Do São Cristóvão não veio para o mundo do futebol apenas o craque Ronaldo Nazário. O atual técnico do Juventude, Jair Ventura, disputou a sua primeira competição no clube carioca.
— Só que um deu certo e outro deu muito errado — brincou Jair Ventura em entrevista ao programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra.
Jair Zaksauskas Ribeiro Ventura jogou profissionalmente até os 26 anos. O atacante tinha certeza que ia deslanchar no futebol. Porém, viu que o caminho estava indo para o lado não planejado.
— Tinha quase certeza que as coisas iam acontecer do jeito que eu queria e elas foram caminhando pra um lado totalmente oposto, de eu jogar na Série B do Rio, de estar jogando no Gabão. Fiquei dois anos na África e via essa distância. Mas eu, de vez em quando, me pego sonhando com um gol, com uma partida legal que eu fiz na Copa da França — lembrou.
Jair Ventura não brilhou como atleta. Mas virou um competente treinador. E completou 10 jogos no comando do Juventude em sua segunda passagem no clube.
Ele chegou motivado para fazer história. O alviverde está nas quartas de final da Copa do Brasil e enfrenta o Corinthians em busca de uma vaga às semifinais. O confronto de ida será nesta quinta-feira (29), às 20h, no Estádio Alfredo Jaconi.
CONCENTRAÇÃO INUSITADA NO GABÃO
Ele disse que não tinha banheiro. Falou que era é ali fora. Era um buraco, você vai e faz
JAIR VENTURA
Atual técnico do Juventude
Na bagagem construída até aqui, Jair Ventura acumula muitas histórias. Ainda como jogador, atuou em outros países, como na Grécia, e morou na Arábia Saudita. Ele conheceu o mundo da bola e diversas culturas. Entretanto, no Gabão, país do continente africano, ele vivenciou uma experiência inusitada durante uma concentração.
— No Gabão foi bem difícil. Era um clássico, e o presidente falou: "hoje a gente vai concentrar". Chegou um ônibus de escolar, esses antigos dos Estados Unidos. Quando a gente chegou era uma casa. Tinha uns colchonetes no chão, um ventilador de teto. Eu falei, cara, vou pegar um colchão logo para não dormir no chão. Perguntei pro capitão sobre o banheiro. Ele disse que não tinha banheiro. Falou que era ali fora. Era um buraco, você vai e faz — declarou Jair, que mais tarde seria recompensando:
— Depois eu entendi como o papai do céu me abençoou em trabalhar em grandes clubes. Na Seleção Brasileira, três anos de base. Eu sabia que um dia ia ser recompensado. Desde os 16 anos, quando fui fazer teste no PSG, não voltei mais pra casa. Eu fui atrás dos meus sonhos de ser jogador.
CONSELHO DO PAI
Jair Ventura tem um grande conselheiro em casa. Seu pai, Jairzinho, foi um dos heróis da Copa do Mundo de 1970, ocasião em que o Brasil conquistou em definitivo a Taça Jules Rimet com o tricampeonato. Na época, ganhou o apelido de "Furacão", por ter feito gols em todas as partidas. O filho nunca esqueceu de um conselho do pai.
— Ele em nenhum momento deixou de falar pra eu estudar. Eu me formei e ele falou, vai fazer curso de inglês, sempre aquela coisa. De estudar, educação e educação. Hoje, se eu não tivesse escutado ele, teria muito mais dificuldade. Com certeza, se pudesse dar um conselho também pra, por mais que os jovens queiram alcançar os seus sonhos dentro do esporte, sempre, em paralelo, tem que ter a educação.
Zagalo é a minha maior referência como treinador
JAIR VENTURA
Técnico do Juventude
Na infância e adolescência, Jair Ventura conviveu com os ícones do futebol brasileiro, como Pelé, Rivelino e Gerson. Para ele era tudo muito normal. Hoje treinador, Ventura tem como referência na área outra lenda, Mário Jorge Lobo Zagallo.
— Eu tive a oportunidade de ver todos os jogos da Copa de 70, debatendo com meu pai. Imagina você gerir cinco camisas 10, arrumar um espaço pra esses caras jogarem, você fazer um Tostão no falso nove, jogadores diferenciados no banco, você ter essa gestão e dar o show que deu. Então, com certeza, o Zagalo é a minha maior referência como treinador — destacou Ventura.