O mês de dezembro para o carioca João Paulo é de oportunidade de recuperação com a camisa do Caxias. No Flamengo, o ano do técnico Jorge Jesus termina em alta, com conquistas relevantes no cenário nacional e sul-americano. O 2019 do centroavante grená foi de apenas 24 minutos em campo, outros três jogos no banco, nenhum gol marcado e uma série de problemas no joelho. Para o português, aclamado pela torcida rubro-negra, a possibilidade de alcançar o título mundial, algo que pode ser concretizado neste sábado, às 14h30min, novamente contra os ingleses do Liverpool.
Então você, leitor, se pergunta: qual o sentido de relacionar João Paulo e Jorge Jesus? A resposta tem início no Gauchão de 2007.
Após disputar seis jogos da Série A do Brasileiro pelo Juventude, em 2006, João Paulo fora contratado pelo Glória para o Estadual do ano seguinte. Ele era a esperança de gols da equipe de Vacaria, então treinada por José Luiz Plein, e com o polivalente Itaqui (Jesus Cleiton), o atacante Tiago Duarte e o meia Arílson em seu elenco. Apesar da campanha ruim e do rebaixamento do Leão, o centroavante cumpriu as expectativas e marcou oito gols na competição. Foram três contra o Gaúcho, mais três contra o Guarany de Bagé, um contra o Novo Hamburgo e outro diante do Inter.
Em 2007, Jesus estava em sua primeira temporada no comando do Belenenses, de Lisboa, na disputa do Campeonato Português. Na época, os Azuis do Restelo eram conhecidos como o clube dos brasileiros em Portugal. Rodrigo Alvim e Mancuso, com passagens pelo Caxias, e Júlio César, atual goleiro do Grêmio, eram alguns deles.
Grande admirador do futebol praticado no Brasil, o “Mister” queria um tom ainda mais verde e amarelo para a sua equipe. Assinante dos canais de TV portugueses que transmitiam jogos de equipes brasileiras, Jesus assistiu João Paulo abrir o placar para o Glória contra o Inter, no Estádio Beira-Rio, e procurou buscar mais informações sobre o centroavante.
– Ele sempre foi apaixonado pelo futebol brasileiro. Desde aquela época, assinava os canais que passavam os jogos do Brasil e acompanhou um jogo meu contra o Inter, que meses antes havia sido campeão mundial. Marquei um gol, chamei a atenção, e então ele buscou mais informações sobre mim e o Belenenses fez uma proposta. Quando acabou o Gauchão, fui para Portugal para realizar exames médicos, e, em junho, me apresentei na pré-temporada – conta João Paulo.
Quem intermediou a negociação foi o empresário Armindo Costa Aguiar, parceiro de Jorge Jesus, que esteve no Rio Grande do Sul para conversar com o centroavante. No Belenenses, João Paulo ficou um ano e meio. Depois de uma primeira temporada regular, com 23 jogos e cinco gols, inclusive atuando contra o Bayern de Munique, pela Copa da Uefa, no segundo ano ele foi emprestado ao Olhanense, da segunda divisão. A experiência de ser comandado por Jorge Jesus, no entanto, ficou marcada em sua história.
– Ele é hoje o que sempre foi. Tem gente que vê futebol e outros que enxergam. Ele é diferente, um aficionado. No Belenenses, não dava para brigar pelo campeonato, mas íamos no máximo de condição possível. E foi o que aconteceu, quando jogamos a Copa da Uefa (atual Liga Europa). Na época, lembro de brincar que ele deveria treinar uma equipe no Brasil, já que gostava tanto de brasileiros. Era brincadeira, mas de fato aconteceu – lembra o centroavante.
Além do atual jogador do Caxias, outros brasileiros também foram contratados na época, como Rafael Bastos (ex-meia do Juventude), Weldon, Evandro Paulista e Evandro Roncatto. Contudo, uma mudança na direção acabou promovendo modificações no clube de Lisboa e o técnico assinou com o Braga, onde foi finalista da Liga Europa, em 2009.
Como sugerido por João Paulo, Mister Jesus chegou ao Brasil em junho. No Flamengo, montou o esquema 4-4-2, com a dupla de ataque voltando a ser utilizada na elite do futebol brasileiro. Os movimentos atualmente feitos por Gabigol e Bruno Henrique já eram cobrados na época em que João Paulo atuava no Belenenses.
– Ele me cobrava coisas simples de movimentação e posicionamento. Era para eu me deslocar na direção do meia, puxar a marcação e abrir espaço para os pontas entrarem na área. Quando o meia tivesse com marcação sem pressão, era para eu fingir que ia fazer pivô e aparecer nas costas da defesa – disse João Paulo.