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A história é antiga e parece previsível: a mãe ou o pai é médico, logo o filho cursa Medicina e herda o consultório. Há também músicos que influenciam seus pequenos a tocar algum instrumento e, no futuro, montar uma banda, escritórios de advocacia passados de geração para geração, empresas administradas por famílias empreendedoras, e assim por diante.
A cirurgiã-dentista Jeanete Granzotto Dias, 60 anos, não esconde que pressionou a filha Luciana Granzotto Dias, 25, a seguir sua profissão. A história começou há seis anos, quando a guria estava em dúvida sobre qual seria a sua opção para o vestibular. Vendo que Luciana gostava de seu trabalho, não titubeou:
- Ela queria trabalhar com a área da saúde, mas estava indecisa sobre qual caminho seguir. Assim, tentei mostrar de todas as formas que a odontologia era legal. Mas tive certeza de que ela queria trabalhar com isso quando aguentou, firme e forte, assistir a uma cirurgia de reconstrução de face, que envolve muito sangue - explica a mãe, profissional há 35 anos.
Formada há um ano, hoje Luciana tem um consultório na mesma clínica da mãe e do pai, Wilson Braz Dias, 58, também cirurgião-dentista. Apaixonada pela atividade, não se arrepende de ter cedido à pressão de Jeanete.
- Ainda bem que ela me pressionou. Acho que se tivesse escolhido uma outra ocupação, hoje não seria tão feliz - diz.
Com a família repleta de profissionais da mesma área, os papos sobre cirurgias, doenças e afins saem do consultório e se estendem para casa. Quem fica de fora é a outra filha do casal, Camila, 28, que é jornalista e empresária.
- Morro de medo de dentista e não seguiria a profissão deles jamais - exclama.
Três gerações de Direito
Se fosse para diversificar os assuntos na mesa de jantar, os três filhos de Nélson Gularte Ramos, 78, e Maria Hildeca Mattana Ramos (já falecida) deveriam ter ido em outro rumo que não o do Direito. Mas não teve jeito. José, que morreu neste ano, era advogado criminalista; Clóvis Moacyr, 48, é juiz da 3ª Vara Cível de Caxias; e João Francisco, 41, atua na área cível.
- O papo do café da manhã, do almoço e da janta era Direito. Não adiantava fugir desse destino. Fui conduzido a entrar nesse caminho, sem força alguma - brinca João Francisco, que trabalha no escritório ao lado do pai. Nélson Ramos advoga desde 1967 e, claro, sempre foi uma escola para os filhos.
Profissional reconhecido na cidade, com incontáveis casos ganhos na Justiça, o patriarca garante que é um orgulho ter os filhos como seus sucessores.
- Lembro quando o Zé (José) ainda estava na faculdade e o levei para assistir a um júri. O caso era difícil (um homem tinha matado sua esposa) e vi que ele tinha se apaixonado por aquilo. Só ali tive certeza de que um filho seguiria minha carreira - lembra.
E o nome dos Ramos na advocacia tende a permanecer por mais tempo: Nélson Gularte Ramos Neto, 20, filho de Clóvis Moacyr, está cursando Direito. Projeto sem sucesso É natural um filho se habituar ao trabalho ou a algum hobby dos pais e transformar aquilo em interesse próprio.
Ele os vê vivenciando a rotina, enfrentando dilemas de sua área e até mesmo participa de muitas experiências das atividades dos pais. Para completar, os mais velhos, muitas vezes, incentivam os jovens a seguir seus passos e, quando acontece, orgulham-se de saber que serviram de exemplo para tais escolhas, sejam profissionais ou de lazer. Essa visão positiva, porém, nem sempre é compartilhada por todos.
A decisão de seguir o exemplo dos pais ainda é vista com certo preconceito, resquício de uma época em que os caminhos dos filhos eram determinados por seus genitores. Por outro lado, se o herdeiro resolve não seguir a mesma carreira, sua escolha pode se tornar motivo de atrito familiar. Daniela Valéria de Lima, 27 anos, hoje é psicóloga, mas por pouco não se tornou (obrigatoriamente!) administradora de empresas.
Filha de Juarez de Lima, 58, dono de uma fábrica de peças plásticas, ela chegou a cursar dois semestres de Administração, mas não concluiu a faculdade.
- Meu pai queria que alguém continuasse com o projeto de vida dele, mas não gosto de fazer cálculos, muito menos de administrar um negócio. Não seria feliz seguindo o mesmo caminho - pondera Daniela.
O pai defende-se dizendo que queria apenas que a filha desse seguimento ao negócio, em funcionamento há mais de 10 anos.
- Não obriguei ela a ser o que eu sou profissionalmente, mas gostaria muito. Como ela tentou e viu que não levava jeito, todos desistimos do plano. Hoje percebo que ela é feliz com sua atividade - conclui Juarez.
A psicóloga especialista em orientação vocacional e psicoterapia Nicole Chiaradia alerta que é preciso ter cuidado na hora de seguir na profissão dos pais. Segundo a especialista, se a ocupação for forçada por familiares, os riscos dessa pessoa ser infeliz no trabalho são altíssimos.
- A insatisfação no emprego pode causar diversos males, inclusive o adoecimento. Por isso, é muito importante que o adolescente, principalmente, que está começando sua carreira profissional, se identifique com a ocupação - explica.
Escotismo no DNA
A paixão pelo meio ambiente e pelo espírito de aventura ligam Carlos Marques da Silva, 54, aos filhos Pedro Decó da Silva, 18, e Carolina Decó da Silva, 12. Hoje, os três fazem parte do Grupo de Escoteiros Imigrante e não há um só dia em que o trio deixe de falar sobre histórias de acampamentos e de atividades do movimento.
- Sou escoteiro há 41 anos e nunca obriguei meus filhos a serem também. Eles viram como era bom esse estilo de vida e resolveram participar, o que me deixou imensamente feliz - conta Silva.
Divididos em ramos, definidos de acordo com a idade, Pedro é sênior, Carolina é escoteira e Silva, chefe. Normalmente, eles não se encontram nas atividades do Grupo Imigrante, mas tentam estar sempre por perto.
- Desde pequena acompanho meu pai e adoro. Ele sempre me incentivou e hoje é minha inspiração - diz Carolina.
Nenhum dos filhos pretende seguir a mesma profissão do pai, livreiro, mas ambos darão continuidade aos trabalhos realizados no escotismo.
- Seguimos o mesmo estilo de vida e vamos continuar com a família no grupo - avisa Pedro.
O Novo Camisa 5
Ídolo do Caxias nos anos 1980 e parte dos 1990, Renato Ubirajara Formoso Pires, o Caçapava, 47, está realizado com a possibilidade de ver seu filho, Ryan Pires, 17, em campo. E o melhor: jogando na mesma posição, volante, e com a mesma camisa, a 5. O guri está cursando Educação Física e fazendo testes nos juniores do time grená.
- Ainda é o começo de uma grande caminhada, mas será um sonho. Desde pequeno, vi que ele levava jeito para a coisa. Também, né, com menos de cinco anos ele já entrava em campo comigo - detalha o ex-jogador que mais disputou clássicos Ca-Ju.
Ryan, que já jogou nas categorias de base do Juventude, afirma que o pai é a sua maior fonte de inspiração:
- Ele é o meu ídolo. Adorava vê-lo em campo e sabia que seguiria seu caminho no esporte. Apesar de sofrer pressão por ser filho de um grande craque, tenho muito orgulho de vestir a camisa 5.
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