O dia 31 de outubro de 2023 ficou marcado como mais um passo importante na história da consolidação de um novo cenário no futebol brasileiro. A Liga Forte União, composta pelos clubes da Liga Forte Futebol e do Grupo União e a qual o Juventude faz parte, fechou um acordo bilionário. A venda de 20% dos direitos comerciais pelos próximos 50 anos atingiu o valor de R$ 2,6 bilhões, que serão pagos nos próximos 18 meses.
Desde o ano passado, os clubes iniciaram a discussão sobre a formação da liga. A CBF deu o aval para que os dirigentes se organizarem. No começo, houve um racha e os clubes acabaram se dividindo em dois grandes blocos. Além da Liga Forte, criou-se a Libra, com os clubes de maior torcida do Brasil, como o Flamengo, e os paulistas.
— Desde o início o Juventude tomou a frente e foi um dos clubes fundadores da Liga Forte por acreditar que a divisão de valores devia ser mais igualitária. Não é pra todos receberem o mesmo valor, mas algo mais próximo do que a gente vê na Europa. Lá, o caso de menos igualdade é 3.5 vezes, e há ligas que trabalham com até 1.5 vezes. Defendemos o modelo, que seria o pior caso, de 3.5 vezes, e também uma separação de valor para a Série B pra dar uma garantia de que a competição possa ter uma boa verba de execução — explicou o presidente alviverde Fábio Pizzamiglio.
E, depois de muitas reuniões, a Liga Forte foi efetivada no final do ano passado, com a união da maioria dos clubes da Primeira e Segunda Divisões, e alguns clubes da Série C. Nesse ano, apesar da CBF ter garantido o mesmo valor da verba de TV do ano passado, a quantia foi considerada insuficiente para o Juventude ter um time do nível da Série B.
— No dia 31 de outubro assinamos o contrato final com o investidor que estava trabalhando com a gente e já encaminhamos uma parte do recebimento do valor total que estava destinado ao Juventude. Os clubes da Série B acabaram tendo um decréscimo inicial dos valores. Isso está sendo discutido ainda, mas, pelo menos, as coisas já estão acontecendo — destacou Pizzamiglio.
Os valores para o Juventude, conforme o presidente, seriam em torno de R$ 90 milhões, mas isso ainda depende de algumas liberações do contrato de TV, com algumas alterações do atual, para que o clube possa ter essa verba. Há ainda alguns descontos, de parte de assessoria, mas a verba é considerada boa.
— Um orçamento de Série A, vamos dizer assim. Mas a ideia apresentada em conselho é de que esses valores vão ser utilizados na estruturação do clube pra que a gente possa nos adequar e ter uma estrutura realmente de Série A — avaliou o mandatário alviverde, que falou ainda que o contrato prevê o parcelamento dos R$ 90 milhões em três vezes, pagos até 2025:
— São parcelas em três anos, mas metade desse valor está bloqueado e a primeira parcela também tem uma parte que está bloqueada. Os clubes da Série B têm um diferencial que ainda não está organizado. Os de Série A sim receberam já 50% cada um, no dia 31 de outubro. De nossa parte, ainda há indefinições da divisão. Na próxima semana, vamos ter reuniões com a CBF e o pessoal da TV pra gente tentar organizar isso o mais rápido possível.
Como chegaram nesse valores
O acordo é baseado no passado do Juventude. Foram levantados os últimos 20 anos de todos os clubes que estão na Liga Forte. Independente deles estarem hoje na A ou na B foi feito este índice baseado em quanto tempo o Juventude esteve no cenário nas últimas duas décadas.
— E mais algumas negociações onde conseguimos melhorar um pouquinho os valores pro clube. Se der tudo certo, será este o valor. O que acontece é que nosso contrato atual da Série B tem uma cláusula que está atrapalhando a negociação com nosso investidor. Temos que resolver, mas a princípio dentro dos próximos seis meses ou um ano já devemos organizar tudo e entrar no mesmo fluxo dos outros clubes da Série A — apontou o presidente.
Um orçamento de Série A, vamos dizer assim. Mas a ideia apresentada em conselho é de que esses valores vão ser utilizados na estruturação do clube
FÁBIO PIZZAMIGLIO
Sobre os R$ 90 milhões que o Ju tem direito
O Juventude acabou utilizando parte desta verba pra bancar o time que disputa o acesso à Série B, algo em torno de R$ 7 milhões. A folha mensal do clube é de pouco mais de R$ 1 milhão, bem abaixo de times que também disputam o acesso, como o Sport (R$ 2,1 mi), Vitória (R$ 2,2 mi) e Atlético-GO (R$ 3 mi).
— Nosso orçamento é abaixo da média dos clubes da competição. Tínhamos previsto, já no início do ano, que alguma coisa iria entrar. Acabamos fazendo um adiantamento e utilizamos no futebol. Mas isso não é pra acontecer. Como tivemos um descenso, uma quebra de orçamento, isso foi pra gente poder ter um time competitivo. O restante dos valores da Liga serão definidos no Conselho de Administração que irá decidir a destinação de cada ano e em quais áreas vamos utilizar. E pode ser sim parte para o futebol — apontou Pizzamiglio.
Como se tratam de valores que se referem à venda de direitos futuros, trata-se de um adiantamento de direitos da TV, não um ganho. Por isso, o clube pretende investir com cautela e de uma forma que seja algo que traga um retorno para o clube.
Futuro das ligas
A ideia do grupo é que haja uma união real entre os clubes das Séries A e B. O próximo passo é tentar buscar esse consenso com os outros clubes para que se execute o projeto de uma liga dentro do futebol brasileiro.
— Quando isso acontecer, o futebol brasileiro vai dar um salto e se aproximar um pouquinho mais da Europa. Os direitos comerciais hoje estão muito abaixo do que o resto do mundo trabalha. Com a liga, poderemos bater de frente com outros campeonatos e isso vai acabar melhorando nosso futebol, toda estrutura e vai refletir em todas as áreas, inclusive pra Seleção. Os atletas poderão ficar mais tempo no Brasil. Estamos vendo jogadores com 18 anos que despontam já saindo do país. Isso é uma coisa que, com o campeonato mais forte, acaba diminuindo — justificou Pizzamiglio.
Para que não haja uma guerra no que diz respeito à venda dos direitos de imagem, o presidente alviverde garante que o contrato de quem faz parte da Liga Forte prevê um vínculo de 50 anos.
O futebol brasileiro vai dar um salto que vai poder se aproximar um pouquinho mais da Europa. Os direitos comerciais hoje estão muito abaixo do que o resto do mundo trabalha.
— O que nos deixa esperançosos, no caso da Liga Forte, é que todo mundo abriu mão um pouquinho desde o começo. Os clubes maiores abriram mão de parte desses recursos pra que a liga aconteça. E mesmo que não haja a união de todos os clubes só a formação desse grupo comercial já mostra uma boa vontade. Ouvi muito também que este grupo pode se desmanchar, mas é diferente do que aconteceu no passado porque aqui nós temos um investidor, um contrato — afirmou Pizzamiglio, que completou:
— Não é algo que possa mudar, mesmo que troque a diretoria do Juventude, por exemplo, não há como sair deste contrato. Vamos receber investimento em troca de 50 anos de contrato. É uma responsabilidade muito grande. Isso dá um certo peso a tudo que está acontecendo. E, com os recursos entrando, muitos clubes ainda vão fazer parte porque percebem que as coisas estão acontecendo. O outro lado também tem essa vontade e sabe que será bom pra todo mundo a união.
Mais sobre a Liga Forte:
:: Os 25 clubes que assinaram o acordo são: América-MG, Athletico-PR, Atlético-GO, Avaí, Botafogo, Ceará, Chapecoense, Coritiba, CRB, Criciúma, Cruzeiro, CSA, Cuiabá, Figueirense, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Inter, Juventude, Londrina, Operário-PR, Sport, Tombense, Vasco e Vila Nova-GO;
:: Quatro clubes vieram do Grupo União (formado por Botafogo, Coritiba, Cruzeiro e Vasco);
:: Os 25 clubes da Liga Forte União fecharam um acordo definitivo com o grupo de investidores liderados pela Life Capital Partners. Com isso, os clubes receberão nos próximos um aporte superior a R$ 1,2 bilhão. O total é de 2,6 bilhões ao longo de 18 meses. Esse valor será dividido entre os clubes seguindo critérios;
:: Em contrapartida, Liga Forte União e Investidores irão gerir, a partir de 2025, as receitas comerciais geradas por este bloco de clubes no Campeonato Brasileiro pelos próximos 50 anos.