Quantas desculpas você já deu para justificar o sedentarismo? Por vezes, a rotina intensa e o cansaço são utilizados como escape para não praticar atividades físicas. Mas esse nunca foi o caso de Nelson Berti, 80 anos, e Luiz Pedro Bisol, 73. Integrantes da terceira idade, os dois têm a prática esportiva nas suas rotinas desde a infância.
No caso de Nelson, o primeiro amor foi o futebol. Antes mesmo de consolidar o ato de caminhar, ele já tinha na bola a sua grande parceira:
— Comecei com a bola de meia, porque não existia bola de futebol como temos hoje. Então, enchíamos uma bola de meia com lã e usávamos. Na época, tinha um ou dois anos. Então, caminhava um pouquinho, tropeçava, caía, levantava, sempre chutando bola.
Esse amor só aumentou com o passar dos anos. Nelson conta que quando se mudou de Jaquirana para Caxias do Sul começou a torcer pelo Juventude e, ao escolher o time, o apreço pelo futebol se potencializou.
Na rotina de Nelson o futebol de salão, ou futsal, como agora é chamado, tem data e horário reservados. Todas as quintas-feiras, às 19h30min, ele reúne-se com um grupo de amigos na quadra de esportes Geni Schneider, no bairro Panazzolo, para divertir-se. Veterano da equipe, ele serve de inspiração para os colegas.
— É o único que não precisa confirmar a presença, ele está sempre aí pronto para o jogo. É um exemplo para nós nesse sentido. Ele corre com a gente, deixa alguns mais jovens para trás. A gente sai cansado e ele sai novinho. Esse é o Berti que conhecemos — conta Jaime Vitor Piccoli, 56 anos, que joga junto com Nelson há cerca de 15.
Além do futsal, Nelson reserva outros dois dias da semana para ir à academia. Recentemente, ele também participou de uma excursão em que passou 13 dias caminhando. Junto com um grupo de 30 pessoas, fez o trecho da Suíça até a Itália.
No auge dos 80 anos, acredita que a prática esportiva colabora com sua saúde e aconselha todos a adquirirem esse hábito:
— Nunca é tarde para começar. Pratico esportes desde criança. Não tenho nenhuma doença, apenas problemas próprios da idade, mas nada grave. Então, posso dizer que o esporte faz bem para o corpo e para a cabeça.
"É uma maneira da gente prolongar a vida"
No caso de Luiz Pedro, o primeiro contato com o esporte também veio por meio do futebol. Herança do pai, Hilário Bisol, ele começou a praticá-lo aos 14 anos. As lembranças da época são tão prazerosas que Luiz Pedro guarda com carinho as fotos das competições que participou. Por problemas nos tendões, ele precisou se afastar dos campos. Apenas deles, porque, a partir disso, começou a se dedicar ao kickboxing e às corridas.
— Entrei nas corridas de rua em função de um convite dos meus professores de artes marciais, Adilson Facchin e Jorge Velho. Achei que o convite fosse em função das aulas de artes marciais, mas era uma rústica do Sindicato dos Metalúrgicos, em 2010, que foi a minha primeira corrida. Aí eu consegui uma medalha, peguei o gosto e não larguei mais — explica Luiz Pedro, sobre a transição.
Assim como no futebol, as artes marciais também tiveram que ficar de lado por problemas de saúde. No entanto, Luiz Pedro é confiante em relação ao retorno. Ele é faixa preta em kickboxing e, por isso, pode transmitir os ensinamentos às novas gerações, lecionando.
— Agora estou parado nas artes marciais, por pedido do médico. Ele não me liberou para isso, apenas para as corridas. Mas pretendo voltar para a academia e ajudar meu professor, dar aula e praticar o kickboxing também — conta o atleta.
Na marcenaria onde trabalha fazendo móveis sob medida, nos fundos de sua residência, em São Luiz da 6ª Légua, Tio Luiz, como é chamado pelos mais próximos, tem um cantinho especial. Ali estão mais de 200 medalhas, dezenas de troféus e centenas de fotos que contam a sua trajetória nas corridas. Esportista, ele é regrado na alimentação, evita bebida alcoólica, dorme cedo e frequenta a academia. Por tudo isso, fala com satisfação sobre a prática esportiva:
— O esporte ajuda na saúde, ajuda em tudo. Tive um problema de saúde recentemente e, se não fosse o esporte, acho que teria partido. Então, posso dizer que o esporte engrandece, é uma maneira da gente prolongar a vida.
Benefícios para a vida inteira
Em outubro, mês do idoso, histórias como essas servem de incentivo aos que ainda se distanciam dos exercícios. De acordo com o pneumologista e assessor técnico do Fátima Saúde, Luciano Bauer Grohs, a prática de atividades bem orientadas é extremamente benéfica:
— O exercício físico regular, numa intensidade apropriada, é indicado para o envelhecimento saudável. Mas é necessário que as pessoas passem por avaliação e tenham orientação apropriada na prática esportiva.
Especialistas apontam que o ideal seria que as pessoas possuíssem o hábito de praticar atividades físicas de duas a três vezes por semana, independentemente da idade. Conforme Grohs, isso previne problemas futuros, em diferentes níveis, seja no caso de doenças crônicas ou questões pulmonares, cardíacas ou até ortopédicas:
— O esporte faz bem para o corpo e para a cabeça.
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