Apesar dos 24 anos de diferença de idade, Cláudio Júnior Spigolon, o Dinho, e Miguel Freitas tem algo em comum: o amor pelo Esporte Clube Juventude. Para Dinho, surgiu com 11 anos, quando um amigo lhe convidou para assistir o amistoso entre Juventude e Parma, da Itália, na Copa Parmalat, em 1994. Para Miguel, paixão familiar. Com os pais e a irmã juventudistas, desde cedo recebeu a influência, consolidada com a primeira ida ao estádio, o qual se refere como "majestoso".
Dinho, de 38 anos, é uma figura conhecida no Estádio Alfredo Jaconi, como presidente da torcida organizada Mancha Verde e responsável pelo relacionamento com a torcida dentro do Departamento de Marketing. Desde 2002, não perde um jogo em casa e foi em outros tantos longe de Caxias do Sul. Viu o clube cair da Série A até a D, passando pelas copas regionais, e a mais recente ascensão, saindo da Terceira Divisão para a Primeira em dois anos.
— Sou da época boa, época da Parmalat. No amistoso contra o Parma, um amigo chamou toda a galera e nos levou, já que menor de 12 anos não pagava. Esse foi o primeiro contato. E, na primeira vez, o que me chamou a atenção foi a Mancha, o que a torcida fazia. Eu olhei e vi que era ali que eu ia ficar — comenta Dinho, que no dia a dia também está colaborando com os funcionários do clube nas obras de modernização do Estádio Alfredo Jaconi.
Hoje com 14 anos, Miguel nasceu em 2006, quando o Ju estava disputando a Série A do Brasileirão e contou com o centroavante Christian para permanecer para o ano seguinte. Entretanto, em 2007, na primeira passagem do hoje ídolo Renato Cajá, o rebaixamento foi inevitável. O jovem torcedor não tem lembranças dessa época e, em 2021, está tendo a primeira oportunidade de acompanhar o clube do coração na elite nacional.
Suas primeiras idas ao Jaconi foram em 2014, quando tinha oito anos, e o Ju se preparava para a Série C daquele ano. Acompanhado da mãe Gislaine, do pai Marcos e da irmã Carolina, assistiu a frustrante derrota por 2 a 1 para a Chapecoense em um amistoso, mas a experiência na cancha causou um encantamento.
— Era um confronto incandescente de sentimentos — afirma Miguel Freitas.
Para quem acompanhou os altos e baixos do time, como é o caso de Dinho, jogar a Primeira Divisão em 2021 é motivo de muita alegria. Com a pandemia e a restrição de público nas arquibancadas, ele foi um privilegiado no ano passado, na campanha do acesso. Coube ao torcedor vestir-se de periquito e ser o mascote alviverde durante as partidas em casa. Acompanhou de perto, por exemplo, a estreia vitoriosa diante do CRB, o suado êxito contra o Cruzeiro, e a épica virada contra o Figueirense, nos acréscimos.
— Eu tenho o entendimento de como a gente foi parar lá, e os motivos. E a gente trilhou os caminhos de volta sabendo dos nossos erros. Nós da torcida, jogadores e direção. Então estar de volta à Série A agora foi um processo de muita ambição e competência - explica o presidente da Mancha Verde, que também descreve o sentimento de estar no estádio quando muitos não podem:
— Nos primeiros jogos que eu vim de mascote, foi tudo muito legal. Conforme o passar dos jogos, comecei a sentir falta dos meus amigos de arquibancada. Eu queria que cada um deles tivesse aqui. Sei do que a gente passou. Espero que todos possam voltar ao Jaconi pra curtir esse momento glorioso.
Miguel sente falta do Alfredo Jaconi. Acompanhou as transmissões por televisão e rádio durante a Série B do ano passado e também o Campeonato Gaúcho deste ano. Mas afirma que são sensações diferentes do que estar na ferradura norte do Jaconi, com a torcida organizada Loucos da Papada, ou até em jogos fora da cidade.
— Quem já acompanhou ao menos um jogo em um estádio visitante, vai me entender — comenta o jovem torcedor.
Com o processo de vacinação da população ainda lento, não há previsão da CBF para o público voltar aos estádios. Portanto, ver a Série A in loco vai demorar e talvez não ocorra em 2021. Para que os torcedores também possam ter essa experiência, seja novamente ou pela primeira vez, o Juventude vai precisar permanecer na Primeira Divisão, o grande desafio da temporada.
— Sei das limitações do clube financeiramente e quem vamos enfrentar. Então temos que encarar como uma guerra. Cada jogo é um jogo. Ganhar em casa e buscar pontos fora. Se não tiver qualidade e técnica, que não falte vontade — comenta Dinho Spigolon.
— Acompanhar o clube na Série A é algo inexplicável para quem hoje se lembra, como se fosse ontem, do jogo do acesso entre Juventude e Imperatriz na Série C. Aproveitar as chances é o mais importante. Desperdiçá-las seria muito frustrante, pois os clubes grandes como São Paulo, Flamengo, Santos e Palmeiras cedem poucas oportunidades — afirma Miguel Freitas.
Mesmo em diferentes fases da vida, torcidas organizadas distintas ou lugares diferentes para acompanhar a partida, no próximo domingo (6), quando a bola rolar para Juventude e Athletico-PR, no Estádio Alfredo Jaconi, os caminhos de Miguel e Dinho irão se cruzar. Ambos estarão torcendo para que seja mais uma longa e vitoriosa jornada do Ju no Campeonato Brasileiro.