A chegada de cerca de cinco mil pessoas de 79 delegações participantes da Surdolimpíadas agita o setor de serviços de Caxias do Sul, que se prepara há meses para atender as demandas do evento. Realizado pela primeira vez na América Latina, a 24º edição dos Jogos Surdolímpicos será o maior evento poliesportivo já realizado no Rio Grande do Sul e faz a ocupação da maioria dos hotéis da Serra beirar a capacidade máxima.
São 50 locais de hospedagem espalhados por Caxias do Sul, Farroupilha, Flores da Cunha, Antônio Prado, Gramado, Bento Gonçalves e Nova Petrópolis. De acordo com o Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria da Região Uva e Vinho (SEGH) hotéis e pousadas que não estão cheios é porque já possuíam reservas ou porque recebem delegações menores, como a da Noruega que traz 19 atletas à Caxias do Sul e se hospeda em um hotel do centro de Caxias.
Segundo o último relatório de Desempenho da Economia de Caxias do Sul, elaborado pela Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC Caxias) e pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL Caxias) o setor de serviços retraiu 8,8% entre fevereiro de 2021 e de 2022. A realização da Surdolimpíadas e o balanço após o encerramento no dia 15 de maio é aguardado com expectativa para alavancar os números da retomada econômica.
Para a diretora executiva do SEGH, Márcia Ferronato, mais do que a contratação de novas pessoas em regime temporário, o evento reaquece o setor e possibilita a recolocação no mercado de funcionários que perderam o emprego devido à pandemia.
— Praticamente todos estão fazendo contratações para acolher melhor os visitantes, a hotelaria já vinha com a equipe reduzida e a entrada desses recursos do evento estão facilitando a reposição — comentou.
É o caso do Hotel Bem Te Vi, em Farroupilha, que aos pés do Santuário de Nossa Senhora de Carravaggio irá receber as delegações brasileiras de vôlei, ciclismo e mountain bike. Os cerca de 80 atletas terão a janta inclusa na hospedagem, preparada pela equipe temporária montada pelo proprietário do hotel, Rudinei Galafassi.
—Foi necessário contratar pra servir as refeições diárias que ficaram acordadas no pacote. Uma parte do valor até já foi acertada pela organização — contou Galafassi.
A logística de ter atletas espalhados por toda a Serra, movimenta também empresas de transporte responsáveis pelo deslocamento dos competidores. Diariamente, serão necessários dezenas de veículos que farão o roteiro entre os hotéis, a Praça Surdolímpica — localizada nos Pavilhões da Festa da Uva — e os locais de prova.
Contratada pelo Comitê Surdolímpico, a Brocker Turismo terceirizou o serviço e contabiliza 250 pessoas envolvidas com o deslocamento dos participantes. Sediada em Canela, a empresa precisou contar com o apoio de agências da região para construir a equipe e dar conta da operação. De acordo com a gerente Amanda Ramirez, são motoristas, principalmente de Caxias do Sul e Bento Gonçalves, trabalhando para o evento.
—Só de staff e trabalhando para a logística temos 250 pessoas com contratos temporários. Na parte do transporte, tivemos muitos que cresceram os olhos, digamos assim, mas chegamos a um denominador comum para conseguir atender a todos — explicou.
Investimento de R$250 mil para lavar uma tonelada de roupas por dia
Assim como acontece nas Vilas Olímpicas de todas as cidades que recebem os Jogos, Caxias do Sul também contará com uma lavanderia própria para os atletas que já começaram a utilizar do serviço. Instalada no Centro de Eventos da Festa da Uva, a estrutura foi montada por uma empresa especializada em equipamentos e soluções para limpeza doméstica e comercial. Com cinco secadoras e lavadoras conjugadas à disposição das delegações, a expectativa da caxiense Aggile Eletrodomésticos é receber cerca de uma tonelada diária de fardamentos para lavagem.
Segundo o diretor da empresa, Ivanor Ciconetto, 58 anos, trata-se de uma oportunidade única para dar visibilidade à empresa e aos equipamentos revendidos por eles.
— Estamos apostando bastante nessa experiência, até para depois sermos convidados para outros eventos a nível Brasil — projetou Ciconetto, que investiu R$250 mil na importação das máquinas de autosserviço produzidas nos Estados Unidos.
Tendência no centro do país e que começa a migrar para os grandes centros da região Sul, o modelo de Self-service para lavar roupas é acompanhado de perto por Ciconetto, que tem nas Surdolimpíadas uma espécie de laboratório para avaliar futuros investimentos na área de limpeza.
— Essa cultura do self-service já está muito popularizada em Balneário Camboriú e dentro de condomínios, por exemplo. Aqui na Praça Surdolímpica teremos pessoas para auxiliar os atletas a não perderem tempo, mas o ciclo da máquina não passa de uma hora — afirmou.
A necessidade de uma lavanderia própria para o evento foi levantada pelo próprio Comitê Surdolímpico diante da alta demanda que não poderia ser suprida apenas pela rede hoteleira da Serra. Representante comercial da Aggile Eletrodomésticos, Luis Vitor Salvadori, 58, está diariamente no Centro de Eventos e coordena a equipe que recebe e entrega as roupas enquanto os novos clientes aguardam na Praça Surdolímpica.
— Vamos recepcionar o pessoal, pesar a roupa e entregamos no mesmo dia. Cada delegação determinou a sua forma de pagamento, algumas dão o valor para o atleta acertar conosco, e em outros casos a própria delegação irá nos pagar o total de serviços prestados — explicou Salvadori.
Quem utilizar do serviço deverá pagar a partir de R$16,90 pelo quilo de roupa lavada. De acordo com Ciconetto, o valor pode aumentar conforme o estado em que os fardamentos chegarem à lavanderia.