Morador de Caxias do Sul está há duas semanas esperando cirurgia em perna fraturada

Duas semanas depois de ter fraturado o fêmur da perna esquerda em um acidente de trabalho em São Francisco de Paula, o agricultor Marcos Dias, 35 anos, ainda não foi operado.

Catarinense que mora em Caxias do Sul desde janeiro, Dias foi internado no Hospital Pompéia na noite de sexta-feira. Ele foi transferido do Hospital de Pronto-Socorro de Canoas (HPS), referência na área de traumatologia pelo SUS para São Francisco de Paula, cidade onde a perna do trabalhador foi atingida por um trator. Na manhã deste sábado, ele passa por exames. Ainda não há previsão para a cirurgia e seu estado é regular.

Há duas semanas, quando sofreu o acidente em São Francisco de Paula, o Samu o socorreu até o hospital local, que o medicou e o submeteu a um raio x. Sem ter condições de tratá-lo, a instituição o encaminhou para Canoas. Mas no HPS, Dias também não passou por cirurgia. Isso porque seu caso não foi considerado de emergência. Só seria operado nas condições em que chegou se morasse em Canoas ou em outro dos 139 municípios da área de referência. E Caxias do Sul não está nesse grupo. 

- A perna está quebrada até agora. O pessoal de Caxias não estava aceitando ele porque diziam que São Francisco enviou para Canoas, que era paciente de São Francisco. Mandamos cartão do SUS, até comprovante de endereço, não aceitavam. O médico liberou ele para ser transportado para Caxias há nove dias. Não pode ficar assim, o serviço público empurrar de um lado para o outro e o paciente sofrendo com isso - comenta o amigo e patrão de Dias, Ronei Luiz Pasquali, 49.

Na noite de quinta-feira, a Secretaria da Saúde de Caxias autorizou a transferência de Dias. Uma ambulância do Samu foi deslocada de Caxias no final da tarde de sexta para buscar o paciente.

No sábado passado, Dias apresentava sintomas de uma embolia gordurosa, segundo o amigo, que deixou o paciente confuso, falando sem nexo. Porém, de acordo com Pasquali, tomografias no cérebro não apontaram alteração alguma.

De acordo com a responsável pela 5ª Coordenadoria Regional da Saúde, em Caxias, Solange Sonda, a obrigação da saúde pública é atender os enfermos, não importando a origem deles. Não há erro em pedir a transferência posteriormente.

- No momento em que qualquer paciente passar mal ou sofrer um acidente, independentemente de onde esteja, sendo ou não do município, a obrigação é atender. Feito o primeiro atendimento, depois sim pode-se entrar em contato com a região onde ele mora e pedir transferência - explica Solange.

O procedimento é adotado em razão dos recursos limitados que as cidades recebem por paciente.

Secretário da Saúde de Canoas, Leandro Santos ressalta que o município cumpriu sua parte, ofertando os primeiros atendimentos. De acordo com Santos, se o paciente estivesse com fratura exposta, a situação seria considerada de emergência e ele seria operado na hora. No entanto, constatou-se caso de cirurgia eletiva, com possibilidade de ser programada. 

- Desde que o atendemos, ele está esperando vaga no município dele. No dia seguinte, fizemos contato com a Secretaria Municipal da Saúde de Caxias, solicitando a transferência. Mas fomos informados de que não havia leito. Ele tem que voltar para Caxias. Canoas não atende Caxias, que é uma cidade grande e que tem que dar conta da sua saúde. No momento que atender pacientes de Caxias, vou deixar de atender paciente de Canoas. Trabalhamos corretamente nesse caso - sustenta Santos.

A Secretaria da Saúde de Caxias contesta as informações do secretário de Canoas. Em nota, o órgão afirmou que a solicitação de transferência do paciente de Canoas para Caxias foi feita às 14h55min do dia 29 de outubro.

- Conforme o prontuário médico, o paciente apresentava fratura de fêmur, com sinais de embolia. Baseado no quadro clínico apresentado, o traumatologista do Hospital Pompéia alertou para o risco de transferência em virtude da embolia pulmonar, já que o deslocamento poderia agravar o quadro. Por essa razão, optou-se pela permanência em Canoas até a estabilização do mesmo.  A Central de Regulação de Leitos de Caxias do Sul acompanhou os dados clínicos do paciente periodicamente - informou a nota enviada pela secretaria.