As crateras que incomodam os motoristas que trafegam pelas estradas da Serra gaúcha comprovam as estatísticas da Confederação Nacional do Transporte (CNT): quase 47% das rodovias brasileiras têm problemas e 43% estão com a superfície desgastada. O fluxo de veículos com excesso de carga e os erros na execução dos projetos de engenharia se somam à principal causa de deterioração tão rápida do asfalto: a falta de manutenção das estradas.
- Quando se aplica a operação tapa-buracos, o problema já está ampliado. O que era uma rachadura se transformou em uma cratera. A demora acontece porque no Estado, só se faz obra quando se tem dinheiro. E isso sempre demora - avalia o engenheiro civil que atuou por 43 anos no Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem, Milton Cypel, e que atualmente trabalha em obras da Copa do Mundo pelo Estado.
As famosas e emergenciais operações tapa-buracos estão longe de serem empregadas da forma ideal. Jogar asfalto para cobrir a cratera visa impedir acidentes e estragos de grande proporção nos carros, explica Cypel. No entanto, o ideal é que a pista seja recortada no espaço deteriorado e o asfalto seja aplicado de forma compactada. Assim, o nível do novo e o antigo asfalto se equipara, e não surgem os conhecidos remendos.
- Outro problema é a qualidade do produto. A Petrobras fornece o que pode e como pode. É a única fornecedora e a demanda é grande. Por isso, o desgaste começa no fornecimento de origem. Nossas empreiteiras gaúchas não estão vivendo bom momento, estão fugindo do Estado - avalia o engenheiro.
Na Serra, a falta de drenagem na pista é responsável por boa parte da deterioração do asfalto, garante o deputado federal Beto Albuquerque (PSB), que foi titular da Secretaria de Infraestrutura e Logística do Estado em 2011 e 2012. O relevo da região e a criação de habitações próximas das rodovias retêm a água. O líquido que se acumula de forma subterrânea colabora para a criação de buracos.
- Não há drenagem na pista. É uma das principais deficiências da Serra porque há muito morro e vegetação. Sem uma drenagem eficiente, a chance de estragar o asfalto aumenta em 40%_ pontua o deputado.
Se para os motoristas os buracos causam dor de cabeça, para os borracheiros, é sinônimo de lucro. Wilson Nunes é dono de uma borracharia no Desvio Rizzo. Por isso, é chamado com frequência para prestar socorro a condutores no trecho que liga Farroupilha a Caxias.
Na segunda-feira, por volta das 20h30min, ele trocava as rodas de dois caminhões na frente da empresa Vidroforte. Somente naquele dia, ele atendeu a pelo menos 30 chamados de motoristas que culpavam a mesma cratera pelo estrago nos carros.
- Foi um dia atípico e por causa da chuva. Mas geralmente, os carros chegam com os pneus cortados, a roda quebrada ou entortada. Daí, o prejuízo é ainda maior - observa.
O preço médio cobrado por borracheiros é de R$ 50 pelo deslocamento e mais R$ 30 pela troca do pneu. Há casos em que mais de um pneu do mesmo automóvel fura ao entrar em crateras, segundo o borracheiro.
- Os motoristas que se tornaram meus amigos de tanto trocar pneu me dizem que tem saudade do pedágio porque o prejuízo é grande - lembra.
Trânsito
Manutenção nas estradas da Serra é feita de forma errada
Operação tapa-buraco deveria recortar pista e não somente jogar asfalto nas crateras
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