A vida costuma dar voltas. As oportunidades aparecem, basta abraçá-las. Foi o que fez o volante Jean Irmer no começo da carreira. Aos 17 anos, o jovem natural de Taguatinga-DF, recebia o convite para jogar na base do Estudiantes de La Plata-AR. Único brasileiro na equipe, o atleta sofreu com as provocações no dia a dia com os argentinos. Mas não baixou a cabeça e manteve-se focado no trabalho. E como resultado, o volante ainda teve a chance de jogar com o craque do time, o meia Verón, no elenco principal.
— O meu estilo de jogo reflete totalmente a base que eu fiz no Estudiantes. E um dia, machucaram todos os volantes do time principal. Sobraram o Verón e eu. Pude então jogar com o Verón um amistoso contra o Defensa Y Justicia. É o típico cara com quem aprendi muito. Ele fazia o time jogar só falando — destacou Jean em entrevista ao Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra.
O atleta ainda revela um bastidor curioso que viveu com o ídolo do clube argentino:
— Tinha que ir no casamento da tia da minha esposa e o Verón chegou pra mim e perguntou: "Mas você tem roupa pra ir na festa? Porque as que você tem são muito cozidas! Teu estilo é muito fraco". Daí mostrei a ele um casaco que tinha e ele disse: "Gente, você vai para um casamento com um casaco desses? Como você é o padrinho, vou te emprestar meu blazer." (risos) — e Jean ainda esnobou:
— Disse que não iria pro casamento com aquele blazer xadrez verde. E o Verón me respondeu: "Fui receber um prêmio de melhor volante da Europa com esse terno e você ainda acha ele ruim?" (risos). Falei que não era um terno ruim, mas era feio (risos).
BOM MOMENTO
A alegria de Jean vem em boa hora. Na última partida pelo Juventude, o volante teve uma de suas melhores apresentações desde que chegou ao Alfredo Jaconi em abril de 2022. Diante do CRB, o jogador marcou, desarmou, deu assistência para o gol de David, depois de driblar a marcação alagoana, e ainda deixou o seu, o terceiro da equipe na vitória por 3 a 1.
— O nosso forte é o coletivo. E quando seu coletivo é muito forte, quando a gente entra no jogo, como a gente entrou neste último, ligados, vibrantes, disputando todas as bolas, sempre vai ter alguém que vai se destacar, sempre vai ter alguém que vai fazer um grande jogo — apontou.
Hoje atuando como volante, Jean revelou que no começo da carreira era zagueiro. O jogador fez escolinha no Distrito Federal, treinado pelo próprio pai. Ao se aposentar da carreira de atleta, Gilson Irmer deu aulas para garotos de até 15 anos.
— Ele foi meu treinador até os 15 anos. Meu pai foi jogador nos anos 1980 e 1990 em equipes como o Vila Nova-GO e Taguatinga-DG. Quando tinha seis anos ele sentou ao meu lado e perguntou: "É isso mesmo que você quer?" Então vou te falar o que vai acontecer: você não vai ter feriados, esquece festas de aniversários, vai ter que abdicar de muita coisa porque você vai ter que jogar". Hoje tenho esse entendimento e vejo que aquele momento foi muito importante — apontou.
E assim, Jean foi amadurecendo. Antes do Ju, o atleta ainda passou pelo futebol português. E lá, mais uma aprendizagem:
— Aprendi muito em Portugal. A primeira temporada no Marítimo foi sensacional. E quando eu saio para o Gil Vicente, cheio de expectativas, o treinador chega pra mim e fala assim: "Eu tenho meus dois volantes já e você é uma contratação da diretoria.
IDENTIFICAÇÃO COM O JUVENTUDE
Com as expectativas frustradas e sem espaço em Portugal, Jean retornou ao Brasil e encontrou em Caxias do Sul um lar.
— A minha esposa é da Serra Catarinense, lá eles são bem acostumados com o chimarrão também, então estamos em casa. Um dia sem chimarrão é dormir no sofá, né? (risos). A culinária daqui é um charme para mim. Eu gosto muito da dança. O sotaque é muito bom mesmo. Adoro o friozinho daqui da Serra, prefiro mil vezes do que o calor — admitiu.
Com a esposa Quézi, Jean divide bastidores de seu dia. Ao chegar em casa, o volante discute como foi sua atuação em campo, onde pode melhorar, o que tem que corrigir.
— O Jean é esse mesmo cara aí dentro de casa. Vamos fazer seis anos de casados em dezembro. E eu procuro sempre estar apoiando e entender a profissão dele. Me fez enxergar, através dos olhos dele. Então, eu me sinto muito honrada de fazer parte da carreira e da vida dele — revelou Quézi.
O desejo do casal é ter continuidade no clube alviverde. O contrato de Jean Irmer termina no final do ano.
— Sempre falei que a identificação com o clube era muito grande, só que não imaginava que a partir desse ano, a gente passaria por tantos momentos juntos. A torcida me abraçou e eu me senti abraçado por ela, literalmente. Fico feliz, porque eu me identifico tanto que em muitas vezes me sinto até representando o torcedor dentro de campo e, talvez por isso, com uma entrega tão grande — comentou.
Mas antes de pensar no novo contrato com o Juventude, o atleta está focado nos 10 jogos restantes da equipe pela Série B. O próximo passo rumo ao acesso será dado em Florianópolis nesta segunda-feira (25). O Verdão encara o Avaí, na Ressacada, às 18h30min.
— Quando Carpini chegou, disse que nosso time era uma tela em branco. E agora já temos um desenho legal. Acho que o Carpini conseguiu dar a cara dele para essa equipe, principalmente pelo grupo que a gente tem. Um grupo que absorve muito bem as ideias do treinador, que trabalha sem questionar. Ele pegou uma tela de um time que estava em penúltimo lugar e hoje nós estamos a um ponto do G 4 e brigando pelo acesso — finalizou.