Há 15 dias do início do maior evento esportivo já sediado na Serra Gaúcha, a Surdolimpíadas começa a tomar forma com as adequações chegando ao fim nos locais de competição e a identidade visual ganhando espaço das fachadas e arquibancadas. Em Caxias do Sul, os ginásios da UCS, Sesi, Marcopolo e Vascão recebem os jogos de basquete, handebol, vôlei e as lutas Livre, Greco-Romana, Taekwondo e Karatê. No Recreio da Juventude, estarão sediados o tênis e o judô no complexo do bairro Sagrada Família, e a natação na sede Guarany.
O município de Farroupilha também recebe a Surdolimpíada com o tênis de mesa, no Ginásio Municipal, e ao ar livre estão programadas as competições de mountain bike, no Parque Salto Ventoso e a linha de chegada do ciclismo, em Caravaggio.
Para receber os mais de cinco mil participantes - entre atletas, delegações e árbitros - de 77 países, o Comitê Surdolímpico investiu cerca de R$8,5 milhões em equipamentos esportivos e reformas das estruturas. Desse montante, R$2,5 milhões vieram do governo do Estado, através da secretaria do Esporte, um dos patrocinadores dos Jogos que viabilizou a reforma da pista de atletismo do Sesi. Segundo o CEO do Comitê Organizador dos Jogos Surdolímpicos, Richard Ewald, o investimento na modalidade faz parte de um compromisso do poder público em alocar a verba numa instalação que renderá frutos após o evento.
—Não só a pista, mas todos os equipamentos ficarão de legado, como as caixas e barreiras de salto, pesos, dardos e colchões. Só não ficará os equipamentos eletrônicos que fugiram do orçamento e serão alugados. Vamos deixar o complexo com um padrão internacional para todo o desenvolvimento da base e não apenas de surdos, mas o desporto em geral, com a possibilidade de manter esportistas de alto rendimento em Caxias, o que hoje só acontece no futebol e basquete — frisou Ewald, que ainda cita o centro de excelência em Tênis de Mesa que poderá ser criado no município após os Jogos.
—São materiais de altíssima qualidade, adquiridos por meio das delegações, através das inscrições dos atletas e que a secretaria de Esporte e Lazer (SMEL) terá à disposição ao fim da Surdolimpíada — afirmou.
O legado que o evento promete deixar para Caxias do Sul vai além de quadras e materiais renovados, mas alcança também o aspecto educacional e de incentivo ao esporte olímpico, afinal os jogos terão entrada gratuita e as escolas estão convidadas a prestigiar. Nos Pavilhões da Festa da Uva, a Praça Surdolímpica irá propor o intercâmbio da comunidade com atletas de alto rendimento e diferentes culturas.
—É importante para a população entender como funciona a comunicação com os surdos, especialmente as crianças. É importante que as pessoas vejam como o esporte pode mudar vidas — acrescentou Ewald.
Financiado pelo Comitê Organizador através das inscrições dos atletas e com o patrocínio do governo do Estado, o evento conta com o auxílio e acompanhamento da prefeitura, que irá destinar cerca de 20 professores de Educação Física para trabalhar na parte esportiva dos Jogos. Ex-técnico da seleção brasileira feminina de handebol para surdos, o secretário de Esporte e Lazer, Gabriel Citton já participou de um mundial da modalidade na Turquia e comemora que o legado dos Jogos, dessa vez ficará em Caxias.
—Vamos ter uma pista de atletismo em condições de receber eventos nacionais e internacionais. O evento possibilitou a troca de todo o piso do Vascão e o complexo de tiro esportivo, em Ana Rech, será a melhor estrutura da modalidade na América do Sul. Isso desenvolve o esporte não só voltado aos surdos, mas para a população em geral, afinal, são novas modalidades que poderão ser exploradas na cidade — afirmou.
Referência nacional no tiro esportivo
Ao fim dos Jogos, no dia 15 de maio, um dos locais de maior investimento do Comitê Surdolímpico, o Clube Caxiense de Caça e Tiro, localizado em Ana Rech, deverá se tornar uma das melhores praças do Brasil para a prática do esporte. Segundo Jean Labatut, ex-atleta olímpico e presidente do clube, os alvos eletrônicos que informam o resultado instantaneamente já são mais tecnológicos que os usados na última Olímpiada de Tóquio.
— Ninguém no Brasil recebeu uma competição como essa. Onde a Olimpíada passa, um legado muito importante fica e com a nova estrutura poderemos voltar a receber eventos, como o Mundial de Tiro Esportivo para surdos já ventilado para ser realizado aqui no ano que vem — adiantou, Labatut que garante o alto nível das competições durante a Surdolimpíada, já que as regras do esporte para surdos não diferem das praticadas pelos ouvintes:
— A pontuação final dos campeões ficará muito próxima a dos melhores colocados em Tóquio — observou.
Competidor do tiro esportivo nas Olimpíada de Atlanta em 1996, Labatut sabe bem o que a realização de um evento esportivo pode refletir na comunidade que o recebe.
— É uma benção, tenho certeza que será um marco pra Caxias e região. Os investimentos no nosso clube chegam a ser emocionantes, as pessoas não sabem quanto de treinamento a modalidade exige e o quanto esse esporte interfere para o bem na vida de quem o pratica. Não é utopia termos no futuro uma escolinha para crianças acima de 12 anos e vermos sair daqui grandes talentos — profetizou.
A Surdolímpiada tem início no dia 1º de maio e segue até o dia 15. A entrada do público nas competições será gratuita.