Enquanto a tarde era de expectativa pela liberação da súmula da partida entre São Luiz e Caxias, o árbitro Anderson Farias realizava os testes práticos e físicos da CBF. No início da noite, o juiz do confronto em Ijuí atendeu a reportagem do Pioneiro/Gaúcha Serra para relatar o que viu no Estádio 19 de Outubro, especialmente por conta das injúrias raciais proferidas contra o atacante Léo Tilica, do time grená, na noite da segunda-feira (9),
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— Temos uma orientação da própria FGF e da comissão (de arbitragem) para não dar entrevista sobre os lances da partida. Mas como esse é um caso que a gente repudia e é atípico ao nosso futebol, o próprio presidente Luciano (Hocsman, FGF) disse que posso responder algumas informações que as pessoas estão ansiosas para saber o que aconteceu no jogo — afirmou Farias, explicando o porque da quebra de protocolo ao relatar os ocorridos em Ijuí:
— Os atletas do Caxias me relataram que alguém da torcida tinha chamado um companheiro deles de macaco na torcida. Quando parei o jogo por uma falta, reparei que os jogadores, tanto titulares, quanto reservas, estavam no alambrado discutindo com torcedores. A Polícia Militar já estava intervindo nessa discussão. Foi nesse momento que eu me dirigi até o Tilica e perguntei o que havia acontecido. Foi quando me dirigi ao chefe do policiamento e perguntei qual o melhor procedimento para tentar auxiliar o atleta. Ele disse que, se o atleta identificasse o torcedor, daria voz de prisão. Quando procurei o atleta, ele estava no banco, muito nervoso, chorando e falando algumas palavras que tinham sido proferidas a ele. Eu disse que estava ali para ajudar e que tentaríamos solucionar isso.
Tilica não identificou o torcedor, o jogo continuou, mas o trabalho do árbitro em busca da solução teve sequência.
— Eu já havia conversado com os assistentes e o quarto árbitro se alguém havia escutado essas ofensas. Como o lance foi perto da meta onde fica o banco de reservas do Caxias, não era uma posição onde nenhum deles fica, nós não conseguimos escutar isso. Ao final, perguntei ao Capitão (da BM) se algum dirigente do Caxias havia feito alguma ocorrência para citar em súmula, e ele relatou que não — disse Farias, explicando que o fato de Tilica ter feito o B.O. no dia seguinte não entra em súmula:
— Eu cito os fatos lá do campo. A minha orientação é não citar isso, não ter esse envolvimento futuro. A Procuradoria (do TJD) vai juntar todas as informações para colocar no processo.
Regra fria
No jogo em Ijuí, Anderson Farias não deu cartão amarelo para nenhum jogador grená. Porém, o árbitro disse que essa situação, quando ocorre, pode sim gerar punição para o atleta que recebeu a ofensa:
— A gente vive muito isso, na verdade. A gente fica muito frágil nesse momento. É desgastante e muito triste para nós. Eu falo para os atletas que, infelizmente, lá fora, não tenho como dar amarelo e vermelho. Mas para ti, se cometer algum ato ofensivo a algum torcedor, a regra me informa que tenho que punir. Se eu não punir, serei eu o punido depois. Sei que é uma covardia, daqui a pouco ter que expulsar um atleta por ofender o torcedor após alguma ofensa que recebeu. Só que a regra é fria muitas vezes — concluiu o árbitro.