Em menos de um minuto de conversa já é possível notar que Jaine Fragoso, de 20 anos, é determinada, articulada e está focada no seu objetivo: ser lutadora profissional de jiu-jitsu. Há três anos na modalidade, a jovem está em franca ascensão e planeja seus próximos passos.
O primeiro é o Grand Slam da UAE Jiu-Jitsu Federation (Organização dos Emirados Árabes Unidos), no Rio de Janeiro, que ocorre neste fim de semana. Ela lutará no peso pena (até 55kg). O Canal Combate transmite as finais domingo, às 15h. O evento conta pontos para o ranking da organização que fará a Copa do Mundo em abril do próximo ano, em Abu Dhabi.
O segundo é a disputa do mundial de federações, que será em Malmö, na Suécia, de 23 a 25 de novembro. Ela será a única brasileira neste evento, que também é promovido pela organização do Oriente Médio. São dois momentos importantes para a realização do seu sonho.
— Estou trabalhando todos os dias para conseguir ser uma atleta profissional e futuramente estar vivendo só do jiu-jitsu. É para isso que estou batalhando todos os meses, lutando campeonatos e agora terei o meu primeiro com nível mundial — afirma Jaine.
A rotina não é fácil, mas ela mostra uma determinação muito alta. Além dos trabalhos técnicos, que ocorrem duas ou três vezes por dia, ela é professora de treinos funcionais e ainda estuda educação física. Para o Grand Slam do Rio, Jaine precisou perder quase 10kg. Um teste tão pesado quanto as lutas.
— Na perda de peso, tive que fazer muito cardio (treino de alta intensidade aeróbica) em jejum. Levantava às 4h e meia hora depois estava na academia. Vinha dar aula, saía daqui para treinar, ia para a faculdade e depois treinava de novo. Quem quer dá um jeito. Vai ter que dormir duas horas? Beleza. É o preço a pagar — destaca.
Logo depois do evento no Rio, ela embarca para a Suécia, onde participará do mundial de federações. A competição não é por ranking e sim por convites – cada país tem dois atletas, um homem e uma mulher. Representante da UAE Jiu-Jitsu Federation no Brasil, Elias Eberhardt, conhece Jaine desde a sua primeira competição e vinha buscando uma forma de ajudar a jovem com algo maior para sua carreira. Há um mês veio esse convite.
— Ele disse que eu estava numa ascensão, lutando muito bem e me convidou para representar o Brasil. Vou com tudo custeado, apenas indo para lutar. Ele me selecionou por estar sempre disputando os campeonatos da UAE e conseguindo resultados — explica a jovem.
Chegou a hora de mostrar serviço. Dois grandes eventos em 10 dias, onde determinação e foco não faltam.
— A gente nunca subestima ninguém, porque pode chegar lá (na Suécia) e a menina ser muito melhor. Só que o jiu-jitsu brasileiro é muito evoluído. Tem que trabalhar com o psicológico. Então, ou elas são iguais ou eu sou melhor. Se já for com receio de serem melhores, mais fortes, de ter lutado no fim de semana, esquece. Lutei semana passada, zerou. Agora tem que ir em busca do próximo — finaliza Jaine.
Uma vida ligada ao esporte
Jaine conheceu o jiu-jitsu há três anos e já coleciona troféus e medalhas. Se tem um responsável por isso, além do próprio talento, é o irmão Edmilson. Ele incentivou a caxiense, ainda com 12 anos, a praticar muay thai para aprender a defesa pessoal. Depois, foi ele quem a levou para a luta de chão. Na sequência, foi Jaine quem trilhou seu própio caminho.
– Eu amo desafios. Me convidaram para disputar o campeonato gaúcho um mês depois que comecei a treinar. Passei a lutar, gostei da experiência e decidi me desafiar a ser campeã. A dedicação aumentou, de um treino por dia passou para dois e depois três. O nível aumentou e comecei a ganhar. Aí tu vê o retorno, acaba gostando da sensação e da adrenalina – conta Jaine.
Tudo se encaminhou e hoje ela está próxima da faixa roxa. Lógico que os resultados aumentaram o staff – são dois técnicos, Mateus Bernardi e Luan Rodrigues, além do preparador físico Germano de Camillis. Mas outra característica marcante em Jaine é o planejamento de vida.
– Quero ser campeã mundial, quero ter a minha equipe e a minha academia. Mas tem que saber dividir as coisas. Para ser um bom professor, tem que saber como é ser atleta, porque eu vou ter meus alunos e tenho que entender eles. Quero viver minha carreira como atleta, atingir todos os meus objetivos na branca, na azul, na marrom e na preta. Bom, depois quero ser professora e formar atletas, formar campeões mundiais. Aí sim irei abrir a minha equipe – detalha Jaine.
Pela determinação e pelo foco, esse planejamento tem tudo para acontecer.