O grande nome da história recente da natação brasileira vai passar o fim de semana em Caxias do Sul. Campeão olímpico e mundial, Cesar Cielo não está na Serra Gaúcha para um passeio ou para aproveitar alguma das atrações turísticas da região. O objetivo é transmitir experiências e conhecimento.
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O único medalhista de ouro da natação brasileira em Jogos Olímpicos está realizando uma clínica da modalidade para os atletas do Recreio da Juventude. Na Cesar Cielo Swim Clinic — que ocorre até o domingo (8) —, o nadador leva aos jovens competidores, técnicos e pessoas envolvidas com o esporte tudo aquilo que passou até subir no lugar mais alto do pódio nos 50m livre dos Jogos de Pequim, em 2008. O narrador ainda tem no currículo dois bronzes, na China, nos 100m livre, e em Londres, em 2012, nos 50m livre.
Nas piscinas, Cielo ainda acumula 17 medalhas em campeonatos mundiais e oito em Pan-Americanos, nas mais diferentes provas — solo ou revezamento.
No período no clube caxiense, os atletas estão vivendo a oportunidade de estar ao lado do ídolo de uma geração. Como um ciclo no esporte, a cada fim de era de um grande campeão, começa a procura de alguém que possa assumir o seu posto. Das piscinas caxienses, pode surgir um novo Cielo?
Na sexta-feira, o multicampeão, que ainda não se considera aposentado e até deixa em aberto a participação na Olimpíada de Tóquio, concedeu entrevista coletiva antes do início de sua clínica. Confira os principais pontos citados pelo atleta de 33 anos:
Desafio fora da piscina
— Tem sido gostoso. É um desafio novo. Poder compartilhar com as pessoas como que a gente fez para chegar onde chegamos. Posso reviver minhas conquistas e mostrar as coisas que fiz bem e as que fiz errado para que os pais, os atletas e os treinadores tirem as próprias conclusões, usem isso como experiência para seguirem as carreiras de forma mais preparada.
Rio 2016
— Não tem nenhum legado (após a Olimpíada de 2016). A verdade é essa, não preciso esconder de ninguém. Perdemos, infelizmente, até hoje, o melhor momento da natação para fazer uma equipe mais estruturada e ter o esporte mais bem gerido. Foi o que aconteceu, mas não adianta ficar chorando o que passou. Acho que temos que colocar o passado no passado, quem teve problemas na justiça, não cabe para nós lidarmos com isso. É olhar para o futuro, fazer novos planejamentos, buscar uma gestão diferente para que a gente tenha uma renovação constante, em que novos talentos sempre apareçam. Como cidadão, torço para que isso aconteça. Não posso fazer muito mais do que nadar e torcer pelo meu país. Espero que seja um alarme para a gente tudo isso que passou após a Rio 2016, que foi um baque muito grande para o esporte. É reestruturar para não deixar um rombo desses acontecer no futuro de novo.
Coronavírus em Tóquio
— Eu nunca vi uma coisa dessas acontecer, nem como atleta e nem como fã do esporte. Não sei o que esperar (sobre a realização dos Jogos Olímpicos em Tóquio) e o que fazer. Fico tranquilo porque o Comitê Olímpico Internacional (COI) e todas as organizações envolvidas têm como primeiro mandamento o bem estar e a saúde do atleta. Se isso significa prorrogar a Olímpiada por mais um ou dois meses, tenho certeza que a decisão vai ser feita para que os atletas e espectadores estejam seguros. Estou torcendo para que esse vírus evapore e tudo volte ao normal. É uma situação muito delicada, principalmente em um ano muito difícil para o atleta.
“Novo Cielo”
— O tempo inteiro a gente quer saber quem será o novo campeão mundial da natação. Mas temos uma equipe muito forte. Tem a Etiene (Medeiros, nadadora) representando as meninas e sendo campeã mundial há alguns anos. E tem uma geração boa vindo. Vamos torcer para esses meninos novos tomarem as rédeas já esse ano e que isso se perdure por algum tempo. Quem sabe não venham bons resultados já neste ano.
Inspiração
— O medalhista é o espelho para todo mundo. A ideia da clínica nasceu disso, de estar próximo dos futuros campeões e compartilhando com eles coisas que aprendi. Para mostrar que é acessível, que é possível. O alto rendimento é muito mais simples do que todo mundo pensa. Ele é trabalhoso, mas é simples. Então, é basicamente essa lição que tento trazer. Não sei se vai chegar, mas com dedicação de atleta de alto rendimento, acredito que todo mundo consiga resultados diferentes na sua área de trabalho. Se eles começarem a ter essa consciência, que ser um atleta de alta performance é cuidar da sua vida 24 horas por dia, o sucesso pode acontecer até mais cedo.