Mudanças exigem grandes capacidades de adaptação e algumas demandam uma força psicológica ainda maior. Laís Souza convive diariamente com essas imposições nos últimos cinco anos. Atleta desde os quatro anos de idade, ela teve sua carreira interrompida após um acidente nos treinos de esqui aéreo às vésperas das Olimpíadas de Inverno em 2014. Desde então, a ex-ginasta, de 30 anos, ficou tetraplégica e só tem os movimentos dos ombros e da cabeça. Isso não a faz desistir e agora ela compartilha sua nova realidade afim de inspirar um número cada vez maior de pessoas.
Nesta semana, Laís esteve em Caxias do Sul para um bate-papo, que ela considera ir além de uma palestra, no evento Os Maiores Pequenos Heróis. Nessa interação com o público caxiense, ela deu uma aula de vida e sobre sua nova rotina composta por longas sessões de fisioterapia e o sonho de recuperar os movimentos do seu corpo.
– (As palestras) Me ajudam muito a evoluir. Todos os trabalhos que já fiz, que tive esse tipo de encontro proporciona, são sempre muito enriquecedores. Novas histórias me dão gás. É muito legal. Eu não teria muitas possibilidades de emprego, mas dessa forma eu posso. Eu não estou parada, estou fazendo meu dinheiro também – ressaltou a palestrante.
Laís foi atleta olímpica de ginástica artística, medalhista em Pan-Americanos e em etapas de Mundial da modalidade. Conviveu desde os seus quatro anos com longas rotinas de treinamentos, que por vezes duravam oito horas, e passou por cerca de 17 cirurgias. Uma carreira curta e encerrada aos 23.
Porém, atletas precisam sempre de novos desafios e Laís se reencontrou no esqui aéreo. Numa evolução meteórica, ela conquistou uma classificação aos Jogos Olímpicos de Inverno 2014, realizado em Sochi, na Rússia. Nos últimos treinos para este evento, ela acabou tendo o acidente contra uma árvore. Interrompeu muitos sonhos e exigiu uma adaptação extremamente complicada. Da carreira como atleta, restou a força para nunca desistir.
– Hoje como a minha vida tem muitas regras, acho que o esporte me deu muita resistência e resiliência – relata a ex-atleta, que complementa:
– Não que eu esteja tirando de letra, é óbvio. Confesso que choro muitas vezes, tenho depressão, mas estou tentando fazer desse limão uma limonada.
A vida girou completamente, mas cinco anos depois, Laís é um exemplo. Atualmente ela estuda História na Universidade Estácio de Sá, sua única patrocinadora fixa, está morando na praia de Itaparica, no Espírito Santo e vai casar com Paula Alencar em janeiro de 2020. Laís encara a vida de frente, quer ter filhos e um futuro mais ameno. A ex-atleta quer mostrar um jeito diferente de ver o mundo.
– A gente tem que ficar mais alerta em como estamos tratando o próximo, como estamos falando, o que a gente está postando e como estamos gastando o nosso dinheiro. Não sei se porque estou sem meus movimentos agora, mas fico mais de olho. O que eu venho encarando e enxergando é de um ponto de vista diferente do que eu tinha quando estava caminhando – finaliza.