Não é só futebol e jamais será. Além de um divertimento do mundo real e uma válvula de escape de nossas rotinas, o esporte é capaz de envolver sonhos, amor e paixão. Torcer para o clube do coração é muito particular. É um sentimento relacionado à história de cada indivíduo e a sua experiência emocional.
A devoção por um time proporciona memórias em família, histórias com amigos e alegrias inenarráveis. Os sentimentos transcendem o amor à camisa. Por isso, podemos afirmar que não é só futebol. Albino Boss, torcedor do Caxias, é a personificação de tudo que envolve este esporte.
Aos 73 anos, ele sofreu um infarto na segunda-feira (29) que antecedeu a estreia do Caxias na Série D do Campeonato Brasileiro, a vitória sobre São Caetano por 1 a 0. Mesmo assim, em nenhum momento ele cogitou a possibilidade de faltar à partida de abertura da competição.
— Nunca faltei a um jogo do Caxias. Eu vou sair daqui para ir à partida. Não perco de jeito nenhum — disse Albino aos médicos e familiares, ainda no hospital.
Durante a semana passada, Albino foi internado devido a um infarto agudo do miocárdio e passou pelo processo de cateterismo cardíaco. Após três dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e outros dois no quarto do hospital, ele se recuperou e recebeu o aval do cardiologista Doutor Rodrigo Paiva para acompanhar o seu time do coração.
— Eu cheguei e disse para o Doutor (Rodrigo Paiva) que queria ir ao jogo do Caxias. Ele disse que iria me autorizar. Assisti junto à diretoria nos camarotes. Minha família não queria deixar, mas o Doutor me liberou — afirmou.
Albino é apaixonado pelo Caxias. No entanto, a família vem sempre em primeiro lugar. Marido de Beloni Kuse Boss, pai de Ana Paula e Roberta, avô do Augusto Henrique, 13 anos, Débora Luiza, 18, e um terceiro está para chegar.
— Primeiro vem a minha família, segundo o Caxias. Sempre foi assim. Estou tentando fazer meus netos grenás como eu (risos). Meu amor pelo clube é até difícil de definir. É algo extraordinário. No Caxias me sinto bem e à vontade. Sempre fui bem tratado pela diretoria, sócios, amigos — lembrou o Albino.
Ligação emotiva e amizades
O seu Albino é um exemplo personificado de que essa ligação com o futebol ultrapassa em diversos momentos o relacionamento afetivo. Portanto, não se limita ao fato de ter escolhido um time para torcer. É algo muito maior. Mesmo passando por um problema de saúde, ele teve forças para se recuperar e acompanhar de perto o time que torce e vibra.
— Eu sempre fui Caxias fanático e continuo sendo. Já perdi a conta de quantos anos, mas certamente mais de 40. Sempre fui Caxias de coração. Não perco nenhum jogo. Pode chover ou não, eu estou aqui no Centenário, com certeza. Esse estádio é a minha segunda casa. O jogo que tiver aqui, estarei assistindo. O coração está tranquilo, o coração Caxias está funcionando — brinca Albino.
Esta ligação emotiva também passa pelas amizades criadas através do clube. A cada jogo, o círculo de amigos se encontra para assistir o time do coração. Aliás, seu Albino tem um amor especial pelo Caxias e pelos companheiros. Menegotto é o parceiro de arquibancada, os dois seguem juntos até o Centenário. Um certo ritual em dias que o time se apresenta em casa.
— É algo extraordinário, tenho muitos amigos ali. Tem um em especial, que é ele que me traz. Meu amigo Menegotto. Todos os jogos eu e ele viemos juntos. É uma parceria de muitos anos — lembrou.
Essa amizade é apenas um exemplo para quem frequenta há tanto tempo o clube grená, desde os tempos de Baixada Rubra (nome do estádio antes de ser construído o Centenário, em 1976). Seu Albino é um colecionador de amigos, de histórias e incontáveis emoções, como ver o amigo de infância, Marchioro, ser campeão do Interior no Gauchão de 1969 pelo seu clube do coração.
Seu Albino é o significado claro de que não é só futebol. É algo infinitamente maior.