As pessoas gêmeas são responsáveis por uma grande curiosidade e encantamento de todos. Seja no comportamento ou nas suas personalidades. Além disso, a gestação múltipla exige um cuidado todo especial devido aos riscos de complicações fetais e maternas. Mesmo aqueles que são diferentes na aparência, mas que nasceram no mesmo dia, despertam as mais variadas dúvidas. Quando o assunto é trigêmeos, tudo isso se potencializa ainda mais.
Em Caxias do Sul, as irmãs Luana, Manuele e Júlia, 15 anos, dividem tudo desde o nascimento. Primeiro, foi o espaço na barriga da mãe. Depois, o gosto pelo esporte, especificamente o handebol, e as disputas nas competições da modalidade. Tudo é baseado na parceria e no amor em família. Elas são trigêmeas bivitelinas, ou seja, não-idênticas, com características físicas distintas, e atuam na Apahand/UCS.
— Elas são irmãs, que nasceram no mesmo dia, mas são diferentes. Cada uma tem sua personalidade. Tanto que cada uma joga em um posição bem diferente da outra. Elas têm características físicas, emocionais e de personalidade distintas — disse Tatiane Moreira Molon, 47 anos, mãe das meninas.
— Somos bem diferentes. Temos opiniões diferentes. Somos apenas irmãs que nasceram no mesmo dia, mas somos muito diferentes. Eu sou a que fala mais, a Luana é mais reservada e a Júlia é muito calculista — analisou Manuele.
Luana, Júlia e Manuele nasceram no dia 12 de junho de 2007. As trigêmeas apresentam traços de personalidade particulares. Uma é mais amiga de todo mundo. Outra tem uma liderança nata. E a outra tem uma garra impressionante.
Júlia é central, Manuele atua na armação direita e Luana na ponta-esquerda. Essas e outras peculiaridades individuais que se completam e formam uma parceria vencedora, dentro e fora de quadra.
— Somos muito amigas. A gente se ajuda muito. Quando uma acerta, comemoramos juntas. A Manu é a que mais cobra. Em casa, assistimos bastante jogos da handebol quando está rolando — comentou Luana.
— Às vezes, estamos num dia ruim e a irmã dá uma força para conseguir fazer. A gente se ajuda bastante. Nós amamos assistir handebol juntas — afirmou Julia.
INGRESSO NO ESPORTE
Tatiane, a mãe das meninas, jogava handebol na adolescência. E foi a partir dela que surgiu o incentivo para as filhas praticarem a modalidade. Inicialmente, elas não tinham essa intenção, mas depois se apaixonaram. O começo veio ainda na escola, e depois avançou nas escolinhas da Apahand. Atualmente, estão na categoria cadete, treinadas por Grégory Costa, e na disputa do Campeonato Gaúcho da modalidade.
— Elas começaram no final de 2017 em um projeto que nós tínhamos junto a Escola Santa Catarina. Nós usávamos para captar novas atletas. No final daquele ano, elas eram da categoria mirim e começaram a treinar no infantil — lembrou Ícaro Nery, atual auxiliar-técnico da categoria cadete, e primeiro treinador das meninas no mirim e no infantil (vice-campeãs estadual no ano passado).
Arrisco a dizer que as três (gêmeas) teriam condições de jogar profissionalmente.
ÍCARO NERY
Técnico das meninas desde o mirim
Na primeira etapa do Estadual neste ano, disputada entre 24 e 26 de junho, a Apahand/UCS ficou na quarta colocação na classificação geral. A segunda etapa será nos dias 7, 8 e 9 de outubro, e deve ser em São Leopoldo . Os quatro primeiros colocados jogarão as finais, em Caxias do Sul, em dezembro.
— No momento, o handebol no Brasil não é incentivado. É um pouco complicado ser jogador profissional no país, mas arrisco a dizer que as três teriam condições de jogar profissionalmente. A minha função é proporcionar o máximo de experiência e oportunidades no esporte e na vida — comentou Ícaro.
DO NASCIMENTO ÀS QUADRAS
— O coração bate forte ao ver as três jogando juntas — comenta a mãe Tatiane.
15 anos depois, esse é o sentimento ao vê-las no esporte. 15 anos antes, a surpresa. Só quem é mãe e pai sabe descrever o sentimento de ter um filho e os constantes desafios. Imagina só trigêmeos.
Na família do pai Lindomar Molon, 48 anos, há tios, e na parte materna primos gêmeos. Com isso, as chances de ter uma gravidez múltipla era grande. Inicialmente, quando foram fazer o ultrassom, apareceram dois bebês. O planejamento era dois filhos. No entanto, duas semanas depois, na repetição do procedimento, uma surpresa.
Foi um susto grande. A minha preocupação era como daríamos conta de três crianças.
TATIANE MOREIRA MOLON
mãe das trigêmeas
— Foi nosso grande susto. Quando ele falou, meu esposo disse que sabíamos que eram dois corações. O médico disse que eram três. Eu não desmaiei, porque já estava deitada. Foi um susto grande. A minha preocupação era como daríamos conta de três crianças. Meu marido, muito calmo, disse que cuidaríamos sem problemas — relembra Tatiane.
A gravidez foi tranquila, com alguns cuidados de repouso. As meninas nasceram com 31 semanas e ficaram na UTI (Manuele e Luana por 35 dias e Júlia por 45) para ganhar peso, porque nasceram muito pequenas. As meninas cresceram e, mesmo que não tenham a intenção de seguir carreira no esporte, elas aprendem lições para a vida com o handebol.
— A gente nem sabia o que era o handebol antes. Conforme os treinamentos e, com o tempo, amamos o esporte — resumiu Júlia.
— A Apahand abraça todos que chegam. Aqui somos uma família — contou Luana.
— Para mim, é muito bom dividir quadra com as minhas irmãs. Eu fico muito feliz em ver elas crescerem comigo e dividirem essa experiência — analisou Manuele.