O haitiano Elusme Coléus, 44 anos, mora em Caxias do Sul há dois anos. Pintor de profissão quando morava no Haiti, trabalha montando assoalho de ônibus na Marcopolo, há um ano. Saiu do país de origem em 2011 e, antes de vir para o Rio Grande do Sul, rodou por Peru, Tabatinga-AM e Manaus. Para buscar melhores condições de vida fora da pátria, deixou os cinco filhos, Elciana, 22, Stevenson, 19, Nergelande, 15, Giveline, 12, e Lovetaline, oito e a mulher, Alexandre Chinode, no Haiti.
Morando de aluguel em uma casa no beco da Rua Barão do Amazonas, no bairro Diamantino, Coléus começou a frequentar os cultos da Igreja Evangélica. Conheceu o pastor João Fernandes, que lhe apresentou a Giovani Rodrigues, 42, com quem nutriu amizade seis meses atrás. Fluente em inglês, francês e wolof, o haitiano consegue compreender e falar o português satisfatoriamente, com o auxílio de aulas que duram uma hora todos os domingos.
Misturando um pouco dos idiomas, contou que planejava trazer a mulher para o Brasil. Porém, o alto custo da passagem do Haiti para Porto Alegre - R$ 2.943 - era o grande empecilho. Rodrigues, no entanto, solidarizou-se com o imigrante e resolveu arregaçar as mangas. Em uma campanha na Igreja, arrecadou R$ 213 dos fieis. As economias de Coléus somavam R$ 1.990. A equação era simples, mas o problema largo: faltavam R$ 740 para mandar a passagem para o Haiti.
Técnico em segurança do trabalho, Rodrigues saiu da Marcopolo há cinco meses. Desde então, procura vaga e se vira com o fundo de garantia e o seguro desemprego. Ainda assim, pediu empréstimo no banco, parcelou em cinco vezes no cartão e doou o dinheiro ao amigo. Nesta terça na companhia da filha Daniele, nove, deixou Caxias às 4h15min e levou Coléus de carro até o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, para buscar Chinode.
- Valeu muito à pena ajudá-lo, com certeza. É bom quando planejamos algo e dá certo. Não é porque é da mesma igreja ou é haitiano, poderia ser um japonês também. Faz parte da vida auxiliar quem precisa - comenta Rodrigues.