A história de uma vencedora no esporte é construída com muita dedicação, foco, treinos e persistência. Aos 30 anos, a judoca gaúcha Mayra Aguiar representa muito disso. Em Tóquio, no mês passado, ela conquistou a medalha de bronze pela terceira vez consecutiva em Jogos Olímpicos e entrou de vez para o hall de atletas marcados para sempre no Brasil.
Depois de uma longa recuperação por conta de uma lesão, Mayra voltou do Japão ocupando um lugar de destaque depois de todo o sacrifício para estar nos Jogos. A cirurgia no joelho e as dificuldades que a pandemia impôs para o período de preparação e recuperação, fizeram do pódio no Oriente algo diferente para ela.
— É, com certeza, a medalha que tenho mais carinho, porque foi a mais dura de conseguir — afirmou a atleta da Sogipa.
Em Caxias do Sul com o seu técnico Antônio Carlos Pereira, o Kiko, para uma clínica de judô no Recreio da Juventude para atletas iniciantes, Mayra sabe do papel importante que ela e suas conquistas têm para as futuras gerações.
— É muito gratificante para mim fazer hoje também essa parte de exemplo. Sei o quanto me ajudou a chegar onde cheguei estar perto dos meus ídolos, das pessoas que já chegaram ao lugar em que quero chegar. Sei que é importante e para mim é muito bom poder passar para esses jovens o acreditar — disse Mayra, que além da parte técnica, quer salientar às crianças que é possível buscar algo a mais:
— Quero mostrar para elas que eu sou e fui que nem eles. Com sonhos, objetivos, começando cedo também. Mostrar que sou igual, que dá para chegar onde eles querem. Poder passar um pouco do que vivi e das dificuldades, porque elas existem, mas vale a pena continuar.
A superação de Mayra para vencer a lesão e conquistar mais uma medalha olímpica representa um pouco do que a competição mostrou para ela. O bronze no judô vem acompanhado de uma derrota e uma nova chance, na repescagem.
Mayra, judoca bicampeã mundial, precisou encontrar em três oportunidades essa força para seguir no torneio olímpico e buscar suas medalhas em Londres, no Rio de Janeiro e, recentemente, em Tóquio:
— Entro em qualquer competição para buscar o lugar mais alto do pódio. E quando acontece uma adversidade e perco uma luta, acaba o chão para mim, o mundo desaba em um momento muito rápido em que eu tenho que tirar aquilo da cabeça e buscar força como se fosse uma nova competição. Quando acaba, penso que ainda bem que tirei aquele sentimento ruim e busquei a medalha, porque muda minha vida, desde a primeira. Sei da importância que é não desistir.
O ciclo olímpico para Paris, em 2024, será menor. Em menos de três anos, Mayra poderá novamente ir atrás de seu sonho de subir ainda mais alto no pódio. A motivação para tentar mais uma vez o ouro está na força que o esporte dá para a atleta gaúcha.
— Nunca estou satisfeita com o que tenho. Estou feliz e orgulhosa do que tenho, se parar hoje com o judô, estou muito feliz comigo mesma. Mas me cobro para nunca estar satisfeita. Por mais que eu ganhe a competição, sempre penso o que faltou, o que eu poderia ter melhorado. Conquistei três medalhas, mas eu quero o ouro. Dá para ter esse objetivo. Não é uma coisa que me consome, mas que me motiva — diz a judoca, que sabe da necessidade de ajustar o processo mais acelerado até os Jogos na França:
— É diferente, muito mais rápido. Não tem tempo para descansar. A medalha é construída desde o primeiro ano olímpico e não teremos ele. Tem que, sim, preparar desde já. Tem muita coisa pela frente, ano que vem tem Mundial, Jogos Pan-Americanos, já preparando a mentalidade para a Olimpíada. Vai passar muito rápido e desde já temos que ir construindo e planejando.