Prestes a completar 20 anos, a Associação Caxiense de Esportes Náuticos (ACEN) está sob um novo comando. No início dos anos 2000, Michel De Carli, Ricardo Quadros e Adam Rech eram alunos do projeto Navegar. A vida reserva momentos únicos, os anos passaram e o remo deu diferentes caminhos para cada um em suas vidas profissionais. Contudo, a paixão pelo esporte náutico seguiu, assim como a amizade do trio.
Duas décadas depois, os amigos decidiram assumir a ACEN. A nova diretoria sonha alto, assim como todo garoto que começa a dar as primeiras remadas no espelho d'água emoldurado pelo verde da barragem do Complexo Dal Bó.
Antes da troca de direção, a associação ficou cerca de quatro meses sem atividade. O trio assumiu no mês de março. O primeiro movimento foi trazer novamente os 15 atletas da equipa de canoagem, sendo um paratleta. Adam Rech, 34 anos, assumiu a presidência da Associação. O principal motivo para encarar o desafio foi o temor de tudo acabar e cair no esquecimento.
— Fui de uma das primeiras turmas do Projeto Navegar, ainda com apoio federal. Depois veio o convite para treinar junto com a seleção gaúcha de canoagem aqui. Tiveram atletas que passaram aqui e depois foram para a Olimpíada. Eu vim da periferia, sou de projeto social. Então, quero tentar devolver tudo aquilo que eu ganhei, para não deixar morrer a modalidade. A canoagem é cara, os equipamentos são caros. Mas é formação de caráter — contou Rech.
Michel de Carli, 32 anos, é ex-atleta de alto rendimento. Ele fez parte da Seleção Brasileira de Canoagem e o esporte lhe proporcionou uma nova vida. De Carli reforça que não é apenas estar na água. A modalidade o ofereceu direção e caráter. Por isso, a nova administração quer voltar a popularizar o esporte náutico em Caxias do Sul, abrindo opções para a comunidade nas mais variadas modalidades, como canoagem velocidade, turismo e stand up paddle.
— Eu devo tudo que alcancei na vida à canoagem. Queremos proporcionar isso para mais gente e seguir remando. Queremos popularizar a canoagem. É continuar fazendo o trabalho com a equipe, que vem desde 2001, na fundação da entidade, disputando até mundial — descreve De Carli, tesoureiro da associação.
Todo caxiense pode ser sócio da ACEN e praticar qualquer esporte náutico. Segundo De Carli, o espaço fica disponível de segunda à sexta, entre 11h e 13h. Aos sábados, o horário reservado é entre 9h e 12h.
— Temos um custo até para fazer a manutenção da entidade. O valor varia conforme a quantidade de vezes, equipamentos, se vai deixar guardado aqui. Temos vários valores se tornando sócio. É só fazer um cadastro e tem um manual de segurança para seguir. Se o pai ou filho quer fazer parte é só vir. Basta ter a vontade de remar, isso já chega. Temos barcos, equipamentos e coletes — completou.
Ricardo Quadros, 34 anos, é vice-presidente da entidade. Ele também deu as primeiras remadas no começo do projeto. Após participar de competições e buscar a profissionalização, seguiu como atleta amador. O stand up paddle é uma de suas preferências. Segundo ele, muitas pessoas têm equipamentos, mas não sabem onde usar.
— Não é só chegar em uma represa e colocar um barco, caiaque ou prancha. É preciso de um pessoal para dar segurança. Então, para essas pessoas, nós queremos ter eles aqui também — conta.
FINANÇAS E PRESERVAÇÃO
Depois de assumir o comando da ACEN, o trio vem colocando a casa em ordem. Eles projetam chegar ao final do ano com a associação equilibrada financeiramente. Segundo Rech, há um volume considerável de dívidas. A ideia é atrair novos sócios, realizar ações na própria barragem e voltar a participar do Financiamento Municipal de Desenvolvimento do Esporte e Lazer de Caxias do Sul (Fiesporte).
— Iremos promover algumas ações, temos agendado um evento para atrair atletas do estado aqui em um dia específico para promover a atividade. É chegar ao final do ano da melhor maneira possível, e lá por novembro apresentar o projeto no Fiesporte para ser contemplado para o biênio 2022/2023 e ter melhores resultados — declarou o presidente da ACEN.
De Carli ressalta a importância do Fiesporte. No último edital, a ACEN não apresentou projeto devido a troca de diretoria.
— Este ano estamos sem o aporte do Fiesporte por falha nossa. Inclusive, o Fiesporte faz parte da equipe, é um parceiro desde o início do projeto. A equipe existe pelo financiamento, sempre fomos contemplados. É um projeto que funciona e hoje faz falta — admitiu De Carli.
Outro ponto frisado pela direção é a importância de preservar a natureza. Quem anda no deck, de onde os canoístas partem, nota a limpeza e o cuidado com o bem maior.
— Queremos ampliar e difundir mais a prática esportiva, bem como a preservação dos nossos recursos hídricos. Este é um compromisso que temos com o Samae, que nos autoriza a utilizar a represa para prática da modalidade. É promover o esporte, a preservação e a integração — reforçou o presidente Adam Rech.
FUTURO
Assim como em suas primeiras braçadas na água, o trio sonha. Eles sabem que o caminho para reorganizar a associação é longo. Entretanto, é preciso ter ambição para chegar à última remada em uma prova. Da mesma forma, cada um tem um desejo dentro da associação. Questionados de como gostariam de ver a ACEN daqui a cinco anos, os amigos responderam:
— Penso em cinco anos ver um atleta em uma Olimpíada. É muito pouco tempo, mas desejo ver — falou Ricardo Quadros.
— Eu só quero ver a galera sorrindo. Não pensando em resultado, mais importante que isso é a somatória da entrega para a sociedade. Eu ganhei muito. A canoagem salvou minha vida, eu vim da periferia — afirmou Adam Rech.
— Primeiro é ver isso aqui cheio de gente remando e segundo a entidade estabilizada financeiramente para não passar pelo perrengue que estamos passando. Queremos que a modalidade cresça culturalmente — pontuou Michel De Carli.
GAROTO-PROPAGANDA
Em Caxias do Sul, Michel De Carli tornou-se uma referência da canoagem velocidade. Medalhista em Brasileiros, Sul-Americanos e Pan-Americanos, o ex-atleta navegou por águas de outros países. Tudo começou em 2001. Depois de participar de uma qualificatória, De Carli ingressou para a Seleção Brasileira. Com a caiaque verde e amarelo ficou até 2015. Nesse ano, também decidiu dar um novo rumo na vida e pendurar o remo de alto rendimento.
Durante as provas de canoagem, o atleta raramente olha para o lado para ver onde está o rival. O olhar está sempre direcionado para a linha de chegada. A concentração nem permite qualquer segundo de distração. Contudo, durante um intercâmbio na Austrália, em 2015, De Carli olhou para o lado. Neste momento, ele viu que já tinha cumprido o seu objetivo.
— Eu treinava às 5h da manhã, voltava para casa, era obrigado a fazer um curso de inglês e pedalava 16 km. Fazia academia perto da escola, levava minha comida em um potinho, almoçava, estudava a tarde inteira e depois pedalava mais 16 km para voltar às 18h30min. Certo dia, pedalando, olhei para os lados e vi que estava na Austrália, em um lugar que possivelmente jamais voltaria. Eu falei que ia aproveitar isso, pois não sabia quando a vida ia proporcionar de novo — lembra De Carli.
Nas águas não há ressentimento. De Carli lembra com carinho de todos os momentos vividos com a Seleção. Ele participou dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, mas não como atleta. Ele foi de árbitro e recorda o momento em que viu os amigos da seleção chegarem no fim da prova.
— Tirei do meu corpo o que tinha que tirar. Nos Jogos Olímpicos, o pessoal da minha geração se classificou, eu estava em um rendimento bom na época. Como árbitro, por falar inglês, eles me colocaram na torre de chegada. Passou na cabeça o que iria sentir com os meus parceiros descendo a raia e eu ali. Mas foi muito tranquilo. Foi um processo de agradecimento, pois parei no momento certo. Sem nenhum receio — finaliza.
CARREIRA
2018
Campeão Brasileiro de Canoagem Maratona
2014
5º lugar Campeonato Mundial Universitário. Minsk/Bielorússia, FISU.
2013
Vice Campeão Pan Americano. Ponce/Porto Rico, COPAC.
Campeão Brasileiro. São Paulo/SP, CBCa.
2012
Campeão Brasileiro de canoagem oceânica. Cubatão/BRA, CBCa.
Atleta destaque da Modalidade Canoagem Velocidade, CBDU.
Campeão Pan Americano. Rio de Janeiro/BRA, COPAC.
Campeão Sul Americano. Tigre/ARG, COPAC.
2011
Campeão Sul Americano. Rio de Janeiro/BRA, COPAC.
4º lugar nos Jogos Pan Americano de Guadalajara.Guadalajara/MEX, COPAC.
2010
Campeão dos Jogos Sul Americanos de Medellin. Medellin/COL, FEDERAÇÃO SUL-AMERICANA DE CANOAGEM.
2009
Campeão Brasileiro. Rio de Janeiro/BRA, CBCa.
2008
Campeão Sul-Americano. São Paulo/BRA, FEDERAÇÃO SUL-AMERICANA DE CANOAGEM.
Campeão Brasileiro. Curitiba/BRA, CBCa.
2007
Campeão Brasileiro. Curitiba/BRA, CBCa.
2005
Campeão Sul Americano. Paipa/COL, FEDERAÇÃO SUL-AMERICANA DE CANOAGEM.
2004
Campeão Brasileiro. São Paulo/BRA, CBCa.