), órgão público responsável por atuar nesse tipo de situação, mantém a mesma posição de uma semana atrás, quando anunciou não ter condições de oferecer abrigamento aos migrantes de Gana.
- Nossas duas casas de passagem (Carlos Miguel e São Francisco de Assis) estão com lotação esgotadas. Não estamos negando atendimento, estamos colocando uma situação real. E nós temos a obrigação de orientar esse pessoal de que as empresas de Caxias estão demitindo, e não contratando. Nosso setor de assistência social tem atendido muitos casos de pessoas sem ter onde ir porque perderam emprego recentemente. Não estamos com condições ideais nem de atender quem é daqui - relata Marlês Andreazza.
Migração
'Turistas' de Gana pedem refúgio em Caxias do Sul
Desde a semana passada, já desembarcaram na cidade 154 ganeses
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